Haviam festas por toda a cidade como em todo festival de flores.
Gemma a tinha contado aquilo, que era um costume adquirido de outra cor, um evento anual de quando as flores eternas desabrochavam, roxo e rosa coloriam toda a cidade e as vestes das pessoas e assim continuaria por uma semana, era permitido apenas às fêmeas colherem uma única flor, crianças juntavam para vender, algumas fêmeas as ofereciam aos seus amados, outras faziam chás que diziam ser os mais saborosos que haviam no mundo, capazes de curar doenças, mas não todas, Elari sabia pois Ed tinha tomado aquele chá, melhorou, porém nem de longe foi curado.
O Palácio de Madeira também estava decorado, mas a comemoração seria outra, apesar de usar as mesmas cores do festival não usava os vasos de flores nem as cordas pintadas, mas faixas ornamentadas com prateado e preto. Ali ocorreria a conversão de catorze e o laço de dois, talvez de quatro pela forma como Jasti e o espadachim andavam, aparentemente ele só aguardava a conversão. A história dos dois era complicada, repleta de pedras e espinhos, Elari não conseguia imaginar se suportaria o mesmo que eles, provavelmente teria ruído bem antes, mas eles brilhavam como as estrelas naquele céu enquanto os jovens andavam pelas ruas de rocha branca de Incantalar. Ela se perderia ali se não fosse por Gemma, a ruiva os guiava como se aquela fosse a própria terra, porém ela confidenciou a Elari que já havia se perdido por quase todas as ruas e por isso as conhecia tão bem, em uma foi enquanto escapulia antes da conversão para ver o festival, outra foi a que o mestre Ertowa a encontrou depois de uma briga.
Aquele lugar vibrava vida e ainda a fazia se sentir minúscula, Craz falou em um tom sério ao ver a jovem olhando para cima, vendo as minúsculas e inúmeras estrelas brilhando através da copa distante, nem mesmo as gigantes as alcançavam.
- Essas árvores nos ajudam a lembrar que por mais que possamos viver tanto quanto elas, jamais seremos os maiores.
Pequenos e sem escolhas, era isso que seu povo acreditava, que as estrelas escolhiam seus destinos e árvores eram maiores que eles, força não importava. Logo depois escutou o chamado de Tharna, a garota agitava os braços e depois colocava as mãos do lado da boca para que seu chamado a alcançasse, ela escutou e virou as costas para a árvore, mas não importava para onde ia, sempre estaria à sombra dela.
Dois dias depois a cidade ficou mais quieta, todos se preparavam para o evento da noite, fogueiras eram acessas e os espiritualistas jogavam seu pó nelas para que ficassem da cor do evento, algumas róseas outras roxas e tudo brilhava em uma só cor.
Mas Elari vestia preto, assim como Jasti, os demais usavam vermelho, cada um com sua adaga na mão. O rei também vestia preto, assim como Kah Sung. As conversões de Elari e Jasti não seriam como a dos demais, eles iriam tomar da poção e sangue ao redor de uma fogueira, elas duas... seria mais privado, mas iam presenciar a dos colegas. O sol estava se pondo e ela já estava pronta, apenas aguardava a hora, o quarto que lhe foi designado era bem mais simples que o outro, mas ainda parecia ter mais beleza, talvez fosse porque o inverno acabou ou por ser de madeira, mas também era mais quente, um conforto. Da janela ela podia ver o sol brilhando atrás da copa das árvores, no alto de alguma das montanhas que eram vizinhas à Incantalar. Um dia haviam lhe dito o nome delas, mas não lembrava mais. Da outra janela podia ver as duas luas, com uma única estrela brilhando entre elas, ainda próximas, mas não muito.- Você está linda.
Ela se virou e viu seu prometido, ele caminhava para ela lentamente, os olhos prateados mantinham-se atentos a cada detalhe, ela esperou que ele chegasse a ela, cada passo uma eternidade e ainda repleto de mistério.
- Não posso dizer que concordo, preto não é muito a minha cor.
- Agora é.
Ele a alcançou e tocou seus ombros, desnudos devido ao vestido que tinha apenas a gola alta, depois tocou o pescoço, mesmo sob o tecido sentia o calor dele.
- Isso terá que sair quando for a hora.
- Como será para mim? Meus olhos terão a mesma cor dos seus ou ficarão como o do rei?
Ele lançou o olhar para o dela, levou um tempo, uma respiração profunda, para responder.
- Normalmente ficam negros, eu fui o primeiro a ter essa cor, talvez os seus também fiquem, ou talvez nem mudem. Eu gostaria mais que o último ocorresse.
Ela sorriu, havia algo nas palavras dele que a fazia se sentir especial, se sentir forte como ela era, sem precisar de qualquer mudança ou conversão.
Ele acariciou o rosto dela então se afastou, ela não gostou daquela interrupção, era como se estivessem lhe arrancando um pedaço.- Eu soube que recebeu um presente do rei.
Ele foi direto para a cômoda onde a coroa estava, suas mãos a alcançaram e ergueram para que seus olhos pudessem analisar de perto.
- Pertenceu a uma rainha...
- Aquela que governou o povo dos céus estando na terra. - ele se virou para ela - era uma história que ele gostava de contar.
- Ela realmente existiu?
Ele respondeu enquanto ainda observava cada detalhe do metal.
- Acredito que sim, tínhamos uma cor assim, que podia voar. Os roxos. Mas há algo que ele não deve ter contado, antes de ser uma rainha ela foi uma condessa, o povo tinha uma tradição um tanto diferente para escolher seus monarcas.
Ela se aproximou dele, Kah Sung se virou, a coroa ainda nas mãos.
- E uma cor foi perdida.
- Mas não por ela, ela foi a maior rainha que tiveram e você também será.
Ele repousou o metal sobre a cabeça dela e com o último brilho do sol, ela refletiu luz pelo cômodo.
O que ele prometia com aquele gesto, todas as palavras não ditas e ainda, entre eles.- Pensei que receberia apenas após a cerimônia.
- Você já é minha muito antes de qualquer um de nós existir.
- Destinados pelas estrelas.
Ele a envolveu com seus braços.
- Nesta noite selaremos esse destino com o nosso sangue.
Ela teria tremido antes, teria gritado e chorado, se encolhido junto ao chão e esperado pelo calor de Kath, mas agora sabia que não precisava temer pois sempre teria o calor dele, pela eternidade.
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Os Eternos
FantasyO que fazer quando seu destino é se tornar aquilo que mais teme? A vida de Elari é regida pelo medo, medo dos seus iguais, dos vizinhos, dos irmãos e parentes e, temendo seu destino cruel de se tornar um deles, um monstro, ela se vê dividida entre d...