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Ela tinha dito a verdade.

Elari odiou cada curva daquela letra caprichada do Senhor Negro.

Honrar? Não estava nem um pouco honrada em ser isolada de qualquer consolo ou nova amizade. Queria rasgar e pisar e cuspir naquele pedaço de papel. No que ele representava, no que aquele tratamento diferenciado estava motivado.

Não tinha deixado de fugir para as terras humanas para se tornar moeda de troca. Deveria ter pensado que isso podia, ia acontecer. Ela riu do quão tolo havia sido por escutar Steve. E falando nele, já batia na porta.
Elari soltou a bainha da camisola que estava usando cobrindo a perna enfaixada e limpa, cuidada mas ardendo, e mancou até uma cadeira jogando o papel que em breve receberia punição sobre a mesa.

- Está aberta.

A porta se abriu e Steve entrou não mais com uma cara de sermão, mas de amigo preocupado.

- Desculpe por mais cedo, eu só estava preocupado com você, não vou ter como te proteger quando for para o campo e eu apenas queria que você fosse capaz-

- Você não sabe?

Ele se aproximou.

- Do quê?

Elari juntou as mãos sobre a barriga, o tônico que o curandeiro havia lhe entregue parecia uma fornalha em seu estômago, e se concentrou em manter o rosto neutro.

- "Elari Arostoth Varhalarom e Jasti Marest Borafeu receberam a honra de serem requisitadas pela Conselheira Real, Ruilara Golynda, para completa educação e formação para conversão no Palácio sobre Rocha e blá blá...".

Steve ficou parado por alguns segundos e Elari sabia que ele estava apenas absorvendo o que ela tinha dito.

- Estamos recebendo tratamento especial, Steve, e vamos ficar. Só porque somos fêmeas.

Ele piscou e pegou o papel sobre a mesa assim que o viu e notou que era exatamente o comunicado que ela tinha recitado. Elari continuou seu discurso pensado naquele exato instante, não seria sutil, não precisava porque ele era Steve.

- Você sabe o que vai acontecer? Vamos ser as queridas joias da nobreza esperadas há décadas e as senhoras irão nos mimar e procurar para sermos suas filhas. Vão pedir por casamento e por netos, filhos de Hetar. - Ela deu uma pausa longa o suficiente apenas para ele terminar de ler e a olhar nos olhos. - Eu não vou treinar para servir para o exército como todas as fêmeas eternas teem feito desde a guerra contra o grande continente. Não, eu vou ficar bem aqui, por ser preciosa demais, rara demais, e vou ter que me casar com algum idiota quem nem vai saber meu nome ou que eu não vou suportar olhar nos olhos...

- Elari...

Ela bateu com força na mesa, a mão protestou em dor logo em seguida, ótimo, mais uma pra coleção.

- Por que você me convenceu a ficar? Não, espere. Como foi mesmo que me convenceu? Usando Kath, não foi mesmo? Bom, se tudo for de acordo com os planos desse maldito Senhor e desse Conselho desgraçado, eu provavelmente nunca vou ver minha irmã por estar ocupada demais gerando os próximos puros do Reino.

- Sabe que não tenho culpa disso, Elari, eu não sabia que estavam tão desesperados.

- Mas podia imaginar! - Ela diminuiu o tom - Merda, Steve, podia ter imaginado! Por que você foi atrás de mim naquela noite?

Ela estava ao ponto de chorar, mas não o faria de novo na frente dele. Steve contornou a mesa e tentou toca-la, mas ela empurrou sua mão.

- Eu não podia deixar que seguisse o caminho sem nenhuma chance de ser feliz. Você sabe que se fosse para aquele deserto morreria logo, em meses considerando o que é, e nunca teria a menor chance de encontrar sua irmã ou qualquer felicidade. Na melhor das hipóteses chegaria viva a um vilarejo humano e definharia lentamente em silêncio. Aqui, - Ele buscou sua mão novamente e quando foi afastado pôs as duas mãos nos braços da cadeira como se a emcurralasse - aqui você tem uma chance, mesmo que pequena.

Os EternosOnde histórias criam vida. Descubra agora