(*)capítulo revisado
Ela tinha que ser tão... ter tantos... um medo?
Por que justo a própria espécie e sendo exatamente daquelas cores?
Ele tinha recebido as cartas da espiritualista. Uma para ele e outra para Kah Sung. Preto e roxo... Ele não podia acreditar naquilo. Não podia deixar que aquilo acabasse com tudo, todos os seus planos. Ele quase destruiu as cartas, quase as jogou na lareira enquanto conversava com Edone antes de iniciarem a vigília, mas não adiantaria. Eles derramariam o sangue dela novamente e descobririam que ela tinha duas cores.
Steve socou a parede mais uma vez, abrindo uma pequena cratera na rocha. Sua mão sangrou, ele não limpou a sujeira, mesmo sabendo que aquilo podia infeccionar, ele não se importava, estaria bem em breve de qualquer jeito.
Maldição. Elari tinha perdido a confiança em tanto... Quase tinha se colocado em risco. Se fosse para as terras dos humanos podia morrer. Ela entenderia quando fosse para a Capital. Ela veria, assim como ele tinha visto, a natureza dos vermelhos com os próprios olhos. Mas... se para superar esse trauma dela ele precisasse perde-la, um preço tão alto.
Nunca poderia...Ele passou a mão pelos cabelos os deixando sujos. Poderia fazer aquilo, assim ao menos não a perderia para a morte. Poderia vê-la pela eternidade e ainda ser seu amigo, estar ao seu lado. Agora era grato à sua cor, era grato por ter o infinito para ficar com ela, mas se sentia mal por isso, ela veria a mãe e o irmão morrerem antes, talvez a irmã que tanto amava. Teria apenas ele e o pai a acompanhando. Esperava que fosse suficiente.
A porta da taverna se abriu e o barulho de dentro se fez mais audível. Um homem saiu gritando, claramente bêbado. As comemorações dos testes do dia tinham durado até aquele momento, a família Keola era grande, ele mesmo conhecia alguns. O bêbado cambaleou pela rua e se virou para o beco onde Steve estava. O olhar dos dois se encontrou. Azul e vermelho se entenderam. Nenhum dos dois comemorava aqueles resultados. Ambos tinham uma carranca e queriam expelir a raiva. Steve não gostou daquela empatia.
Então ele correu. Como vento ele saiu dali e voltou para a casa onde as únicas pessoas com quem se importava estavam.
Edone ainda estava acordado quando o amigo entrou em seu quarto, Steve não tinha uma boa expressão no rosto então ele já começou a imaginar o pior e a se levantava para partir em busca de Elari, lutar e força-la se preciso.
- O que aconteceu?
O peito de Steve subia e descia como se estivesse pesado. Ed percebeu o punho fechado e sujo do amigo, assim como seus cabelos. Deu um passo na direção dele e Steve pareceu despertar de algum tipo de transe.
- Ela vai ficar. Até amanhã.
Alívio e aflição o atingiram um após o outro.
- Até amanhã?
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Os Eternos
FantasyO que fazer quando seu destino é se tornar aquilo que mais teme? A vida de Elari é regida pelo medo, medo dos seus iguais, dos vizinhos, dos irmãos e parentes e, temendo seu destino cruel de se tornar um deles, um monstro, ela se vê dividida entre d...