Kah Sung estava ali.
E assim como ela, paralisado e surpreso pela companhia inesperada.
- O que está fazendo aqui?
A rispidez do tom dele a fez esquecer tudo e ficar irritada, quem ele pensa que é? Só por ser o senhor ele não podia falar com ela daquele jeito.
- É a milésima vez que me pergunta isso com esse tom.
Ele a observou de cima a baixo, parando por mais tempo no livro que tinha nas mãos, e pareceu tentar relaxar mais ao dar um passo em sua direção.
- Veio ler?
- É uma biblioteca e eu não sou analfabeta se é o que pensou.
Ele e Jasti realmente se mereciam.
O coração de Elari pesou com aquele nome, culpa esfriando sua raiva.- Não pensei. Sei que é dotada de conhecimentos, já a escutei tocar, apesar de não ser tão boa, é melhor que a outra.
Ela controlou a vontade de rolar os olhos.
- Deve ser exímio músico para me criticar. Derok diz que sou muito boa.
Não iria deixar que ele a diminuísse e se Derok era tudo que dizia, seu elogio iria elevar mais a habilidade dela, ao menos ante aquele crítico idiota.
- Na verdade, ele também foi meu tutor, e ele disse que eu fui o melhor aprendiz dele.
Elari o viu inflar o peito e decidiu não perder aquela competição.
- Exatamente, foi. Ele nos ensina a apenas três semanas e já fui elogiada, prepare-se para ser superado.
- Impossível.
- Não existe isso.
Ele estreitou o olhar e ela também, teve que erguer o queixo para não se rebaixar a o olhar como se fosse um gigante, mas conseguiu sustentar.
- Vou lhe mostrar.
E ele agarrou sua mão livre a puxando para fora da biblioteca.
- Ei! Para onde pensa que está me arrastando?
Ele não a olhou para responder.
- Sala de música.
E em poucos segundos estavam quase lá, Elari fincou os pés no chão e puxou o pulso, conseguindo se desvencilhar dele.
- Não sou um pacote para você arrastar e não sou obrigada a escutar você se provar.
Não importava o seu nível de confiança, ela sabia que se ele já tinha sido aprendiz de Derok, sabia tocar mais que ela, apesar de seu empenho e grande avanço, ainda era apenas uma iniciante e não pretendia perder.
Ele se virou.- Se não quer o piano, então será o violino.
Antes que ela protestasse ele estava com um violino nas mãos que havia surgido do meio das sombras. Por diversos segundos ela se esqueceu de quem ele era e do que podia fazer, o príncipe mais poderoso da história, com todas as habilidades que um negro poderia ter, o futuro rei, e os dois estavam competindo por elogios de um tutor.
Ele posicionou o arco e no meio do corredor começou a tocar, Elari quase não notou a música, estava assustada demais com a noção que finalmente tinha lhe caído, ela era louca por falar com ele daquele jeito, com alguém que não precisava nem de meio pensamento para a matar, alguém mais perigoso que qualquer Salyu e ainda assim, o único quente...- Percebeu?
Ela piscou, apenas vagas lembranças dos tons lhe ocorriam e ela sabia que ele era infinitamente melhor que ela.
- Se não, toque para mim.
Ele estendeu o violino e o arco para ela, o livro ainda em sua mão foi tomado por ele assim que ela segurou os instrumentos, estava em um estado de vazio, a mente parecia incapaz de pensar. Onde mesmo que ela tinha que pegar? Como se tocava aquilo?
- Admite sua derrota? - ele se inclinou na sua direção ficando a um fio de cabelo de distância - Percebe quem eu sou agora?
Um calafrio percorreu sua espinha e quando ele inspirou seu olhar mudou.
- Está com medo de mim?
Ela deu um passo para trás e ele a acompanhou.
- Faz bem em ter medo, deve tomar muito... - aquele olhar dele mudou mais uma vez, os olhos cinza brilhando como os do groule - ... cuidado comigo.
Eles deram mais um passo e ele se inclinou mais, a boca a milímetros do pescoço exposto.
- Eu mordo, Elari.
A forma como ele disse seu nome a fez estremecer de medo.
Respirar, ela precisava lembrar de fazer aquilo.
Ele se aproximou mais e agora as mãos dela tocavam o tórax dele, o violino e o arco ainda nas mãos, o calor dele atravessou o tecido para ela, a mente ainda era um vazio, mas uma constatação saiu por sua boca.
- Você é quente.
Aquelas palavras o fez parar de a inspirar e a olhar nos olhos, por infinitos segundos ele a olhou com curiosidade, aquele brilho se apagando e sendo substituído por outro, ele pousou as mãos sobre seus ombros, descendo lentamente até as mãos, o calor dele atravessando o tecido da blusa branca, quando tocou os instrumentos eles sumiram e ele segurou as mãos dela. Quando olhou para baixo e viu aquilo ela se maravilhou, realmente não eram frias, realmente não pareciam as mãos de um monstro.
- Quem é você?
Não era a primeira vez que ele a perguntava aquilo, ao tornar a ver seu rosto ela também questionou.
- Quem é você?
Ele abriu a boca, mas se impediu de falar ao escutar.
- Senhorita Elari?
Então as mãos dela estavam vazias e ele já não estava mais na sua frente. Marjeana surgiu da curva no corredor.
- Graças aos deuses! Já é quase meia noite e você também não apareceu no quarto, temi que como a senhorita Marest, estivesse na ala dos curandeiros, mas quando fui lá não a vi, não sabe o que fez com meu fraco coração!
Elari olhou ao redor se questionando se aquilo não havia sido um delírio seu, o livro que tinha pego não estava mais ali. Talvez ela estivesse realmente ficando louca ao ponto de ver um príncipe fantasma.
- Vamos logo! Você ainda precisa banhar.
- Só um instante. - Elari seguiu pelo caminho de onde Marjeana havia vindo, oposto à direção do quarto.
- Onde vai?
- À biblioteca.
E um pouco alta, ela foi até a estante e procurou pelo livro três vezes até concluir que tudo realmente tinha acontecido e agora seu livro de estudos estava com ele. Elari sentou sobre os tornozelos e segurou a cabeça.
- Senhorita?
Marjeana estava com aquele olhar que a dizia que parecia uma louca, o mesmo que usava sempre que não estava desesperada de culpa por alguns dos machucados de sua senhorita.
- Estou bem. Vamos.
Ela seguiu para a saída.
- Tem certeza, posso falar com o curandeiro para...
- Vamos, Marjeana.
Elari a lançou um olhar sério e assim a empregada o ficou indo atrás dela e depois à frente para esquentar a água do banho que Elari tomou lentamente, até que a água estivesse gelada e apesar da limpeza no corpo, muitos sentimentos turvavam sua mente.
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Os Eternos
FantasyO que fazer quando seu destino é se tornar aquilo que mais teme? A vida de Elari é regida pelo medo, medo dos seus iguais, dos vizinhos, dos irmãos e parentes e, temendo seu destino cruel de se tornar um deles, um monstro, ela se vê dividida entre d...