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Com o vestido rasgado e mais vergonha adicionada à lista de coisas irritantes que aconteciam naquela noite Elari já tinha passado do ponto de explosão e estava mais para o de destruição.

Haviam ocorrido emoções demais naquele dia, demais. E ter ido ver Jasti havia sido um erro, aquela garota era mesmo impossível e horrível e irritante e uma canalha.

Quando ela entrou na ala dos curandeiros que enfrentou aquele risinho debochado de Jasti e disse que não tinha levado nada ela simplesmente ignorou Elari e começou a pentear os cachos que pareciam sem cor.

- Não vai pedir desculpas?

- Eu não vim pedir desculpas, Jasti.

A escândalo parou e se voltou para ela repentinamente.

- Se não veio implorar por meu perdão, o que está fazendo aqui?

- Eu... - precisava ver com os próprios olhos se estava viva - Não sei.

Jasti deu aquele risinho mais uma vez.

- Eu sei. Você veio ver o estrago que fez. Veio ver o resultado do seu belo trabalho. E para que? Para se vangloriar e ser a maldita sádica que é.

Realmente, o estrago no rosto de Jasti ainda era grande, a maior parte já tinha melhorado, mas quase todo o rosto dela tinha um tom esverdeado, o lábio inferior estava cortado e o pescoço estava enfaixado. O que ela tinha feito?

- Aceite, essa é você. Não é muito melhor que o monstro que acha que sou. E quando for dormir espero o pedacinho de consciência que tiver a torture e corroa.

Elari apertou os punhos e se virou. Ela estava errada, ela era quem tinha a provocado, ela mereceu aquilo e merecia mais.

- Isso. Tente fugir, quando a verdade a alcançar vai ser mais doloroso.

Elari saiu de lá antes que começasse a acreditar nas palavras de Jasti.
Por um bom tempo ela simplesmente vagou resmungando sem rumo, até que passou por aquelas portas conhecidas e decidiu que usar um pouco o corpo a faria se sentir melhor e encontrou Gemma ali, com Cassien.
O rosto da jovem ruborizou mais uma vez com a lembrança dele observando quando ela rasgou o vestido, não havia sido intencional e ela usava uma calça por baixo, devido ao frio, mas ainda era vergonhoso.

- Apenas mais um pouco.

Gemma acenou tomando a posição inicial mais uma vez. Ela precisava se concentrar ou apenas apanharia novamente. Inspirou fundo e desta vez usou a pose de Jasti, ela era mais alta ali e tinha a mesma vantagem da escândalo e, tinha que admitir, a loira tinha uma boa técnica. Então ela se preparou, os punhos para a frente, o cotovelo direito mais para cima e retraído. Quando Gemma deu indício de avançar Elari golpeou, não com os punhos, mas com o pé direito, o rasgo do vestido se abriu mais e ela sentiu o choque, Gemma deslizou um pouco para a esquerda e depois sorriu para Elari.

- Muito bem.

A miren tinha defendido com um braço e segurou o tornozelo de Elari com a mão direita, mas usou a velocidade que superava qualquer capacidade de Elari que sorria satisfeita com o elogio da companheira.

- Você melhorou muito se já consegue me fazer sair do controlado na segunda tentativa. Se está assim antes da conversão, tenho medo do que poderá fazer depois.

O sorriso dela se desfez, a conversão. Ela já não tinha mais certeza daquilo, ou de qualquer outra coisa, mesmo com aquele sonho bobo e infantil.
Gemma a soltou e apertou o ombro dela.

- Vamos, eu a levo para o seu quarto.

Um agradecimento silencioso fluiu entre elas e Elari começou a sentir o frio cortante com a ausência da adrenalina e empolgação.
As duas seguiram pelo caminho encontrando uma Marjeana confusa próximo ao destino final, al que parece ela não esperava pelo retorno breve de Elari.

As duas seguiram pelo caminho encontrando uma Marjeana confusa próximo ao destino final, al que parece ela não esperava pelo retorno breve de Elari

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Na manhã seguinte Elari fez o desjejum sozinha e Ruilara a convocou logo depois.

Marjeana a guiou até a área do Palácio designada aos guardas, Ruilara estava numa sala que devia ser para reuniões entre os patenteados e o capitão, a insígnia dos guardas reais estava incrustada na rocha atrás da mesa menor que ficava à cabeceira de uma maior e comprida com vários lugares de ambos os lados.
A dama branca dos negros a olhou de cima e colocou alguns papéis sobre a mesa menor.

- Estou a liberando dos meus ensinamentos.

Elari demorou para processar aquela informação e antes que o fizesse a conselheira continuou.

- Você irá continuar sob os cuidados de Derok até que ele a libere também, mas será apenas ele. Está permitida a treinar com os guardas e recomendo que o faça. Sua conversão deverá ser feita ao fim do inverno.

- Não é muito cedo?

Ela estreitou o olhar e Elari engoliu em seco, nunca a tinha visto tão ameaçadora ou impiedosa, mesmo quando havia sido rígida antes.

- Questiona meu julgamento?

- Não.

O uniforme branco dela estava diferente, mais formal, como se ela mesma fosse participar de uma reunião, nada de armadura.

- Derok definirá os horários, recomendo que o procure o quanto antes.

Elari colocou a mão esquerda sobre o peito, o polegar segurando o anelar, a sensação pesada de autoridade a tinha levado a fazer aquele cumprimento, então saiu.

Ela encontrou Derok com uma facilidade surpreendente, mas o tutor a liberou naquele dia, então ela se viu sem ocupações. Fosse uma amante dos livros teria seguido para a biblioteca, mas nada ali a atraía, então decidiu procurar por Gemma e pedir por mais um tempo de treino.

No salão os guardas já haviam terminado seus treinos matinais e apenas alguns remanescentes permaneciam, Elari seguiu para a mesa e pegou uma aljava cheia e arco, não iria ficar ali com tantos salyu por perto, uma coisa era passar por eles, outra era permanecer no mesmo ambiente. Então ela avançou para o gramado recoberto por neve e seguiu para o limiar com o bosque, avançou mais um pouco e escolheu uma árvore, usou uma pedra para marcar um alvo e começou.

Àquela altura já consegui a acertar facilmente a árvore, mas o alvo em si, de dez tentativas, apenas duas estiveram bem próximas e uma êxito.
Enquanto recolhia as flechas as puxando do tronco não é fazendo bolos de neve cair dos galhos retorcidos e secos ela pensou como aquela árvore estava como ela, sendo alvejada por flechas e sem vida, uma simples existência para satisfazer aos outros, apenas por ter alguma utilidade, fosse um alvo, ou por ser hetar.

Em meio aos devagares ela não percebeu que alguém se aproximava, que essa pessoa havia chegado ali em meio a escuridão e sem deixar pegadas atrás de si.
Ao se virar e ver aquela figura sombria que era como uma massa sólida de escuridão ela se assustou soltando um grito e deixando todas as flechas caírem, a massa avançou e ela entrou em pânico até reconhecer o rosto, até que as mãos quentes segurasse as suas que tremiam, mesmo através do tecido grosso das luvas sentia o calor dele irradiar para ela.

- Calma.

Kah Sung falava em um tom baixo e tranquilizante enquanto lentamente a puxava para si, ela estava praticamente colada a ele quando se lembrou da noite anterior, do que tinha feito e como havia terminado tudo e o empurrou.

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