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Balança. Ondula. Sobe e desce. Vomita. Dorme. Vomita.

O ritmo de Elari era quase admirável, Ed acariciava as costas dela sempre que estava encurvada para um balde ou pela borda do barco enquanto colocava a pouca refeição ou apenas água para fora e não há muitos metros, a jovem de cachos dourados fazia o mesmo, elas estavam quase sempre em perfeita sincronia, as únicas a passar por isso.

- Vocês não vieram de ilhas?

Uma garota pequena, de pele da cor da madeira do barco e olhos astutos, perguntou em tom elevado para Elari enquanto ela colocava o jantar para fora.

- Ela não saia de casa, muito menos se aventurava no mar.

Edone respondeu e logo em seguida a loira também deu sua resposta.

- Vá para o inferno, Yulansh!

Então tornou a entregar ao mar sua própria refeição.
Não era um ritmo bom, o rei olhava com desaprovação para as duas, quando não com curiosidade, enquanto mantinha o príncipe atarefado com instruções sobre um determinado papel que iria assumir, guiar Elari durante a conversão. Talio se mantinha quieto e silencioso enquanto Meliah tentava acalmar o gênio de Kath, Kah Sung estava confinado e apenas Ed podia confortar Ari, ao menos, da família, pois a irmã tinha tantas pessoas preocupadas com ela que ele se perguntava se ainda havia espaço para ele. A selvagem tenente do exército, o garoto que seria a sentinela dela, a dupla que não parava de discutir e até mesmo um rapaz alto e grande que falava suave. Muita coisa havia mudado na vida de Elari naqueles meses, tanto que ele se assustava, mas aquelas mudanças haviam feito Ari ignorar o frio dele quando a tocava e isso já era mais do que jamais poderia pedir.

Era o terceiro dia deles no mar, mais um e chegariam ao destino, ao menos, ao porto em que poderiam seguir caminho por terra. Haviam sido 3 dias com Elari enjoada, mas ele sentia que a jovem do vermelho selvagem estava dando mais atenção a ele, que estavam se aproximando e o alerta dela sempre ecoava na mente dele. "Tome cuidado com o rei." Com o rei, não com o príncipe nem com a ameaça que espreitava no bosque ou qualquer estranho e com "suas irmãs", não apenas Elari. Então, Ed tinha se assegurado que Kath jamais ficaria sozinha. Que tipo de ameaça o rei representava, ele nem mesmo queria saber.

 Que tipo de ameaça o rei representava, ele nem mesmo queria saber

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Marjeana tinha ficado para trás e a dúvida de Elari também. Jasti e Arghnam estavam muito bem entendidos, agora que futuro teriam juntos ela não tinha como saber.

Os dias passaram mais rápido que esperava, tudo que via era o fundo de um balde ou o mar batendo contra a popa do barco, alguns blocos de gelo também, mas eram pequenos e finos, derretiam logo em seguida. Sentia o consolo de Ed, escutou um sussurro de Kath sobre Oldren, Kah Sung passou dias na cabine com o rei, porém uma noite, a última noite ele foi a ver, estava sozinha, tinha acabado de entregar o jantar para o mar, Oldren estava devolvendo o frasco do tônico para o cozinheiro e aguardando o próximo para que pudesse dormir. Ele ficou ao lado dela quase como uma sombra.

- Desculpe não permanecer ao seu lado.

- Não perde muito, o mar não me favorece.

Ele olhou para ela preocupado e Elari sorriu para o tranquilizar, ele encarou o céu estrelado, a expressão dele era leve e a acalmava, os olhos brilhavam como as estrelas.

- Os espiritualistas dizem que nossos destinos são ditados pelas estrelas.

- Você acredita neles?

Ele demorou a responder, o barco ondulava e Elari sentia que o tônico logo perderia efeito, mas ainda aguentava, ela segurou na borda para se sentir mais firme.

- Acredito.

Aquela resposta era o suficiente, ela podia entender porque ele acreditava, tudo na vida dele era incomum, improvável, até mesmo ter nascido, anos depois da morte da rainha, diziam que os espiritualistas sussurrada por todo o mundo quando Kah Sung Morthana nasceu, o filho da morte destinado à vida eterna, o ser mais poderoso em séculos e ainda, com um destino de sangue, tudo na vida dele caminhava para a grandeza, contudo, da mesma forma que ele crescia, em algum lugar, algo tão grandioso quando ele também despertava.
Era tudo tão incrível, tão misterioso assim como as estrelas e Elari sentia que ela, estando naquele destino, também fazia parte daquela grandeza.

- Eu também acredito.

Ele olhou para ela com ternura, estendeu a mão para seu rosto e o acariciou, Elari segurou a mão dele e fechou os olhos, até o momento em que seu corpo teve força maior e ela se curvou sobre o mar para entregar o restante do jantar.

Ele olhou para ela com ternura, estendeu a mão para seu rosto e o acariciou, Elari segurou a mão dele e fechou os olhos, até o momento em que seu corpo teve força maior e ela se curvou sobre o mar para entregar o restante do jantar

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Steve não podia acreditar na carta que recebeu naquela manhã, seu espírito e seu coração estavam quebrados, nada para o general seria entregue.

Talvez não devesse chamar de carta, mas sim de convite... para o casamento de Elari. A Ari dele iria fazer o laço com o príncipe e ele entendeu cada palavra e ação do rei. Ele planejou aquilo, quando queimou o sangue de Elari naquela lareira ele decidiu, mas... "Um destino de sangue..." ele nunca poderia superar aquilo, nem mesmo os deuses olhavam por ele, nunca olharam, a morte prematura dos pais, a passagem dos companheiros, as mortes que o rondavam e agora a única coisa que ele realmente desejou na vida, tirada dele, de uma forma mais dolorosa que tinha imaginado, pelo destino, pelos deuses. Não sabia que tipo de pena estava pagando, se era por algum ancestral ou dele mesmo por cobiçar algo.

O general amassou o papel, saiu de sua tenda, o chão úmido sujava sua armadura a cada passo, ele assoviou e um piado distante foi sua resposta, ao chegar ao intente disse-lhe.

- Prepare um cavalo.

Alcançou a tenda do Conselho, os demais estavam lá, eles se silenciaram e dirigiram o olhar para seu general.

- O rei me convocou, estou partindo. Não haverá ataques até meu retorno.

Ele se virou e o tecido caiu atrás dele, não houveram protestos.
Ao alcançar o intente ele já tinha as rédeas do cavalo malhado nas mãos, as bolsas também estavam cheias, mas não seria necessário, com o ritmo que seguiria chegaria em Incantalar em dois dias, antes do rei tempo o suficiente para que tomasse as provisões exigidas. O general montou, guiou o cavalo até a extremidade do acampamento e ao passar pela última fogueira, jogou o papel para o fogo. As labaredas o tornaram em cinzas rapidamente que flutuaram céu acima enquanto o general galopava com uma ave branca em seu enlaço.

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