Steve já estava cansado daquela noite.
Não por estar fazendo a vigília, mas Elari havia formado um laço e não havia sido com ele. Tudo que o general queria era virar uns copos com alta dose de álcool até que sua mente deixasse de se importar com qualquer coisa, mas ali estava ele, fazendo a vigília noturna do rei, ao menos não era ele quem estava na frente do pequeno quarto onde Elari se tornava rainha, ao menos, a futura.
Também não era sono que o afetava, não dormia há alguns dias, aguentaria mais dois sem problemas, mas seu coração estava exausto e sua mente mais ainda de controlar seus sentimentos, talvez ele devesse pedir uma folga, contudo o rei havia o requisitado especificamente, logo, ali estava ele, parado como uma rocha do lado da porta dos cômodos reais.
Ele suspirou, seria uma longa noite e ainda que mais da metade dela tivesse passado a manhã parecia nunca chegar. Os gemidos dos recém miren ecoavam pelos corredores, ele ainda lembrava da dor, de como cada som era insuportável, de ter de se acostumar a escutar o próprio coração batendo, de como as luzes mínimas faziam os olhos doer... Era uma noite terrível, talvez Elari também estivesse daquela forma, ele não sabia, a conversão dos hetar era tão secreta que nem mesmo Arghnam compartilhou qualquer detalhe com Gemma, a ruiva quase o matou, mas eles se separaram antes que isso fosse possível. Arghnam era outro que deixava o general frustrado, o espadachim tinha realmente conquistado tudo que sempre quis, enquanto o general ainda tinha de aturar reclamações de seu posto.Ele parou de pensar quando escutou um barulho, pós a mão sobre o punho da espada e se colocou em posição de ataque. Olhou para os dois lados do corredor, nenhum movimento. Ele permaneceu atento e quando sentiu o ar quente em sua orelha girou sacando a espada e desferindo um golpe que foi bloqueado pela armadura leve da tenente ruiva. Ela assoviou.
- Pensei que fosse me matar.
Ele guardou a lâmina na bainha.
- Foi apenas um aviso. O que está fazendo aqui?
Ela se encostou na parede que rangeu em protesto.
- A maior ameaça está dentro do quarto e pensei que minha segurança também devia contar, afinal, sou tão importante...
Steve assumiu a posição de antes, Gemma fazia aquilo muitas vezes, fugir do posto, não que fizesse diferença, ela conseguia se mover pelas sombras e durante a noite quase tudo estava sob seu domínio, talvez se ela tivesse mais uma gota de escuridão tivesse se tornado a general, quem sabe fosse hetar. Mas tudo que ela podia fazer era andar no escuro e se juntar a ele, habilidade bastante útil, porém muito limitada, exigia uma cautela maior que ela deixava transparecer.
- Não devia se afastar muito de seu ponto.
- Você acha mesmo que alguém seria louco de atacar recém convertidos? É o mesmo que desejar a morte.
- Como vai Cassien?
Ela virou o rosto, havia algo estranho na forma que ela ficou quieta, talvez ele devesse questionar o que havia de errado, mas ele estava exaurido e Gemma nunca havia sido alguém que deixava qualquer coisa a abalar, o passado dela já era pesado demais.
- Aquele idiota esteve se achando desde que foi promovido, se ele virar comandante teremos que reservar um navio pro ego dele.
Steve riu, era assim que ela era, alguém que tornava seu humor melhor mesmo que o dela estivesse um lixo, havia sido por isso também que ele pediu para ela cuidar de Ari.
Os dois permaneceram ali por um tempo, não importava se o rei podia os escutar, aquele era supostamente um dia festivo e todos queriam relaxar.
Até mesmo os gemidos e gritos se tornaram menos frequentes, os miren se acostumando com sua nova vida e forma. Gemma não parecia preocupada e se ela com toda sua rede de informações estava tranquila Steve também podia ficar. Algumas vezes ele se questionou porque não tinha um poder, porque Gemma havia sido escolhida, mas ele entendeu com o tempo que a escuridão realmente devia servir a ruiva pois ela havia vivido tanto tempo nela que as duas deviam ser como uma, o mais incrível era que Gemma era a personificação de uma cor intensa, era como se vida e morte estivessem de mãos dadas.As horas se passavam com tranquilidade, estava quase amanhecendo, os primeiros raios de luz surgiam com preguiça, alguns animais já despertavam e pássaros cantavam até que tudo ficou silencioso. Gemma se sobressaltou e olhou para Steve com um ar assustado.
- O rei...
O general não perdeu tempo e adentrou o quarto, no mesmo instante viu a figura grandiosa e já bem afetada pela ausência de poder cair, ele se adiantou e o segurou instantes antes. Uma flecha atravessava a garganta do rei, sangue escorria em abundância e rapidez, ele ergueu a mão tremulante e apontou para a janela, Gemma avançou e observou.
- Temos um invasor nos jardins do Palácio, acredito que esteja a oeste.
Ela se virou para Steve, o olhar dizia um nome.
- Vá!
Ele comandou e logo ela havia sumido, Steve se voltou para o rei, Seo Morthana estava morrendo de uma forma terrível, ele estava velho, mas não por viver muito, por ter perdido a parceira antes do tempo, as últimas gotas de poder se esgotavam e ele já tinha a aparência frágil de num macho com dois milênios. Aquilo parecia tão errado, mas o general não sabia como a história dos Negros teria sido caso aquele macho permanecesse em seu auge, um que não perdoava, um que desejava derramar sangue, um que ansiava por guerra, Steve esperava que Kah Sung fosse diferente e se não fosse, que Elari ajudasse a o controlar.
Os gritos haviam chegado aos guardas, pois um entrou no quarto acompanhado do curandeiro local, era jovem e parecia ser inexperiente pois entrou em desespero.
Talvez fosse devido aos horrores da guerra ou por não ter mais nada naquele mundo, mas o rei estava tranquilo da forma que um macho morrendo poderia estar, ou mais tranquilo. Em um último movimento esforço o rei estendeu a mão para a de Steve e ele sentiu o poder do rei fluir pela pele. As palavras eram montadas por ideias e entre elas estava um pedido, para ficar ao lado de Kah Sung e um aviso, eles estavam ali, os vermelhos.
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Os Eternos
FantasyO que fazer quando seu destino é se tornar aquilo que mais teme? A vida de Elari é regida pelo medo, medo dos seus iguais, dos vizinhos, dos irmãos e parentes e, temendo seu destino cruel de se tornar um deles, um monstro, ela se vê dividida entre d...