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Quem?

Ela pensou em perguntar, mas não faria diferença. As palavras que saíram da boca de Jasti não eram para Elari, nada daquilo era, nem quando ela disse que estava ali por ter perdido a esperança, por não ter mais nada.

Nada do que ela dizia fazia sentido e ainda assim tornava Jasti cristalina.
Um amor proibido. Um romance escondido. Então a punição.
As palavras de Jasti eram ainda menos claras que os pensamentos de Elari, a garota ainda estava relutante em contar aquilo, mas a necessidade era óbvia. Os seres vivos não foram feitos para guardar segredos.

Depois de tudo aquilo, Jasti estava mais relaxada e por fim adormeceu, já Elari tinha a mente em uma torrente de pensamentos inquietantes.
Agora ela entendia de onde vinha o sentimento de repudia, porque ela agia como superior e usava aquilo para se isolar.
Uma garota de coração partido, traído e agora ele tinha sido despedaçado mais uma vez. As duas eram mais parecidas que pensava.

Elari fechou os olhos e deixou seus pensamentos transgredirem o espaço confinado do quarto, do Palácio e do Continente.
Deixou os próprios sentimentos se mesclarem aos de Jasti e sussurrou, para si, para as sombras da noite, para as duas luas e suas estrelas.

- Eu entendo.

Ela escutou Jasti responder meio sonolenta, devia ter despertado apenas para aquele momento.

- Eu sei, por isso a odeio.

Mas ela sabia que não era Elari que ela odiava, agora sabia que ela odiava tudo aquilo, tudo de ser forçado a algo, de ser traído, de ter seu coração despedaçado. Jasti vestiu uma armadura e Elari, uma máscara, ambas empunharam armas.

A noite passou lentamente, cada pensamento era uma martelada em sua cabeça e a cada martelada se lembrava do que estava por vir.
E depois de vários pensamentos ela soube quem era ele e o odiou por Jasti também, por ela mesma e pelo próprio Arghnam.

Elari acordou com o barulho de discussão do lado de fora da porta. Parecia que um soldado bêbado estava fora de si o suficiente para fazer as empregadas gritarem pelos guardas. Antes que eles conseguissem impedir a porta foi aberta e ali estava o fruto de uma rachadura na armadura de Jasti.

Arghnam entrou cambaleante e se apoiando nas cadeiras que encontrava no caminho.

- Jyasti!

Ele chamou por ela de um jeito engraçado, a loira se levantou confusa, esfregando os olhos provavelmente selados por lágrimas secas, ele apontou para ela e seguiu na direção de sua cama, mas cambaleia para o outro lado, os guardas avançaram pela porta e seguraram os dois braços dele, eram dois, mas o mais novo espadachim negro mostrou sua sobrepujante força e os jogou para longe com apenas um movimento, eles caíram de costas, um contra a pequena estante e outro sobre uma cadeira, virando logo em seguida, as empregadas gritaram e chamaram por mais ajuda, Jasti finalmente ficou desperta, mas estava assombrada, uma expressão que nunca tinha visto em seu rosto. Elari afastou sus cobertas e correu para a penteadeira, abrindo a gaveta atrás da adaga.

- agola como sou impotante? Como eu ela maisu que meeeelecedo de voxe?

Ele bateu no peitoral exibindo a veste negra com bordados prateados. Ela arrancou a gaveta de seu lugar e quando ela estava no chão revirou todo o conteúdo, mas não encontrava a adaga. Ele avançou mais na direção de Jasti e ela puxou os lençóis para se proteger.

- Mas voxe nunca me quis. Eu... Eu era apenas uma diversaao.

Ele já se apoiava na cama dela. Elari entrou em desespero, os dois soldados permaneciam no chão e reparou que as prateleiras estavam quebradas, que força absurda era aquela?

- Voxe nunca goxtou de mim. - Ele parecia prestes a chorar, mas não tinha como confirmar com ele estando de costas - Vo-você me deixou sozinho naquele dia. E quando estava ficando preocupado, eles vieram, os servos de seu pai. Você sabe o que fizeram comigo, a seu pedido?

Havia algo de errado naquela história,  um dos dois tinha que estar mentindo. Ele havia traído Jasti com outra, ele... Ele não tinha motivos para mentir sobre aquilo, nem Jasti. Talvez nenhum dos dois estivessem mentindo e ambos falassem a verdade, eles tinham sido enganados.

Nesse instante mais quatro guardas entraram e desta vez Gemma estava entre eles, somente graças às forças dela somada as dos outros três foi possível arrastar Arghnam dali. Elari disparou na direção de Jasti, o olhar horrorizado permanente em seu rosto.

- Você está bem?

Ela se voltou lentamente na direção de Elari, apenas acenou, a boca aberta.

- Escute, Jasti, sei que não é o melhor momento, mas acho que tem algo de estranho, vocês deviam...

- Vocês estão bem?

Elari se virou e viu Kah Sung, suor escorria por sua testa, ele olhava apenas para ela.

- Tudo bem.

Ele avançou mais e a envolveu em um abraço apertado que a tirou da cama, ela viu as empregadas ainda à porta cobrirem suas bocas escancaradas com as mãos e olharem umas para as outras. Era verdade, ninguém tinha reparado quando andaram de mais dadas pelo Palácio, todos envolvidos demais pela visita do velho e agora, por mais que o novo espadachim tivesse feito uma cena, elas olhavam diretamente para eles.

- Vou me certificar de que ele seja advertido e de aumentar a segurança para vocês.

O advertido parecia mais punido e o vocês era apenas para Elari. Ela se sentiu flutuar com aquela atenção, com aquela preocupação.
Fechou os olhos e aproveitou um pouco daquilo, mas logo ele decidiu tornar reais suas promessas e passou por empregadas que se curvaram com as bocas escancaradas, logo Marjeana e sua quase gêmea apareceram, deram ordens para arrumar tudo e preparar banhos quentes.

Elari se voltou para Jasti e a segurou pelos braços, agora ela olhava para a jovem como se fosse um enigma lançado por Derok.
Elari sussurrou por alguma sensação esquisita de que aquilo não era para os ouvidos de todos.

- Eu vou dizer porque talvez você não tenha percebido, algum de vocês está enganado em relação ao fim do outro, quase certeza de que ambos estão. Então vamos nos assegurar que sua história não tenha um final trágico.

Jasti piscou depois afastou Elari com violência.

- Quem pensa que é? Como se eu não soubesse o que vi. Como se você soubesse mais sobre minha vida que eu.

Ela estava se levantando, uma fuga.

- Eu sou alguém de fora e justamente por isso sou capaz de enxergar melhor. Escute, as histórias de vocês não combinam...

- Desde quando ele se deixaria assumir o papel de cafajeste?

Ela falou alto e as empregadas pararam para as observar, Elari se aproximou mais dela e a segurou pelo braço em uma pegada forte, ela não escaparia dela, nem do próprio amor, ela mesma havia dito que ainda o amava e se aquilo era mesmo verdade, se os instintos gritantes de Elari também estavam certos, o conto de Jasti não havia acabado como uma típica historinha de amor proibido.

- Desde quando bêbados mentem? Se o que os dois dizem é verdade, se você não escondeu nada, então essa verdade foi distorcida. - Antes que ela protestasse complementou - Por outro personagem que não tinham reparado antes.

Jasti permaneceu calada e depois de um tempo os olhos dela abriram-se par enxergar algo pela primeira vez.

- Quem?

A loira olhou para ela com uma certeza quase sólida no olhar.

- Meu pai.

- Conte-me tudo, não deixe escapar nenhum detalhe. Eu vou te ajudar.

Pois depois de conhecer a história, mesmo que por palavras jogadas e aleatórias formulando um quadro confuso, ela não podia permitir um final triste, não depois que até mesmo ela estava caminhando para seu final feliz. Assim ela esperava.

Os EternosOnde histórias criam vida. Descubra agora