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O sussurro da anciã ainda ecoava em sua mente.

Ela congelou, a mão ardia fortemente, o sangue ainda se acumulava na palma, o fogo escuro crepitava lentamente, como se estivesse com preguiça, tão diferente das chamas descontroladas douradas e fumegantes que fora com o sangue de Keola.

Sua mente ficou a mil depois de um tempo que parecera grande demais. Se aquele resultado fosse real, ela não teria um momento de paz, não conseguiria fugir com todos de olho nela. Precisaria criar uma abertura, mas como?

- Maldição.

Ela olhou para a anciã, ela encarou o fogo novamente, mais uma vez ele mudava, para roxo.

- E isso?

Elari se questionava, as duas cores eram novidade para ela. O roxo e o negro se alternavam agora, formando uma fogueira estranhamente bela.

- O que isso significa?

Ela praticamente gritou com a espiritualista , que apressadamente jogou um pó sobre a fogueira, a extinguindo.

- Saiam daqui, as duas.

Ela avançou, Keola se levantou quase caindo no processo, Elari ficou de pé com um movimento e olhou para a anciã com ira. A culpa devia  ser dela. A culpa por seus planos serem arruinados. A anciã deve ter percebido a ira no olhar da garota, pois começou a apressa-las porta afora. Quando estavam do lado externo, as pessoas calaram seus cochichos, Elari viu o pai e a irmã  do lado de Steve. É claro que a mãe e o irmão não estariam ali depois do que acontecera dias antes. Ela viu a anciã colocar uma mão sobre a cabeça de Keola.

- Gorgan!

As pessoas gritaram, o rapaz de olhos azuis que segurava a mão dela antes abaixou a cabeça. Elari sentiu a mão da anciã mover-se para cima da cabeça dela. A platéia ficou atenta e silenciosa mais uma vez, a anciã ponderou por um instante, hesitando.

- Hetar.

As pessoas continuaram em silêncio. Elari não gostava daqueles olhares sobre ela, era como se a deixassem suja. Ela odiou aquilo. Eles não urraram por ela, permaneceram calados enquanto ela descia e abriram caminho, quando estava perto, apenas Kath correu em sua direção. O calor dela foi bem vindo. As mãos estavam quentes contra suas costas e o cabelo também, por ter ficado exposto ao sol.

- Você conseguiu! É a pessoa mais incrível de todas! Espero que eu seja igual a você.

Os olhos castanhos raiados de verde dela brilharam. Elari sentiu-se culpada por não querer aquilo e mesmo assim o ser. Por dar altas esperanças para a irmã quando pretendia fugir, o que agora precisaria fazer naquele dia ou jamais pisaria em Terras Humanas.
Kath entrelaçou a mão na dela e a levou até o carro, Steve subiu logo depois seguido de Talio.
A irmã mais nova de Elari falava de como seria incrível ter uma irmã Hetar e como queria ser uma também e as duas viveriam pela Eternidade sempre como amigas. As lágrimas caíram e ela já não sabia para onde olhar, com a fonte da tristeza ao lado e o pai a observando ainda boquiaberto pela frente. Ela olhou para fora, mas seu olhar cruzou com um vermelho, compreensão refletia neles, o que a deixou seu sentimento ainda mais profundo. Iria trair ele, provavelmente seria punido severamente por perder uma Hetar, iria trair seu pai, que tinha acabado de ganhar sua chance de voltar a ter o prestígio de sua amada família e iria trair sua irmã, despedaçando aqueles sonhos que tinham começado a nascer, ganhar vida, sonhos com ela junto. Tudo por medo. Por que preferia fugir.

 Por que preferia fugir

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