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Elari se remexia constantemente dentro daquela armadura reluzente enquanto caminhava pelas ruas de Capital Negra com uma enorme lança, que não sabia usar, na mão.

O metal fazia um barulho molhado a cada passo sobre as pedras lamacentas após a chuva noturna e a nova guarda real tentava não se encolher sempre que cruzava com um indivíduo qualquer por medo de ser um Salyu. Maldições a Ruilara Golynda e toda a sua prole por fazer Elari passar por aquilo, não bastava ter sido forçada a ficar ali, tinha que ser jogada em meio aos predadores. E era óbvio como alguns sentiam o seu cheiro, crianças, como os convertidos gostavam de chamar a todos que ainda tinham sangue humano, vermelho, não eram comuns, ainda mais em Negra. E graças a todo o desconforto estava suando apesar do dia frio. O outono havia anunciado sua presença fortemente na noite anterior e o período mais odiado pela tesmiana ia começar, frio, frio e mais frio. Elari nunca havia enfrentado um inverno ou outono verdadeiros, em Tesme haviam chuvas fortes e assustadoras, mas neve, nunca. Já Negra era conhecida por ser a única ilha do Continente a ser encoberta por branco, principalmente o Palácio sobre Rocha, por ficar na montanha.

Calor, Elari precisava de um lugar quente e acolhedor para se refugiar e aquele quarto exageradamente grande não era esse lugar.

- Você está bem?

O guarda que a acompanhava a olhou com preocupação.

- Se estiver se sentindo mal podemos parar um pouco...

- Não. Estou bem.

Ele parou mesmo assim e depois de alguns passos Elari também teve que parar, mas não olhou para ele, não conseguia fazer aquilo desde que foram apresentados, ele era o motivo de maior nervosismo enquanto caminhavam, um salyu.

- É melhor pararmos um pouco, estou cansado também e nem adianta tentar dizer que está bem, dá pra ver você se remexendo feito um cachorro com roupas. Bem ali tem um bar, vamos beber um pouco de água e sentar por um instante... Por que você não olha para mim?

Um tagarela pior que Oldren, um tagarela com olhos azuis, Elari devia ser odiada pelos deuses. Ela se virou e trocou a lança de mão, estreitando bastante as pálpebras de modo que a visão ficasse embaçada.

- Por nada. Onde é mesmo?

Ele apontou. Ela começou a andar na direção.
Escutou ele suspirar e seguir atrás dela.

O bar, se é que podia sequer ser chamado assim, era fechado e abafado, com muitos fumantes e bêbados jogando jogos arriscados e com dinheiro nas mesas, alguns simplesmente conversavam e derramavam suas bebidas por estarem animados demais falando da única mulher que servia os copos. Ninguém reparou quando dois guardas entraram e sentaram ao balcão causando uma sensação estranha em Elari, ali era quente e lotado demais e ela nunca havia estado em um lugar daqueles. Haviam outros guardas, dois em uma mesa com os elmos sob os braços enquanto bebiam com voracidade as cervejas em seus copos.

- Não vai tirar o elmo?

Em um impulso ela olhou na direção dele e se arrependeu imediatamente ao cruzar olhar com azul brilhante e vibrante, acabou virando o rosto para a madeira áspera e mal limpa.
Poderia até recusar o convite, mas ali estava absurdamente sufocante graças, percebeu ela após sentar-se, às duas lareiras e aos fumos queimando.

- Água, por favor!

Ele pediu ao senhor atrás do balcão.
Elari quase riu.

- O que é engraçado?

Droga, ela tinha rido. Quando o copo com o líquido transparente foi lhe entregue ela o agarrou e girou.

- Você querer vir a um bar para beber água.

Os EternosOnde histórias criam vida. Descubra agora