As labaredas crepitavam e lançavam brasas que tentavam alcançar a copa das árvores, mas era impossível até para elas que flutuavam levemente no ar.
O sol havia dado seu último suspiro entregando a glória dos céus para as luas, porém elas não eram claramente visíveis do caminho que 12 deviam trilhar. O peso do número reduzido ainda deixava os ombros de alguns pesados, o luto parecia lhes cair junto com as vestes roxas, não havia brilho entre eles, Oldren podia entender, apesar de não ser o mais querido, a presença de Ginsa era sempre evidente e naquele momento não possuíam quem os atormentar pelas roupas folgadas ou ansiedade por algo tão simples quanto a Conversão.
Eles seguiam em uma fileira, era como quando receberam suas araras que agora estavam no cinto de cada um e mesmo Elari e Jasti que não iam participar daquela conversão carregavam as suas andando mais atrás deles, ambas usando preto, assim como o rei e o príncipe que em breve ganharia uma nova coroa, algo que lhe deixava curioso era justamente o objeto, Elari estava com uma sobre a cabeça antes do laço ser efetivado, aquilo também chamou o olhar da jovem loura que compartilhava a cor, por algum motivo aquilo não a afetou tanto quanto teria antes de ele partir para o campo de treino. Tharna também sussurrou sobre aquilo mais cedo, a forma como as duas não mais soltavam faíscas na presença uma da outra, mesmo que não parecessem amigas já não eram reais inimigas.
Eles seguiam à frente, até formarem um círculo em torno de uma grande fogueira central, eles tinham plateia, algo comum entre mirens, salyu e gorgan, ele se perguntava como seria no momento da dor, pois eles sentiam e muita, quanto maior o poder, maior a dor ao o conseguir. Talvez o povo permanecesse em silêncio ou gritasse com eles.Não importava.
Oldren observou os companheiros próximos, Luste estava ao seu lado, seu tamanho fazia Oldren parecer menor do que realmente era, o cabelo loiro dele brilhava rosa, do outro lado estava Rahir, sem a armadura de costume era possível ver o corpo estreito dele, ágil, contudo, força estava escondida debaixo do tecido.
Tharna e Urgath deviam estar do lado oposto, o que o fogo escondia, ele Podia imaginar as duas acenando uma para a outra. Todos ali tinham o olhar determinado, alguns deviam pensar em superar aquela passagem dolorosa por Ginsa, outros por suas famílias, outros, por si próprios.
Não importava a força e determinação, todos gritariam.Elari via a cabeça ruiva de Oldren à distância, os olhos brilhantes e atentos de Rahir ao seu lado e a pequena e esperta Tharna oposta à eles, ela teve orgulho dos amigos, eles seriam mais fortes, seriam guerreiros e se dependesse dela, viveriam pela eternidade.
Quem conduzia a cerimônia era um espiritualista local, uma fêmea, ela tinha longos cabelos brancos como os da Dama branca, os olhos da mesma cor, indício de ser mestiça, mas não importava a origem da cor dela, ela era espiritualista, logo não podia pertencer a nenhuma cor.
A fêmea proferiu palavras em uma língua antiga e ergueu as mãos cobertas por tinta negra para os céus, em seguida derramou o próprio sangue na fogueira que incendiou tornando-se invisível.Ela entregou para cada um um frasco, seguindo primeiro com o grandão, Luste Groven, até retornar a ele, depois um segundo frasco para cada um.
Um era veneno, outro, a poção da vida.
Um faria o coração deles parar e o outro os traria de volta em sua nova vida.Era diferente da conversão de Ed, ali eles beberiam dua poções, Ed tomou uma.
Eles tomaram o primeiro frasco, alguns começaram a agonizar enquanto a espiritualista proferia os versos para o próximo frasco. Três ficaram de joelhos, alguns frascos foram derrubados e se quebraram, eles não gritavam, morriam em silêncio, por fim a espiritualista terminou e eles beberam o segundo frasco, os que tinham se ajoelhado precisaram de ajuda dos que assistiam, logo depois vieram os gritos.
Aquela parte foi terrível, eles jogavam seus corpos no chão e gritavam, suas peles pareciam escurecer, Elari quis se virar, mas Kah Sung segurou seu braço.- Está acabando, veja.
Ela obedeceu e então os viu tranquilizar, os gritos cessaram aos poucos e então eles se recuperavam.
A espiritualista tornou a falar, sua voz era audível mesmo à distância e ressoava dentro do corpo.
Adagas foram sacadas e mãos cortadas, uma cicatriz gêmea para a outra mão, juntos eles se aproximaram do fogo não visível e derramaram seu sangue nele então ele mudou novamente, tornando-se vermelho como o sangue derramado. Houveram vivas, comemorações.Barris foram abertos e música começou a tocar por todo lado, alguns dançaram, outros apenas andavam para as barracas com artigos diversos.
Elari viu a espiritualista entregar uma flor de Tejiane para cada um dos novos miren junto com um frasco contendo o primeiro sangue deles.Logo seria ela.
Steve estava ansioso.
Tudo pelo que sempre lutou acabaria naquela noite, ao menos tinha o amigo ao seu lado. Porém Ed estava estranho, olhando para lugares escuros e uma atmosfera de reflexão em seu torno. O general o perguntou se havia algo o preocupando, ele apenas negou.
A conversa que tiveram mais cedo devia o ter afetado, agora ele não soltava o ombro de Kath e a garota estava ansiosa para aproveitar do festival antes que tivessem de retornar para o Palácio de Madeira para o laço de Elari. Pessoalmente ele não queria assistir, seria doloroso, porém como General ele ficaria próximo ao rei, com uma visão bem direta e clara do evento. Seu coração já havia sido estraçalhado e talvez não existisse mais, contudo ele precisava aguentar, pelo amor que ainda sentia por ela e por Ed. Então ele pediu que Gemma cuidasse do amigo enquanto levava Kath para uma volta, os olhos da garota brilharam de alegria com a notícia, Ed hesitou mas Steve disse que não sairia do lado da caçula dos Varhalarom.
Assim, após Gemma acenar para ele, Steve ofereceu o braço para Kath que aceitou de bom gosto, ele também convidou a senhora Arostoth, porém ela recusou dizendo que estava aguardando Talio para que eles pudessem dançar juntos.O general admirava o casal mais que qualquer outro, o que tinham feito um pelo outro, o sacrifício e a dor que sentiriam não podia ser descrita, mas ainda preferiam passar o tempo que teriam, juntos, mesmo que não pudessem partir da mesma forma.
Ele guiou Kath pelo evento tradicional que já havia visto no ano de sua conversão, as barracas permaneciam no mesmo lugar vendendo as mesmas coisas, no meio do caminho encontraram Elari junto ao jovem Tewak, ela ainda usava a coroa, o que lhe partia ainda mais, mas sorriu para ele da mesma forma que sorria há muitos anos, talvez ela também pudesse o curar.
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Os Eternos
FantasyO que fazer quando seu destino é se tornar aquilo que mais teme? A vida de Elari é regida pelo medo, medo dos seus iguais, dos vizinhos, dos irmãos e parentes e, temendo seu destino cruel de se tornar um deles, um monstro, ela se vê dividida entre d...