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Ela achou que iria morrer de vergonha.

Realmente tinha perdido a noção dos limites e aquilo estava óbvio na expressão totalmente surpresa de Kah Sung.
Onde ela estava com a cabeça? Primeiro tinha o abraçado, depois pediu que a ensinasse, praticamente o ordenou, e agora dizia que queria o ver todos os dias. Ela estava procurando por uma sentença de morte, motivo: assédio ao herdeiro do trono.
Erkath ficaria tão feliz com aquilo...

- Desculpe.

Ela se afastou dele, o senhor ainda permanecia inerte e falou apenas quando ela já estava a vários passos de distância, o rosto queimando e os olhos ardendo por algum motivo.

- Não, espere!

Ela falou sem olhar para trás, os pés afundando na neve mais espessa, no auge do inverno, uma lágrima ameaçando escorrer por seu rosto, desde quando chorava tanto?

- Sinto muito por tomar seu tempo. Não vou mais o incomodar.

- Elari!

Ela não parou, não ousou olhar para trás. Os passos permaneciam firmes, mesmo que seu coração, aquecido depois de tantos anos, não.

- Por favor...

A forma como ele falou, como ele pediu a fez hesitar um passo e nesse meio tempo ele surgiu na frente dela, a segurando por ambos os braços.
As mãos eram firmes, mesmo que não usasse muita força, provavelmente algum medo de a quebrar provocado pela gigantesca diferença entre as capacidades deles. Os olhos dele não estavam distantes e assustados como quando ela o afastou, eles estavam decididos, sóbrios, o cinza estava mais claro que o normal, mesmo com as roupas pretas, o cabelo caia em sua testa, quase tocando os olhos. Agora ela entendia porque ele passava a mão nos cabelos quando usava aquele poder, mas gostava deles daquele jeito.

- Você entendeu errado.

Ela saiu do transe causado pela visão dele.

- Eu vi sua expressão.

Ela queria soar acusativa, mas tinha um tom mais triste que de raiva.
Ele negou e a franja de cabelo se tornou ainda mais espessa.

- Não. Eu estava surpreso...

Ele era o senhor negro, herdeiro do trono do Continente Negro, mas ela não conseguia se segurar, alguma parte dela estava prestes a se quebrar e ela nem sabia que ainda havia alguma inteira.

- Por uma ninguém e idiota como eu pedir para te ver todos os dias. Sim, eu pedi desculpas por isso.

Ele fechou os olhos e ela se odiou naquele instante, odiou ele e odiou o mundo por ainda estar viva.

- Eu fiquei surpreso, por você me pedir isso. - Ele os abriu novamente - Por você desejar o mesmo que eu.

Elari demorou mais do que o necessário para entender o que ele estava dizendo, aos poucos sua expressão se suavizou e quando finalmente abriu a boca para o responder ele a silenciou com a própria.

Ela se perdeu naquele beijo, ele a soltou e a puxou para si, ela também o envolveu como se cada milímetro entre eles fosse um universo de distância. Suas línguas se tocaram e o beijo se tornou mais intenso, a dela passou pelos dentes dele, quase se cortando ao se aventurar nas presas e ele interrompeu o beijo apenas para a dizer.

- Cuidado, ou não poderei esperar até a sua conversão.

E pela primeira vez quis que ela chegasse logo, que o último dia de inverno fosse aquele e ela pudesse ter tudo de Kah Sung. Elari não esperou por ele e inicou outro beijo, seu mundo havia mudado por inteiro naquele exato instante, sentia que havia mais para ela, que poderia ser feliz e sonhar, sonhar com Kah Sung.
O sorriso que ele a oferecia e o calor que ele a dava diziam exatamente aquilo, que ela nunca mais precisaria ter medo.

Os EternosOnde histórias criam vida. Descubra agora