- Precisamos tirar ela daqui.
Gemma guardou as lâminas e se virou para Elari.
- Eu a levo, você faz a guarda.
Ela acenou, ambos sabiam quem era mais mortal ali, Steve embaiou a espada e pegou Ari nos braços, ela tremia, em certos momentos estava rígida, em outros tão mole que ele se questionava se ela se desmancharia nos braços dele, eles precisavam agir rápido, o veneno levava a morte em minutos ou segundos, variava demais e já tinham perdido tempo, precisavam de um espiritualista, eles eram os únicos que poderiam fazer algo, era muito longe e já estava claro demais para Gemma agir sozinha, eles também não sabiam como estava a situação na própria Incantalar, então, ao invés de ir atrás do príncipe Eles seguiram pelo caminho oposto, em direção ao segundo macho mais poderoso do reino.
Quando deixaram o cômodo e iniciaram sua corrida ele viu corpos no caminho e quanto mais se aproximavam do destino, mais eles se acumulavam e ficavam próximos, já na pequena construção eles encontraram um belo amontoado deles e bem no centro, decepando o último que restava, estava o espadachim negro. Arghnam nunca havia parecido tão poderoso quanto naquele momento, ele olhou para os três parados apesar do tempo, ele olhou para Elari nos braços de Steve, passou a espada fina na manga do casaco aberto, limpando o sangue, os cabelos longos estavam presos exibindo o pescoço imaculado. Ele apenas disse.
- Entrem.
O sangue banhava todo o solo ao redor deles e ainda estavam cercados por algumas dúzias de vermelhos, talvez fossem apenas duas ou quem sabe quatro, eles estavam exaustos, o fervor da sede havia acabado e as dores da conversão os consumia, eles formavam um círculo de oito em torno do príncipe, Oldren podia ver os corpos dos companheiros caídos à cima dos outros ou abaixo, era uma confusão de braços e cabeças e espadas e sangue. Todos ali arfavam, os vermelhos com suas lanças e espadas erguidas e apontadas, com medo deles, Luste era quem estava mais ferido, tinha sido atingido no ombro pela espada de um guarda que caiu sobre ele, o maior estrago tinha sido causado por eles, e neles apenas as roupas estavam acabadas, sabiam bem que não podiam se deixar levar um mero arranhão das lâminas dos vermelhos e por isso eles eram os únicos em pé, por isso os guardas que tinham avançado com eles tinham caído, alguns ainda convulsionavam, aquela tinha deixado de ser uma batalha de sangue para uma de quem cairia primeiro, o medo dos vermelhos em atacar ou o cansaço dos negros para avançar, eles ainda precisavam proteger o herdeiro do trono, não era apenas a vida deles em jogo ali.Oldren olhou para Urgath, a garota estava bem ao lado dele e também olhava para ele, o rosto manchado de sangue e terra era feroz, o olhar, porém, repleto de sentimentos, ele nunca havia visto um olhar verdadeiramente triste nela, no fundo sempre parecia haver uma animação.
Quando ficavam no telhado e apesar dele não desejar a companhia dela, lá estava quebrando o silêncio que sempre preencheu a vida dele desde sua irmã. Quando ele se sentava sozinho para comer, ela vinha junto à todos os outros ocupar o lugar à sua frente. Quando ele acordava mais cedo para treinar, ela o acompanhava e era sua parceira. Urgath havia preenchido mais da vida de Oldren que ele havia percebido, havia ganhado mais espaço e importância que ele havia permitido. Aquilo tinha sido inesperado, afinal, a vida ainda podia o surpreender e depois de tanto tempo, ele abriu um sorriso genuíno.
A garota se espantou então sorriu também e começou a falar apenas com a boca, sem emitir qualquer som."Eu amo vo-..."
E parou, o sorriso se desfez, o olhar se desviou do dele e desceu, Oldren a acompanhou e ele viu a flecha que atravessava o abdômen dela, a mão de Ur tremia enquanto a erguia para a barriga, Oldren gritou e todos voltaram a atacar, seis contra dezenas. Ele sustentou Ur antes que ela caísse, ele olhou para a origem da flecha e viu o arqueiro, já era um homem caído e que foi derrubado por completo no fervor do reinício da batalha. Ur tossiu e sangue foi expelido. Normalmente aquele não seria um ferimento fatal, causaria um transtorno doloroso e longo, mas não morte, só que aquela era uma flecha dos vermelhos. Ur se contraía atrás de ar, engasgando com o próprio sangue, Oldren fez o que pode, porém as convulsões iniciaram, mesmo sob a sujeira ele pode ver o enegrecimento dos vasos, a boca coberta pelo sangue vivo, os olhos ficando opacos, os olhos vermelhos brilhantes que havia acabado de ganhar, ela tinha ficado tão bela com eles... e tão rápido quanto iniciou, a convulsão cessou, o momento de paz antes do fim, ele sabia, sabia e ainda não podia aceitar, ele a apertava como se assim pudesse mantê-la ali. Ela ergeu a mão, também coberta pelo próprio sangue, e tocou o rosto dele, então a desceu pelo braço e parou em sua mão, ele entendeu o que ela queria, mas ele não podia, não podia segurar a mão dela, se ele o fizesse seria o fim, sua irmã também fez aquilo e quando ele segurou a mão dela... Foi o fim. Ele não podia passar por aquilo de novo, precisava prolongar aquilo ao máximo, precisava de mais tempo, ele tinha acabado de entender tudo o que Ur tinha se tornado para ele, aquele não podia ser o fim e por mais que ele desejasse, que ele tivesse tentado, a mão dela caiu sem segurar a dele. Ela se foi sem poder dizer com todas as palavras o que sentia por ele.
Mesmo que tivesse se recusado a cumprir o ato final, a morte levou Urgath.
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Os Eternos
FantasyO que fazer quando seu destino é se tornar aquilo que mais teme? A vida de Elari é regida pelo medo, medo dos seus iguais, dos vizinhos, dos irmãos e parentes e, temendo seu destino cruel de se tornar um deles, um monstro, ela se vê dividida entre d...