Ruilara Golynda era uma treinadora severa. Elari já tinha transferido metade das armaduras para outro quarto de onde os empregados pegariam para limpar e polir, ela também tinha corrido com o corpo formando um ângulo reto e também tinha corrido mais, tudo pela manhã. Quando chegou a hora da refeição estava completamente suada e exaurida, escândalo, quem tinha feito tudo com ela, também tinha se esgotado e nenhuma discussão ou conversa aconteceu. Uma decepção para Elari que internamente esperava por alguma provocação para retrucar, estava cansando de ser tão obediente, mesmo com o olhar severo e atento de Golynda. A mulher era grande em tamanho e autoridade, além de ter aquele olhar fatal, outra coisa que chamava atenção nela era o cabelo branco puro, algo que muito poucos negros conquistavam e que no caso dela certamente não era por ter alcançado o milênio, Ruilara Golynda tinha algum segredo que envolvia aquela brancura e o fato de, apesar de ter olhos dourados, era Conselheira.
Durante a refeição os demais estavam ali, a grande mesa cheia e somente dói lugares vagos. Elari sentou ao lado de Oldren e no mesmo instante Tharna se inclinou sobre a mesa para sussurrar.
- Pensamos que não fosse treinar. Aí eu te vejo correndo com a barulhenta pelo gramado. Vocês estão recebendo treinamento especial?
- Eu posso escutar, desgraçada.
Escândalo falou entredentes, mas foi ignorada pela pequena falante. Elari olhou diretamente para Tharna imitando o movimento da combatente.
- Treinamento duro! Eu nunca corri tanto na minha vida, carreguei armaduras e corri igual a uma galinha! E vocês? Como foi?
Tharna tinha começado a rir quando Elari falou em galinha, o que era exatamente o que eles tinham servido nos pratos.
- Nós corremos também, mas nos dividiram em duplas para treinar combate corpo a corpo. Me colocaram com o ruivinho aí. O Rahir ficou com o Luste, conseguiu nem dar um soco. O cara é o maioral com as armaduras e espadas dele, mas perde feio quando tem que usar as mãos.
- Olha quem fala! - Rahir protestou - Oldren te derrubou em todas as suas tentativas de derrubar ele!
Tharna rolou os olhos e fez bico.
- Eu não vivo convencida chamando os outros pra luta.
Tharna riu satisfeita ao ver a careta de Rahir e escutar a gargalhada de Luste que estava sentado logo ao lado de Rahir. Tharna voltou a sentar em sua cadeira e mexeu na comida sem demonstrar vontade de comer, diferente dos demais que comiam empolgadamente por estarem claramente exauridos e doloridos.
- O que foi, Tharna?
A garota morena suspirou e soltou o garfo no prato fazendo um estampido alto.
- Sinto falta de casa, apesar de sempre brigar com meus irmãos sinto falta deles. E minha mãe sempre fazia galinha quando um de nós brigava, isso porque ela sabe que nenhum de nós gosta...
Elari também sentiu um peso, Kath estava tão longe...
- Deixa disso, Yulansh. O mundo não vai se acabar por causa de dois anos, idiota.
Rahir tinha razão. Ela estava fazendo aquilo pela irmã, assim poderia vê-la novamente e teria um ano para se adaptar com o novo reflexo com Kath ainda sendo sua fornalha. Um ano e mais dois para aceitar a ideia, para conseguir olhar para os demais, bastava manter o nome dela e o rosto em mente, Kath, Kath, sua pequena Kath sempre estaria com ela, apenas dois anos e poderiam passar a eternidade juntas, só esperava que Kath aguentasse o grude que Elari seria nela.
- São só dois anos, afinal.
Elari enfatizou, mais para si que para Tharna a qual fez beiço e empurrou o prato atacando a sobremesa.
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Os Eternos
FantasyO que fazer quando seu destino é se tornar aquilo que mais teme? A vida de Elari é regida pelo medo, medo dos seus iguais, dos vizinhos, dos irmãos e parentes e, temendo seu destino cruel de se tornar um deles, um monstro, ela se vê dividida entre d...