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Eles eram todos cascas sem essência, todos menos Oldren Tewak, essas eram as palavras de Tharna Yulansh após duas semanas de treino a ritmo ruivo, pois de acordo com ela, somente os de cabelo vermelho conseguiam seguir aquele ritmo já que Urgath também estava acompanhando.
Oldren já tinha decorado todo o discurso da baixinha durante a última semana, tudo por causa daquele silêncio que invadia sua mente vez ou outra, um silêncio profundo e pesado, carregado com sentimentos que ele tentava jogar o mais longe possível, por isso ele tinha corrido além de seu limite, tinha carregado mais peso consigo e usado os punhos até que doesse.

Sua mente estava em um desses momentos quando Tharna bateu a tigela na mesa fazendo gotas de sopa respingarem para todos os lados e ele fez questão de continuar tomando a própria sopa, único calor deles durante as noites cada vez mais frias, enquanto ela iria se sentar para mais detalhes sobre como ele estava contra o restante.

- Me diga sinceramente o que está acontecendo.

Palavras novas que conseguiram chamar sua atenção.
Ela esperou por uma resposta dele até suspirar e finalmente sentar, por um motivo que Oldren estava certo de envolver Tharna, eles estavam sozinhos naquela mesa.

- Eu sei que você não é cruel ao ponto de nos torturar como tem feito, intencionalmente, então você está fugindo de alguma coisa. Me conte.

Durante aquelas semanas juntos ele compreendeu o que tornava cada um ali único e Tharna compreendia as pessoas ao ponto de ser capaz de conseguir o que quisesse deles, fosse informações ou presentes.
Ele permaneceu calado e ela rolou os olhos antes de se inclinar sobre a mesa e puxar a tigela dele para longe do alcance de sua colher, apenas porque ele permitiu pois se quisesse, ela sequer teria dito uma palavra, o que acontecia com frequência era que ele se pegava atento para a a escutar falar, como se cada som que ela fizesse fosse um livro e assim ele o vinha fazendo com todos ali, uma mistura de mania e interesse que ele tentava negar, assim como tudo o mais que vinha sentindo.

- Eu sei que você assumiu o papel de garoto silencioso, mas você fala com Elari e como ela não está aqui, fale comigo.

Ele observou sua interrogadora em cada mínimo detalhe, desde os cachos descontrolados do cabelo, os olhos castanhos claros, o nariz reto e empinado, a boca carnuda, a pele escura e as mãos pequenas que ainda seguravam sua tigela, Oldren observou ela por inteiro e sentiu que já tinha visto tudo, que não haviam mais informações a serem colocadas e se levantou.

Enquanto saía da cabana onde eles comiam Tharna gritou para ele que um dia ele ainda escolheria falar.

Quando ele abriu a porta, frio se chocou contra a pele, mas Oldren não se encolheu, estava acostumado com noites frias, por um instante ele parou e contemplou o céu, nuvens espessas o recobriam bloqueando a visão se qualquer lua ou estrela.
Em breve o inverno seria total em Negra e eles ficariam isolados por três meses.

Aquela carta era o melhor presente que Elari poderia receber em dezenas de anos

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Aquela carta era o melhor presente que Elari poderia receber em dezenas de anos.
Até mesmo colocou aquele colar no pescoço para garantir que nenhum espião do rei a dedurasse de alguma forma e tudo fosse cancelado.
A alegria não era só dela, Erkath também estava animada com o convite para o Palácio de Pedra, tinha expressado veemente na carta diversas vezes a sua satisfação em ser chamada para acompanhar a irmã durante os próximos seis meses de treinamento.

Estava saltitante e até mesmo empolgada para o treinamento naquela manhã gelada até que a temperatura lhe lembrou que o encontro poderia ser adiado e as palavras de Ruilara Golynda confirmaram o prolongamento do sofrimento de Elari.

- A água já está congelando, então se tiverem alguma carta para enviar, o façam hoje, o último barco partirá em dez horas. Depois, só em três meses.

Um absurdo. Elari nunca tinha descontado, ou mesmo se importado, antes com o grande congelamento, quando o mar que invadia o continente congelava isolando Capital Negra de tudo e todos por três meses já que era muito perigoso viajar sobre o gelo, sempre haviam aventureiros e comerciantes que eram audaciosos e muitos morriam, tinha se tornado até mesmo um desafio entre os que moravam na Capital e os beira mar, mesmo que todos soubessem que a morte espreitava com e sob o gelo.
Em Tesme não havia tal coisa, a ilha era tão quente que possuía o Pequeno Deserto e o inverno era marcado por um período com muitas chuvas, calor e tempo abafado.

- Conselheira, ara onde foram os outros conselheiros?

Escândalo estava bastante interessada nos assuntos políticos, como uma grande arquiteta de teias de palavras sussurradas, realmente, Elari não via um macho de túnica cinza andando pelos corredores ou comendo durante as refeições, até mesmo a mesa tinha sumido, mas ela pouco ligava para aquele detalhe, agora apenas torcia pela chegada da primavera e com ela o calor que a tornava viva.

- Estão em Incantalar, menina.

Jasti fez bico para a diminuição e Elari seguiu para as armas, terminar cedo implicaria que poderia enviar uma carta a Kath.

- E por que você não foi?

Ela levou uma batida na cabeça com a espada embaiada da conselheira e soltou um gritinho, Elari já gostava mais da dama branca.

- Eu tenho que treinar dois filhotes imaturos. E isso não lhe interessa, menina. - O sorriso de Elari se desfez quando a fêmea olhou para ela - Hoje não terá metal. Quero ver o que vocês podem fazer com as mãos.

Jasti abriu um sorriso sombrio enquanto tirava a armadura de metal e ficava apenas com a de couro ao lado de Elari.

- Não pense que será fácil dessa vez.

Ela esperou que a ameaça surtirsse mais efeito, nela mesma, já que usando os punhos, Elari tinha perdido todas as vezes, o corpo era fraco demais, apesar de leve e rápido e mesmo treinando com Gemma todos os dias, ainda era um fracasso.
A oficial explicou que ela sempre sentiria mais dor por ter os ossos mais expostos, seria mais fraca por seus músculos serem pouco trabalhados e que a única arma que tinha era o talento junto com a velocidade, então ela treinou aquilo, junto com os reflexos e tinha melhorado, mas duas semanas era muito pouco tempo.
Tinha também decidido engordar mais e passou a comer o dobro nas refeições, Jasti tinha lhe dado o novo apelido de porca e Elari a chamava de mosca. A animosidade entre as duas continuava fantástica.

Elari ergueu os punhos e se preparou enquanto Jasti esperava pelo aviso da conselheira.
Ela esperou, cada músculo de seu corpo tenso, chegou a escutar a própria respiração.

- Conselheira.

Ela conhecia aquela voz, ele havia falado contra a sua pele e no instante em que olhou para confirmar, a treinadora deu o sinal e Elari apagou.

Ela conhecia aquela voz, ele havia falado contra a sua pele e no instante em que olhou para confirmar, a treinadora deu o sinal e Elari apagou

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Steve ainda tentava se reajustar ao novo ambiente duas semanas depois de acordar sentindo cheiro de estrume e lama.

A verdade era que o rei não tinha muita utilidade para ele, não o suficiente para o obrigar a voltar ali, ele estava a uns dez quilômetros de Incantalar, havia levado uma semana e três dias para chegar ali, apenas por estarem seguindo o ritmo apressado do rei, e faziam quatro dias que tinha recebido a ordem, prepare o exército.

Agora ele sabia bem qual o propósito dele ali, além de o tirar do Palácio, obriga-lo a tomar as rédeas daqueles cavalos selvagens que compunham o exército.
Sempre que ele andava entre as tendas e seguia para o palanque a fim de dar as ordens do dia, os machos assoviavam, cantarolavam e depois o ignoravam.

E todos os dias ele fazia o mesmo, usava sua voz ao máximo e era ignorado.
No quinto dia, ninguém havia levantado e ele teve uma ideia.

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