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Any Gabrielly

Eu sei, comer chocolate vai me dar espinhas, vou engordar, mas é uma vez por mês, acho que não tem problema.

Assim que chegamos fui para o quarto de Josh, o mesmo foi tomar um banho, juro que se não estivesse naqueles dias, tomaria banho com o mesmo.

Estava deitada na cama de Josh quando vejo os quadros ao lado da cama, são vários, tem fotos de Josh e Noah, com a sua mãe, seus irmãos, com o time mas nenhuma com seu pai. E não são fotos novas, entre algumas, Josh parece ter de oito a dez anos.

Eu sei o que Josh passou, eu também não tive minha mãe por perto, comemorando minhas conquistas. O mais próximo disso que consegui foi uma chamada de vídeo quando consegui, depois de meses, atuar em um papel. A personagem não era lá aquelas coisas, era uma figurante que aparecia em algumas cenas.

Quando fui contar a minha mãe que tinha conseguido o papel ela não gostou, disse que me preparou para ser atriz, não figurante de peças avulsas.

Não me lembro quando minha mãe participou de algum momento memorável comigo. Meu pai sempre esteve presente em tudo, foi um pai e uma mãe, exerceu as duas funções mesmo não sabendo nada sobre criar uma garota.

Em questão de como lidar com fases e coisas de menina, meu pai era uma negação. Não sabia fazer penteados, não sabia combinar as minhas roupas. Mas ele foi pai, não se deixou abater.

Segurou tudo nas costas, o trabalho, a minha educação, a forma como me criou, com carinho e atenção. Lembro exatamente de quando meu pai chegava cansado, esgotado, mas ele fingia estar bem.

Me ajudava nos meus deveres de casa, brincava comigo, me dava banho. Também penteava meus cabelos antes de dormir. Por isso admiro tanto meu pai, e quero que se divirta, abriu mão de muita coisa por mim, só quero que agora, ele seja livre.

Que saia, se divirta, conheça alguém que lhe faça bem, que o tire um pouco da empresa a qual se dedica quase vinte e quatro horas do seu dia, sete dias por semana, em trezentos e sessenta e cinco dias por ano.

— Não está mais com cólica? – Josh questiona saindo do seu banheiro e percebo que ainda estou observando os quadros ao lado da cama.

— Agora é suportável.

— Estava no mundo da lua? Conversei com você do banheiro, mas você não respondia. Achei que tinha dormindo novamente.

— Não, estava pensando no meu pai.

— No seu pai? – Questiona ao se deitar ao meu lado.

— Quando você disse que seu pai era distante da família, eu lembrei da minha mãe. Das minhas apresentações na escola, das minhas onze aulas de dança que fiz e desisti pois não me encaixava na dança. Na minha primeira peça de teatro. Me lembro que ela estava em Barcelona quando me apresentei, meu pai mandou o vídeo pra ela, acho que ela nunca viu. Nunca disse nada a respeito sobre ele.

— Eu também mandei um vídeo pro meu pai quando tinha doze anos. Tinha ganhado uma medalha e de brinde um dente a menos. Eu estava tão feliz naquele dia, me lembro de sorrir tão abertamente que minhas bochechas chegaram a doer. Na mesma noite vi minha mãe chorando baixinho no quarto dos meus pais, na época eu não entendia o motivo, ele não estava presente conosco, nem nas horas boas, nem nas ruins.

— Somos dois adolescentes com traumas de abandonos familiares, deve ser por isso que nos entendemos bem.

— Eu não quero falar com meu pai ou da sua mãe, você está sensível e não quero ver você chorar. – Declara, levando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.

— Tem razão, o que quer fazer? São quatro da tarde, temos algumas horas para fazermos o que quisermos.

— Por mim eu ficava assim...– Josh me puxa para seu colo, selando nossos lábios, levo uma das mãos a sua nuca, enquanto a outra me apoio na cabeceira da mesma.

Aprofundo o beijo e logo vejo suspirar, me puxando para mais perto do seu corpo, como se sentisse necessidade do calor dos nossos corpos juntos.

Encerramos o beijo mas ficamos com os lábios colados por alguns segundos, enquanto sinto o polegar de Josh acariciar minha coxa.

Assim que me afasto vejo Josh ofegante, seu peito sobe e desce de uma forma desregulada mas não tão rápida. Pego o pingente do seu colar, pois me parece famíliar.

— O quê é isso? – Questiono um tanto ofegante.

— Você não se lembra? – Nego com a cabeça, eu sei do que se trata, quero ver se ele lembra. — Você me deu de presente quando fiz quatorze anos. No começo achei que era alguma forma de você se vingar de mim, então fiquei com medo de usar, mas depois eu vi que era apenas um colar e eu gostei dele. Uso o mesmo até hoje.

— Eu tenho o colar com uma borboleta roxa que me deu, está guardado junto as minhas joias.

— Achei que iria jogar fora quando soubesse que fui eu quem dei isso pra você.

— Eu gostei do pingente, é fofo e delicado. Acho que vou voltar a usá-lo.

— Eu nunca tirei esse colar, parecia que ele era meu amuleto da sorte, meu talismã. Seguro ele antes de entrar em campo, me passa energias boas.

— Como descobriu que ele passa boas energias pra você?

— No meu primeiro jogo como capitão, eu estava nervoso, tão nervoso que tremia no vestiário. Fiquei sozinho por alguns minutos, até que tive a ideia de segurar o colar em mãos, consegui me acalmar e nesse dia vencemos.

— Então ele dá sorte pra você.

— É o quê parece.

— Você ainda tem a cabeça da minha boneca que roubou? Só pelo simples motivo de eu ter riscado sua camiseta favorita com caneta permanente. Você foi infantil. – Digo irônica, o fazendo rir.

— Se não me engano está no sótão.

— Guardou para se lembrar de mim?

— Um troféu, o dia em que finalmente consegui tirar sua paciência.

— Sério, eu amava aquela boneca garoto! – Bato no seu braço, o fazendo rir.

— Lamento... mas ela era feia, parecia ter saído de um filme de terror.

— Era uma boneca de porcelana Beauchamp, na época era normal, parecia refinado. Era a moda do ano, todas as garotas tinham aquela boneca.

—  Viu, eu fiz você se destacar entre as outras, a única que não brincava com a boneca horrenda.

— Eu me sinto culpada de ter feito aquilo com a sua bola, mas agora me sinto vingada.

— Você é má Gabrielly.

— Não meu querido Joshua, devolvo na mesma moeda.

Me afasto do mesmo, saindo do seu colo, me jogando na cama novamente.

Hurts so goodOnde histórias criam vida. Descubra agora