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Any Gabrielly

Enquanto comíamos, meu pai lembrava de episódios engraçados da minha infância, como memória, e sempre ressaltava que estou crescendo rápido demais.

Meu pai sempre esteve comigo, em todas as minhas fases, as piores e as melhores. Vibrou comigo quando terminei o colegial, vibrou comigo quando entrei pra faculdade, vibrou comigo no final das peças que fazia – mesmo eu sendo figurante – ele esteve lá, mesmo não sabendo como fazer ele esteve lá.

Não queria deixá-lo mas a hora chegou, preciso do meu cantinho, do meu lugar, ter isso já me tira um peso enorme dos ombros. Só aceitei pois meu pai insistiu, não sou uma patricinha que ganha um carro caro do pai, que ganha um apartamento e um cartão sem limites pra usufruir como bem entender.

Eu fui criada a pensar nos verdadeiros valores da vida, a companhia, o carinho, o afeto, não em uma conta bancaria repleta de dinheiro. Sim, meu pai é rico, mas nem por isso saio desfilando com uma porche conversível por aí pra provar isso.

Desde que comecei a faculdade, ou eu ia andando, ou meu pai me levava. Não quis um carro já para não ser mimada, mesmo que fosse mais prático, eu não queria.

Mas aceitei esse apartamento pois vi que era importante pro meu pai. Ele quer me dar conforto, praticidade e liberdade.

Agora que namoro Josh, as vezes não estamos sozinhos nem na minha casa e nem na dele. O seu pai voltou, disse que quer ficar mais com a família depois do acidente de Josh, viu que quase perdeu um filho e que não dava atenção suficiente pra família.

Ele começou a trabalhar de casa, passando mais tempo com a família, assim eles tomam café da manhã, almoçam, e jantam juntos, todos os dias, como uma família normal.

Já a minha, é uma família meio diferente, nós fazemos isso também, juntos, mas meu pai insiste em negar que gosta da nossa governanta. Eu já o peguei distraído, vendo Paula rir das palhaçadas que minha irmã diz, seus olhos não enganam, ele gosta dela.

Só precisa descobrir isso.

— Filha, você está pensando em... – Meu pai parece não conseguir dizer a palavra.

— Filhos? Uma hora nós devemos começar a nos preparar, ou ficaremos velhos demais. Pai, eu sempre quis ser mãe, dar o amor que não recebi ao meu filho. Já está na hora de começar as consultas com o médico, começar a me alimentar bem. Percebi que o tempo está voando quando a menina que perdeu seu primeiro dente, beijou pela primeira vez junto comigo ficou grávida. Não somos mais crianças.

— Eu sei, mas isso vindo assim, de surpresa me deixou confuso.

— Pai, eu amo o Josh, ele me ama, disse que quer ter filhos comigo, ficar comigo pra sempre. Não é só uma paixãozinha platônica de adolecente, eu o amo, ele me ama e queremos construir uma família. Sempre fui aberta a você, sobre tudo, e estou sendo agora.

— E eu sou eternamente grato por isso, viver cada fase da sua vida, lhe dando o apoio que precisa me ensinou que em um piscar de olhos, as coisas importantes se vão, você já está saindo de casa. Já vai completar vinte anos, tem uma mente aberta e madura, sei que administrará tudo com responsabilidade. E em relação a você ser mãe, estou com você minha filha, no que precisar. Só estou assustado pois logo serei avô.

— Não é tão simples assim pai, preciso me consultar com o médico mas sei, quem toma anticoncepcional durante anos, tem dificuldades para engravidar assim que corta o uso do remédio em alguns casos. Mas eu e Josh vamos aos poucos, um passo de cada vez, nossa relação foi assim, nós deixamos ela fluir, conforme deveria ser e deu tudo certo. – Mostro minha aliança.

— Você sempre foi pé no chão, por isso me orgulho da minha menininha.

— Pai, eu já não sou mais criança.

— Mas vai ser sempre minha menininha.

— Não vou discutir sobre isso.

— Tenho uma proposta a você. – Meu pai declara, levando as mãos a mesa, as cruzando.

— Então diga.

— O quê acha de irmos ao parque de diversões?

— Você não está velho pra essas coisas Silvio Soares?

— Nunca é velho demais pra comer um algodão doce, ou um hot-dog com batatas fritas. O quê me diz?

— Estou dentro.

— Ótimo. Vamos pedir a sobremesa e depois vamos ao parque de diversões, como nos velhos tempos.

Sorrio com sua empolgação e também por ele me apoiar, mesmo achando minha decisão um pouco precipitada.

Meu pai sempre me apoiou, e acredito que sempre irá me apoiar, como eu o apoiei e estive do seu lado quando precisou. Nem tudo são flores, já passamos por poucas e boas, mas conseguimos seguir em frente, sempre eu e ele.

— Ainda bem que o apartamento é próximo de casa, assim posso visitar você mais vezes, na volta do trabalho.

— Eu adoraria.

— Já contou a suas amigas?

— Ainda não, é muita informação pra eles, nem digeriram que Sina está grávida, e ela e Noah vão morar juntos.

— Seus amigos são meio loucos, mas gosto deles.

— Eles são, eles são melhores que qualquer remédio contra depressão.

— Fico feliz que você é rodeada de pessoas boas, esse mundo é cruel demais, as pessoas são falsas e oportunistas, cultive essas amizades minha filha, elas valem ouro.

— Eu vou. Bem, vamos logo? Quero ver você acertar algum dos desafios do parque e me dar um ursinho.

— Não acha que tá velha demais pra isso?

— Não foi você quem disse que sempre serei sua filhinha? Pois bem, sua filhinha quer um urso de pelúcia do parque de diversões, e você vai conseguir pra mim.

— Tá legal, agora que parece ter se tornado adulta, quer voltar a ser criança?

— Qual é pai, levo você pra brincar no bate-bate.

— Eu não tenho idade pra sua Gabrielly.

— Idade é só um número velho Soares.

Meu pai revira os olhos com o apelido mas depois ri, pegando sua carteira e pagando pelo almoço.

Meu pai cancelou todos os compromissos e reuniões que tinha no dia e nos dirigimos ao parque mais próximo.

Ver meu pai feliz, depois de anos, desde que minha mãe foi embora, me deixa feliz. Paula o deixa feliz, eu já notei isso, ele só não quer me contar.

Eu só quero a felicidade dele e sei que não se relaciona por causa de um trauma, minha mãe.

Ela manipulava todos, assim conseguia o que queria, a prova viva sou eu, que só percebi que não queria ser atriz, depois de levar inúmeros nãos, e continuaria persistindo no erro até hoje, se tivesse pensado nela não em mim.

Eu me pergunto se ela ficaria feliz com tudo que aconteceu na minha vida, e a resposta seria não ou tanto faz, ela não liga pra nada, só pra ela mesma.

Afasto esse pensamento quando meu pai estaciona em frente ao parque. Compramos os bilhetes para o brinquedos e começamos a andar pelo parque.

Meu pai está mais animado do que eu, apesar de ser mais velho, mas quem disse que idade importa? Eu vou no pula-pula com quase vinte anos, claro, quando a responsável pelo brinquedo não está por perto.

Tudo está seguindo seu curso, como deve ser, fluindo lentamente, ou nem tão lentamente, pois o que estou em mente, eu acharia um tanto apressado, e não digo por ter filhos ou já me preparar, outra coisa que estou planejando e espero que dê certo.

Hurts so goodOnde histórias criam vida. Descubra agora