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— Você ficou sozinha com o Piquerez no vestiário? — Bruna perguntou, seus olhos se arregalando com interesse. — Rolou?

— O que? Não. — neguei, rindo da sugestão.

— E o que aconteceu então?

— Eu tive que trocar de camisa. — expliquei, revirando os olhos com a lembrança. — Aí eu lembrei de você na hora que bati o olho na do Richard e peguei. Porque quando chegasse em casa, eu te daria.

— Você fez realmente isso? — Bruna me encarou, surpresa estampada em seu rosto. — Você estava no vestiário sozinha com o Piquerez e pegou a camisa do Richard?

— Por causa de você. — respondi, defendendo minha decisão, mas Bruna não parecia acreditar.

— Clara, você tinha a maior brecha e simplesmente não usufruiu! — sua gargalhada foi alta, ecoando pelo quarto. — Você tinha que ter pegado a dele, sua burra!

Parei para refletir sobre a situação e, após um momento de contemplação, bati a mão na testa, percebendo que Bruna estava certa. A oportunidade estava lá, mas eu simplesmente não tinha percebido.

— Ele ia entender como um flerte se eu pegasse a dele?

— Sim! Mil vezes sim!— balançou a cabeça.— Eu já fui muito lerda nessa vida, mas hoje meu bem, você me superou.

— Agora já foi.— suspirei, sentindo meu rosto queimar com a lembrança do momento.— Eu sou péssima pra flertar. Nem sei por onde começar.

— Acontece.— Bruna disse, segurando o riso com gentileza.— Mas não se preocupe, vamos arrumar um jeito.

— Mas como? Não quero parecer desesperada.— respondi, preocupada com a ideia de parecer muito óbvia.

— Ah, relaxa. Vamos dar um jeito sutil de chamar a atenção dele.— Bruna sugeriu, colocando a mão no queixo enquanto pensava.— Que tal postar aquela foto com a garotinha e ele que eu tirei? E aí você marca a ONG, assim não fica tão na cara.

Concordei com a sugestão, sentindo um misto de empolgação e nervosismo. Peguei meu celular e comecei a digitar a legenda, torcendo para que desse certo.

— Se ele pedir pra te seguir, é porque tá afim. Se ele só curtir stories é porque não está.— Bruna lembrou, dando um toque de realidade à situação enquanto me via publicar os stories.

— Mas agora falando sério.— deixei o celular de lado, sentindo um peso no peito.— Ainda bem que eu fui até lá, conhecer a Bia me deu uma perspectiva de vida completamente diferente. Mesmo que por algumas horas só, sabe? Ver a força e a alegria daquelas crianças, mesmo diante das adversidades, é algo que mexe comigo profundamente.

— Eu fico mexida todas as vezes que conheço crianças com câncer, como a vida pode ser tão cruel com seres tão inocentes assim?— Bruna se perguntou, sua voz carregada de emoção, e um silêncio pesado se instalou no meu quarto.

O silêncio só foi interrompido pelo meu celular que notificou algo. Quando eu fui ver, não pude conter um riso nervoso, mostrando imediatamente para ela.

— Ele só curtiu. Não repostou nem nada.— Bruna começou a rir.— Acho que só você ficou afim.

— Pelo menos não ficou na cara.— larguei o celular, tentando ignorar a pequena pontada de decepção.— E ele deve achar que eu fiquei afim do Richard.

— Acontece. Ele deve estar saindo com alguém no off. Repostar outra mulher assim ia ser estranho pra outra.— Bruna tentou confortar, embora eu não conseguisse entender completamente a lógica por trás disso.

Balancei a cabeça concordando, mesmo que na minha cabeça eu queria que não fizesse sentido.

— Aqui ó, falei num falei?— ela quase jogou o celular na minha cara, exibindo a tela com um sorriso triunfante.— Ele repostou nos stories a foto que o Palmeiras publicou dele só com a menina.

— Ele me odeia?— perguntei, sentindo um nó se formar no estômago.

— Não menina, ele nem te conhecia antes de hoje. Relaxa.— Bruna tentou acalmar os meus nervos.

— Eu tô com uma vergonha tremenda.— admiti, minha voz um sussurro envergonhado, e Bruna me olhou com compreensão.

— Pode rir.— disse, tentando fazer piada da situação para aliviar a tensão.

— Não vou.— Bruna garantiu, segurando o riso com esforço.

— As meninas do meu Instagram todas curtindo meus stories. Nunca recebi tanta curtida de mulher em story assim antes.— comentei.

— Mas não estão curtindo por causa de você, estão curtindo por causa do Piquerez.— Bruna pontuou, me trazendo de volta à realidade.

— E você acha que eu não sei?— respondi com um sorriso resignado, aceitando a ironia da situação.

Começamos a rir até que a minha mãe entrou no meu quarto, com um típico sorrisinho de quem queria falar algo, seu jeito de sempre.

— Gostou de hoje?

— Foi incrível.— sorri, me sentindo grata pelo dia memorável que tivemos.— Acho que melhor do que qualquer jogo que eu poderia ter ido ver.— deitei minha cabeça em seu colo assim que ela se sentou na cama, apreciando o conforto familiar.

— Meu pai já chegou e eu vou indo nessa. Tchau madrinha, tchau Clarinha.

— Tchau, Bru.— me despedi enquanto ela saía apressada, nos deixando a sós.

— O Abel me disse que viu você e o Piquerez saindo do vestiário juntos.— sua expressão denunciou a sua desconfiança.— Aconteceu algo que eu não sei?

— Não. Claro que não mãe.— neguei, sentindo um misto de desconforto e determinação em esconder qualquer sinal de envolvimento.— Eu não tenho mais 15 anos, tá? Eu jamais faria isso sabendo que é prejudicial à sua imagem.

— Eu sei meu bem, eu sei.— ela sorriu, começando a acariciar a minha cabeça com carinho.— Eu só perguntei porque o Abel falou todo desconfiado. E bem, você é jovem, bonita e ele também.

— O Abel?— fiz uma careta e ela riu.

— Piquerez.— ela observou com um olhar perspicaz, me fazendo perceber que não escapava de sua vigilância maternal.— E vocês pareceram se entrosar bem com aquela garotinha.

— A Bia.— sorri lembrando dela, a imagem da garotinha tímida e fofa ainda fresca em minha mente.— Ela quem me apresentou ele, eu não fazia ideia de quem ele era.

— Ele e o Richard são dois garotos que não são tão garotos assim que eu adoro.— minha mãe sorriu com nostalgia.— Igualmente ao Endrick.

— Eu sei. Você vive falando do quanto o Endrick é prodígio e que ele está de saída do clube.

— Sim. Vai pro Real Madrid.

— Uma pena, se ele realmente é tão bom assim.

— Se ele é tão bom assim? Ele tem 17 anos e já vai jogar na Europa, além da seleção.

— Calma.— ri, reconhecendo a grandiosidade de Endrick.— Não estou duvidando.

Ela sorriu antes de se levantar da cama, seus passos leves preenchendo o quarto.

— Vai fazer o que amanhã?

— Amanhã é domingo mãe.— avisei, me ajeitando na cama.— Provavelmente vou ficar aqui jogada na minha cama vendo série.

— O que acha de ir pro CT comigo?

— Ir pra onde?

— CT.— repetiu, sua voz cheia de expectativa.— É onde os meninos treinam, entre outras coisas.

— Por que eu iria ver eles treinando mãe?

— É melhor do que ficar aqui vendo série sobre a vida dos outros.— ela respondeu com um sorriso desafiador, me provocando.

— Ok. Que horas?

— O treino deles começa às 8 em ponto.— avisou, transmitindo uma energia contagiante antes de sair do meu quarto.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora