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Descendo do avião, nossos olhares se cruzaram novamente, e a intensidade daquele breve contato visual me fez sentir um frio na espinha. Durante o trajeto para o hotel, senti seu olhar sobre mim várias vezes. A tensão era nítida, como uma corda esticada prestes a arrebentar.

Inicialmente, tínhamos planejado ir para a casa da família dele, mas, com o clima entre nós tão pesado, decidi que não seria a melhor ideia.

No fundo, eu me perguntava se ele também estava indo para a casa de sua família, mas, honestamente, parte de mim não se importava.

A mistura de raiva e aflição dentro de mim parecia um vulcão prestes a entrar em erupção. Assim que cheguei ao hotel, joguei minha mala sobre a cama e fui direto para o chuveiro, tentando lavar não apenas o suor e a sujeira do voo, mas também os pensamentos e sentimentos conflitantes que me assombravam.

Depois de um banho quente, vesti uma roupa confortável e, sem perder tempo, saí em direção à farmácia mais próxima. A caminhada pela noite uruguaia era um misto de alívio e tormento, a brisa fresca da quase madrugada acalmava meus nervos, mas minha mente ainda estava em ebulição. Ao encontrar a farmácia 24h, entrei apressada, pegando uma pílula anticoncepcional. Paguei rapidamente e voltei para o hotel.

De volta ao quarto, tomei a pílula com um copo d'água, sentindo um peso sair dos meus ombros. Um riso nervoso escapou dos meus lábios enquanto jogava a embalagem no lixo, dizendo ironicamente: "Adeus, Théo."

A sensação de alívio foi imediata, e a tempestade de emoções que me atormentava começou a se dissipar, embora não completamente.

Ainda eram cerca de meia-noite quando me sentei na cama, com o notebook no colo, tentando me concentrar no trabalho. A luz azul da tela iluminava meu rosto, enquanto eu digitava mecanicamente, mas meus pensamentos insistiam em voltar ao que acontecera dentro daquele avião. Cada vez que eu fechava os olhos, podia sentir novamente a intensidade de seus toques, o calor de seus beijos, a urgência de nossos corpos se fundindo.

A dúvida persistia, corroendo minha paz de espírito. Será que ele realmente havia feito de propósito? Cada olhar, cada palavra dita, cada gesto entre nós parecia se repetir na minha mente como um filme, e eu não conseguia encontrar uma resposta clara. De vez em quando, olhava para a janela do hotel, vendo as luzes da cidade lá fora, tentando buscar clareza na escuridão da noite.

Envolvida em pensamentos, fechei o notebook e me deitei, tentando encontrar conforto nas macias almofadas do hotel. Mas o sono demorava a vir, e a noite parecia se arrastar enquanto eu lutava contra meus próprios demônios internos, buscando respostas que talvez só o tempo pudesse trazer.

Naquela vez no sofá da minha casa ele conseguiu evitar. Era muita coincidência isso acontecer logo depois de eu deixar claro que não queria filhos nem nada do tipo?

A memória era clara e inegável: Joaquín havia sido cuidadoso, parando antes que algo assim pudesse ocorrer. Agora, no avião, tudo parecia diferente, e minha mente estava inundada de dúvidas e desconfianças.

Eu não queria duvidar da palavra de Joaquín, mas ao mesmo tempo, suas ações me deixavam em completa dúvida. Fui obrigada a sair da cama quando ouvi batidas incessantes na porta. Ao abrir, me deparei com Ríos.

— O que você quer, meia-noite no meu quarto, Ríos? — perguntei olhando para a cara dele, que continha um sorriso irônico.

— Só vim ver se você tá bem. Naquela hora que a gente tava desembarcando você parecia estar em outro mundo e sua cara era de quem cometeu trinta crimes diferentes. — ele soltou uma risadinha.

— Obrigada por se preocupar comigo, mas eu tô bem. — falei dando um sorriso forçado, tentando dar a entender que ele deveria ir embora logo. — Agora você tem que ir pro seu quarto, descansar. Amanhã você tem jogo.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora