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São Paulo | Brasil
8 de Abril.

Ao entrar na sala de conferência de imprensa, meus nervos estavam à flor da pele. Minhas mãos suavam frio e tremiam levemente, enquanto o burburinho dos jornalistas e a conversa animada do Abel com os presentes me deixavam ainda mais desconfortável.

Podia sentir os olhares curiosos e especulativos se voltarem para mim enquanto eu circulava pelo lugar. Alguns jornalistas se entreolhavam com sorrisos maliciosos, e eu sabia exatamente qual era o assunto da conversa. A notícia da minha possível relação com Piquerez já havia se espalhado, e eu me sentia como um animal em cativeiro sob os holofotes.

Minha mãe havia me dado o conselho de ignorar tudo e todos, mas isso era mais fácil de se dizer do que fazer. A cada olhar indiscreto e cada sussurro malicioso, a vontade de me justificar e me defender crescia dentro de mim. No entanto, eu sabia que isso só pioraria a situação.

Enviei uma mensagem rápida para o Piquerez, pedindo que nos afastássemos nem que fosse só pra disfarçar. A ideia de sermos vistos juntos naquele momento me deixava apavorada, com medo de alimentar ainda mais as especulações e fofocas.

No fundo, eu sabia que as insinuações sobre nosso envolvimento não eram totalmente infundadas. Mas, naquele momento, revelar a verdade significaria muita coisa e eu não estava pronta para isso.

Ergui os olhos para o espelho, meus cabelos soltos dançavam em ondas naturais, emoldurados por um simples rabo de cavalo. No rosto, apenas o hidratante labial e o protetor solar, aliados indispensáveis para o dia a dia. A roupa, uma escolha casual: a camisa do Palmeiras, branca com detalhes em verde, abraçando meu corpo, e uma calça jeans clara, descontraída e versátil.

A conferência se desenhava em duas etapas: primeiro, seria a vez da minha mãe e do Abel, a dupla dinâmica que era parte dessa jornada. Depois, os jogadores selecionados por Abel e a comitiva técnica tomariam a palavra.

Optando por não me destacar, escolhi um lugar discreto na lateral da sala, ao lado da equipe do time, que observava tudo com atenção. A sala vibrava com uma mistura de expectativa e nervosismo, um sentimento que eu não havia dominado ao longo desses anos sendo filha da minha mãe.

Ela, como sempre, irradiava confiança e serenidade. Se estivesse em seu lugar, estaria explodindo de ansiedade, mas a experiência a ensinou a controlar as emoções.

O burburinho na sala aumentava à medida que a hora da conferência se aproximava. Senti um frio na barriga, uma mistura de adrenalina e empolgação.

A sala de espera era um polo norte particular, mesmo com o calor escaldante do lado de fora. Alguém tinha exagerado no ar condicionado, transformando o ambiente em um freezer gigante. E eu, como sempre, sem blusa de frio ou qualquer agasalho para me proteger. De vez em quando, arrepios tomavam conta do meu corpo, mas eu tentava disfarçar o desconforto com um sorriso forçado.

Minha mãe, atenta como sempre, notou meu estado e me perguntou:

— Está tudo bem? — balancei a cabeça em concordância, tentando esconder o tremor que me percorria. Ela tocou meus braços gelados e confirmou sua suspeita. — Está com frio, né? — assenti novamente, admitindo minha falta de atenção.

Com um sorriso sem graça, tentei minimizar a situação.

— Foi mal, eu sempre esqueço de levar um casaco. — mas minha mãe não se convenceu. — Não, você vai pegar um resfriado. — disse com firmeza. — Todos aqui estão de casaco e você é a única sem. No meu carro tem um casaco do time, vai lá pegar, rápido!

Enquanto ela me dava instruções, observei sua blusa branca com detalhes verdes do time, combinada com sua calça jeans. Uma combinação duvidosa, sim, mas em minha mãe, tudo parecia incrivelmente bom. Era quase uma marca registrada dela.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora