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— Você tá bem? — Lucas perguntou, sua voz suave, mas a preocupação em seu olhar era nítida. 

Eu estava fixada na maçã em minha mão, um símbolo do que eu não conseguia engolir, tanto literal quanto figurativamente.

— Sim. — respondi, concordando com a cabeça, mas a verdade pesava sobre mim como uma âncora, puxando-me para o fundo.

— Não estamos tendo uma conversa normal, Clara. Estou preocupado com você. — ele insistiu, a expressão grave. — Ontem, quando voltei com seu pai, você não saiu do quarto. E à noite, eu te ouvi chorar. Ele estava tão pesado que provavelmente não escutou.

— Tô bem, Lucas. Não precisa se preocupar, tá bom? — avisei, mas a incerteza na minha voz fez com que ele franzisse a testa, concordando relutantemente. — A vida é feita de ciclos, e às vezes eles se encerram, não importa o quão bons ou ruins sejam.

— Eu quase chorei com você. Perder um cara assim é de foder. — ele disse, tentando se fazer de triste, mas sua expressão era um misto de empatia e desconforto. — Não que você não seja linda e que ele não tenha perdido algo, mas...

— Entendi você, Lucas. — um sorriso leve brotou nos meus lábios, mesmo em meio à tempestade emocional que me consumia. A gentileza dele era um raio de sol em meio à neblina.

— Sua mãe me convidou para ir ao campo de treinamento do Palmeiras hoje. Só porque eu disse querer ver gente bonita... — ele comentou, mordendo uma torrada com um ar de brincadeira. — Pensei em levar você.

— Passo. — respondi rapidamente, tentando desviar a conversa. — Tenho outras coisas para fazer. Inclusive achar uma roupa para o Rock in Rio. Sim, ainda não achei.

— Ótimo. Então faz assim: vamos ao treino, depois eu te ajudo a achar uma roupa. — ele propôs, como se já tivesse planejado tudo, a determinação em sua voz me desarmava.

— Ok. Fechado. — concordei, sentindo um impulso de aceitar essa proposta como uma forma de escapar.

— Achei que você não iria aceitar por causa do seu ex-namorado.

— Não posso deixar de viver por causa disso. — disse, levantando-me com uma nova determinação que fervia dentro de mim. Eu precisava me libertar, mesmo que apenas por um momento. — Vou me arrumar e te encontro aqui em alguns minutinhos.

Com um passo decidido, deixei a mesa, a adrenalina correndo em minhas veias, sabendo que essa pequena fuga poderia ser o que eu precisava para começar a enfrentar o que estava dentro de mim.

Naquela manhã, São Paulo estava frio, mas a previsão prometia calor à tarde. Quando fui me vestir, escolhi um vestido colado, não tão curto, de um marrom escuro que acentuava meu corpo. Completei com uma botinha da Vans e uma jaqueta jeans preta, propositalmente oversized.

Deixei meu cabelo solto e reforcei o corretivo e blush no rosto, tentando esconder o cansaço e a dor de uma noite inteira chorando. Enquanto olhava para o espelho, notei a aliança ainda em meu anelar, e uma batalha interna começou. Deveria tirá-la? Jogá-la fora? Ou deixá-la guardada? Hesitei, mas, no final, optei por deixá-la ali.

Na sala, encontrei Lucas saindo do quarto do meu pai. A expressão dele era de pura travessura.

— As minhas camisas estavam amassadas, então fui roubar uma do seu pai. — ele mostrou a camisa que vestia, um sorriso malicioso no rosto. — Ele é estiloso, até.

Revirei os olhos, rindo da situação. Depois de quase uma hora tentando arrumar o cabelo, Lucas finalmente terminou, e eu estava prestes a desistir da ideia de sair com ele.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora