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— Fica aí!— Lucas disse, já preparando o celular. — Vou tirar uma foto sua e mandar pra tia Leila.

Obedeci, me posicionando num canto do aeroporto e fazendo uma pose casual, com um sorriso no rosto. Depois da foto, enquanto Lucas mexia no celular, percebi duas garotas se aproximando, elas não pareciam ter mais que uns 20 anos e ficaram me olhando, como se hesitassem em vir até mim. Uma delas, finalmente, criou coragem e sorriu.

— Você é a Clara Maria, né? — perguntou, e eu assenti, curiosa sobre onde aquilo iria.

— Você é uma diva! — ela completou, com uma empolgação genuína que fez Lucas levantar o olhar. — Juro, seu estilo é lindo, seu cabelo é perfeito, você é filha da Leila... e ainda namora o Piquerez!

Ao ouvir isso, senti o rosto esquentar. Um incômodo sutil, quase imperceptível, mas ainda assim presente. Tentei manter a naturalidade, embora a última parte tivesse trazido de volta toda a confusão de sentimentos que eu tentava esquecer. Ela então pediu uma foto comigo, para ela e a amiga, e eu aceitei. Tirei as fotos e elas foram embora, cochichando entre si, claramente satisfeitas com o encontro.

Assim que saíram, Lucas, com aquele olhar afiado, comentou:

— Você é uma diva pra elas.— ele riu, com um toque de sarcasmo. — Engraçado que antes de namorar quem você namorava, ninguém achava isso.

Revirei os olhos, mas sua observação me atingiu de alguma forma. Aquela relação me colocava numa posição que eu nunca pedi. E, agora, eu lidava com as consequências de algo que já tinha acabado, mas que parecia nunca ter realmente se despedido.

Do lado de fora do aeroporto, chamei um carro de aplicativo para o hotel onde ficaríamos hospedados. A cidade estava uma loucura. O maior festival de música do país movimentava tudo; o trânsito estava travado, as calçadas transbordavam de gente, e a energia pulsante do Rio parecia vibrar junto com a minha ansiedade. O trajeto, que em dias normais levaria menos de uma hora, levou quase três, e cada minuto parecia mais quente e sufocante. Eu derretia dentro do carro, com a minha blusa de manga longa que havia escolhido para o frio de São Paulo, mas que agora se tornava uma prisão.

— Castigo do monstro.— murmurei para Lucas, que também abanava o rosto, tentando se refrescar.

O caminho demorava, mas parte de mim agradecia por aqueles minutos extras de distração. Em meio ao caos da cidade e ao calor insuportável, por um breve momento, consegui afastar as lembranças e me concentrar no que estava por vir, tentando me lembrar de que essa viagem iria ser memorável.

Depois de chegarmos ao hotel, a primeira coisa que fiz foi correr para o banheiro. A fome até me incomodava, mas a sensação de um banho refrescante era tudo o que eu conseguia desejar naquele momento. Fechei a porta e senti o alívio imediato de deixar a bagagem do lado de fora. Lavei o cabelo com calma, sentindo a água fria escorrer pelo corpo e aliviar o calor que me perseguia desde o trajeto interminável.

Depois de lavar o rosto com meus produtos favoritos, comecei minha rotina de skincare. A cada passo, sentia uma leveza voltando, uma sensação de cuidado que, por mais simples que fosse, me ajudava a me sentir renovada. Depois de finalizar, escolhi uma roupa bem leve, apropriada para o calor intenso do Rio, e vesti um biquíni por baixo, já imaginando que aproveitaríamos a praia ou a piscina.

Coloquei uma camisa branca oversized, com alguns botões, e um short jeans de cintura alta, que adicionava um estilo descontraído. Os acessórios, eram óculos de sol, colares em camadas, pulseiras e um boné, que completavam o visual com uma pegada moderna e descomplicada. E para carregar as minhas coisas, a minha querida e fiel ecobag.

Após o almoço, Lucas me puxou para um passeio turístico improvisado, mas cheio de entusiasmo. Ele tinha tudo planejado: cada parada, cada ponto estratégico para fotos e vídeos. E assim fomos, desbravando as ruas do Rio, absorvendo o clima vibrante e colorido que só aquela cidade tem a oferecer. Nos pés, as Havaianas brancas com a bandeirinha do Brasil.

A certa altura, passamos por um barzinho perto da orla de Copacabana, o mar resplandecendo ao fundo e as calçadas fervendo. O sol estava tão forte que dava a sensação de nos empurrar para dentro do bar em busca de sombra e uma brisa mínima. Olhei para a praia, lotada de gente sob guarda-sóis coloridos, mas sabia que se me arriscasse a pisar na areia naquele horário, a única lembrança que levaria seria uma pele completamente danificada.

Nos acomodamos em uma mesa e pedimos bebidas leves. Enquanto o garçom trazia os copos com gelo, Lucas, observando a movimentação caótica e a beleza ao nosso redor, soltou:

— Eu esqueço que o Brasil ainda consegue ser um país lindo no meio de tanta merda. — ele riu, talvez percebendo a sinceridade amarga de sua própria fala. — Acho que foi meio fora de órbita, né?

Sorri, entendendo o que ele queria dizer.

— Não totalmente. Mas olha essa praia, cara! Tá lotada! — apontei para o movimento. — Esse sol tá terrível. — fiz uma careta, o calor praticamente me derretendo.

— Olha só o lado paulista falando mais alto! — ele retrucou, provocando.

— Nem é isso! — defendi, rindo. — Eu só sei que minha pele vai fritar se eu me expor nesse sol. Não tô acostumada.

— E eu, que venho direto do frio de Londres? — Lucas balançou a cabeça, ainda se abanando. — Isso aqui é como estar no inferno!

Caímos na risada, aliviados por um momento de leveza em meio ao calor. Entre um gole e outro, conversamos sobre tudo e nada, enquanto eu tentava absorver aquela alegria simples e despreocupada, deixando o peso dos últimos dias evaporar aos poucos, junto com o calor do Rio.

Depois de alguns drinks e petiscos, Lucas, com seu entusiasmo inabalável, anunciou que tínhamos um passeio de barco marcado com um conhecido dele. A ideia me deixou um pouco desconfiada, quem era esse "conhecido" e por que eu só estava sabendo disso agora? Mas, ao mesmo tempo, a perspectiva de um passeio de barco parecia relaxante, então aceitei.

Pegamos outro carro de aplicativo até o ponto de encontro. Chegando lá, para minha surpresa, havia um pequeno grupo esperando. Olhei para Lucas com aquela expressão clara de "não era só o seu conhecido?", e ele, percebendo a minha dúvida, logo tratou de explicar que o tal amigo dele tinha trazido mais algumas pessoas. Soltei um suspiro resignada. Não tinha muito o que fazer, já estávamos ali, então me deixei levar pela espontaneidade do momento.

O grupo era animado, e todos vieram nos cumprimentar com sorrisos e abraços calorosos. Eles pareciam ser aquele tipo de gente que curte até o último segundo, prontos para transformar qualquer encontro numa festa. Havia uma garota e dois caras, todos simpáticos, e, enquanto se apresentavam, percebi que eles já sabiam quem eu era. Disseram que Lucas havia falado sobre mim, o que me fez rir nervosamente, tentando imaginar o que ele tinha dito. Eu conseguia imaginar suas piadas exageradas e histórias, sempre com aquele toque dele de ironia.

— Espero que ele não tenha inventado nada comprometedor. — brinquei, tentando descontrair.

Um dos rapazes, rindo, respondeu:

— Ah, só ouvimos coisas boas... e algumas histórias engraçadas.

O passeio de barco seria em Angra dos Reis. Eu já ouvi falar do lugar, suas praias paradisíacas, as ilhas com águas cristalinas mas não me recordava de ter ido antes. Entramos no carro de um dos amigos de Lucas, e lá fomos nós rumo ao destino. Antes de sair, mandei uma mensagem para a minha mãe, compartilhando minha localização conforme o pedido dela. Ela nunca confiou muito no Lucas e, menos ainda, nos amigos dele. Talvez estivesse certa em ter suas reservas, mas eu estava disposta a me permitir essa aventura.

Durante a viagem, o cansaço finalmente me pegou, e confesso que cochilei algumas vezes. Mas o silêncio durava pouco: quase toda hora eu era despertada, ora por um dos caras falando alto demais, ora pela garota rindo de um jeito tão peculiar que me fazia rir também. Sua risada parecia uma mistura estranha de hiena e risada histérica, algo que poderia ser irritante, mas era tão autêntico e bizarro que eu acabava rindo junto, contagiada pela leveza do momento.

Ao olhar pela janela, a paisagem mudava lentamente. O ar parecia mais fresco, o cheiro de mar começava a surgir, e a ansiedade de chegar logo em Angra dos Reis tomava conta de todos. Entre uma risada e outra, senti um misto de excitação e liberdade, como se estivesse me deixando levar para um lugar que prometia memórias novas, longe de tudo que havia me prendido nas últimas semanas.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora