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São Paulo | Brasil
21 de Abril.

10 dias.

Esse era o número exato de dias da minha contagem cruel do silêncio que me atormentava desde aquele dia no CT. Um abismo de silêncio se abriu entre nós, e cada segundo se arrastava como uma eternidade. Eu, em meu canto, me afundei em um mutismo torturante, refletindo sobre as palavras que ficaram suspensas no ar, sem resposta.

Era o fim? A pergunta martelava minha mente, ecoando como um sino fúnebre. Sim, era inegável que o clima carregado e a falta de comunicação apontavam para um desfecho amargo. Talvez fosse dramático, exagerado, mas a dor era real e insuportável.

Cada dia se transformava em um tormento. A cada amanhecer, uma esperança insensata florescia em meu peito, esperando por uma mensagem, um sinal, qualquer coisa que indicasse que ele ainda existia em minha vida. Mas a frustração era constante, alimentando a agonia que me consumia.

Em meio ao turbilhão de emoções, me agarrei aos estudos. A prova que se aproximava no final do mês se tornou meu refúgio, um escape momentâneo da angústia que me corroía. Mergulhei nos livros, buscando consolo no conhecimento, na busca de algo que me libertasse daquela sensação horrível.

Mas, mesmo entre os textos, slides, avaliações e conceitos abstratos, sua imagem era inevitável. Um fantasma que assombrava meus pensamentos, me fazendo questionar o que havia acontecido, o que eu poderia ter feito diferente. A cada noite, adormecia com o coração apertado.

O silêncio ecoava em meus ouvidos, amplificando a dor e a incerteza. Mas, em meio à tempestade, uma chama tênue de esperança ainda ardia. Uma voz interior me sussurrava que talvez, um dia, a quietude se rompesse e a comunicação renascesse, trazendo consigo a paz e o entendimento que tanto ansiava.

Mas por enquanto, restava apenas a espera.

Uma espera agonizante, permeada por dúvidas e incertezas. O futuro era um enigma, e eu só podia me agarrar à esperança de que, um dia, aquela sensação finalmente se dissipasse e a paz tomasse conta de meu coração.

A mentira se tornou meu escudo. Desde o dia no CT, a presença de dele se tornou insuportável, um lembrete constante da dor que me consumia. Meu refúgio? O silêncio do meu quarto, onde os livros e apostilas se transformavam em aliados contra a angústia.

"Preciso estudar para a prova." Era a desculpa que eu repetia para minha mãe, justificando minha ausência no CT. Ela, aceitava sem questionar, acreditando que minha dedicação aos estudos era a única razão para minha mudança de comportamento.

Mas a verdade era bem diferente. A cada passo que eu dava em direção ao CT, meu coração se apertava em um nó de angústia. A ideia de vê-lo, de sentir sua presença, me causava um medo visceral. O que eu diria? Como me comportaria?

Um dia, a provação se intensificou. Minha mãe, com seu entusiasmo, chegou em meu quarto sem bater, anunciando o jogo do Flamengo contra o Palmeiras no Allianz Parque.

— Clara, hoje você poderia ir no Allianz né? — perguntou com empolgação, sua voz carregada de entusiasmo pelo jogo.

— Mãe, eu tenho outras necessidades agora. — apontei para o notebook à minha frente, tentando desviar sua atenção para minhas responsabilidades. — E tenho aula à noite.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora