— Não sabia que você estava aqui. Pensei que você disse que era pra eu levar.— minha mãe disse assim que entrou no meu quarto e se deparou comigo mexendo nas roupas.
A voz surpresa da minha mãe me fez dar um pulo. Eu não a tinha escutado chegar e estava tão concentrada nas minhas coisas que nem a vi entrar.
— Eu precisava vir. Aconteceu uma coisa que me fez pensar que era melhor eu vir e aproveitar pra pensar um pouco.
— Quer me contar?— ela perguntou, sentando-se na beirada da cama.
Sua expressão era gentil e preocupada, me encorajando a abrir meu coração.
— Não.— respondi, desviando o olhar.
As palavras entalavam em minha garganta. Eu queria contar tudo para ela, mas algo me prendia, me impedindo de compartilhar meus sentimentos.
— Ok.— ela disse, com um tom compreensivo.— Tenta não bagunçar tá? A Vera não voltou de viagem ainda. E eu não vou ter tempo de arrumar.
Minha mãe se levantou da cama e se dirigiu à porta, me deixando sozinha com meus pensamentos.
A sensação de ter que compartilhar aquilo com alguém estava borbulhando dentro de mim e além do meu pai (que não era uma mulher) ela era a única pessoa que eu tinha.
Eu precisava desabafar, contar para alguém sobre a conversa que tive com Joaquín e sobre as dúvidas que me atormentavam. Minha mãe era a pessoa mais próxima de mim, tirando o meu pai.
Respirei fundo e resolvi deixar meu orgulho de lado, por mais que depois eu pudesse me arrepender.
Tomando coragem, decidi abrir meu coração para ela.
— Joaquín pretende ser pai.— falei, a voz baixa e hesitante.
Ela parou no meio do caminho, virando-se para me olhar com surpresa.
— Você quer ser mãe?— ela perguntou, arqueando as sobrancelhas.— Você é a última pessoa no universo que eu imagino grávida. Mesmo que possa agir irresponsavelmente com a sua vida sexual.
Sua voz era incrédula, como se não pudesse acreditar no que seus ouvidos estavam ouvindo.
— E é esse o problema.— falei, deixando a peça de roupa que eu estava segurando cair no chão.— Eu não quero ser mãe, mas eu sei que essa minha decisão vai custar um sonho dele e não quero isso. E antes que pense, não, eu não vou me tornar mãe só por causa de um sonho que não é meu.
— Eu não queria ser mãe. — ela disse, sua voz carregada de uma sinceridade brutal. — Mas seu pai me engravidou e sua avó disse que me mataria se eu te abortasse. — ela ergueu os ombros com uma resignação que parecia antiga. — Então segui com a gravidez. Por um bom tempo, eu te odiei. — ela acrescentou, sem nenhum filtro.
— Mãe?! Eu era um bebê! — exclamei, incrédula.
— Sim. — ela concordou, seu olhar distante. — Mas eu interrompi muitas coisas da minha vida por sua causa. Não te culpo, fui burra por ter deixado seu pai... você sabe. — ela disse, e eu concordei, entendendo o peso de suas palavras. — Mas depois que você nasceu e eu te vi pela primeira vez... Clara, você mudou completamente a minha vida.
Seus olhos estavam agora iluminados, possuídos por um brilho de puro amor maternal.
— Eu não queria deixar ninguém te tocar, além dos médicos e enfermeiros. Você era a minha menininha. Tão delicada, indefesa e sensível. E ali eu soube que existia um amor maior do que o primeiro namorado. — ela disse, me fazendo rir, aliviando um pouco a tensão. — Eu sei que te odiei por uma parte da gravidez e quis te tirar de mim, mas depois... depois eu não conseguia enxergar a minha vida sem você.
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Amor em Jogo - Piquerez
FanfictionO que fazer quando o seu coração entra em uma partida sem avisar? Clara sempre preferiu viver longe dos holofotes que envolvem a fama de sua mãe, Leila Pereira, presidente do Palmeiras. Enquanto se dedica aos estudos de publicidade e tenta encontra...