53

5.3K 452 61
                                    

São Paulo | Brasil
25 de Abril.

Com passos pesados e o coração ainda apertado pela briga com a minha mãe, comecei a recolher minhas coisas para me mudar para o apartamento do meu pai. Cada peça que dobrava e colocava na mala era um lembrete da frustração que sentia por saber que, apesar de tudo que aconteceu, ela jamais mudaria seu jeito. A dor de saber que minha própria mãe era capaz de me magoar tanto me acompanhava como uma sombra.

O voo dela só chegaria à noite, junto com os meninos. Tentei aproveitar essa folga forçada para organizar meus pensamentos e sentimentos. Cada item que colocava na mala era um passo em direção a um novo começo, uma fuga temporária da realidade sufocante em que me encontrava.

Vera, se ofereceu para me ajudar com tudo, mas recusei com um sorriso forçado. Eu precisava de um tempo sozinha para processar tudo o que estava acontecendo. Me despedi dela com a promessa de que a manteria informada sobre a situação e a incentivei a aproveitar as férias com a Melissa.

Com a mala de rodinhas e a bolsa nas costas, apaguei todas as luzes do apartamento, me certificando de que não havia nada que me prendesse àquele lugar. Antes de sair, deixei o cartão de crédito em cima da mesa de centro da sala. Não queria mais usar aquele objeto que me lembrava da dependência financeira que eu tinha da minha mãe. Era hora de romper esse ciclo tóxico e construir minha própria independência.

Com a porta do apartamento se fechando atrás de mim, senti uma mistura de medo e esperança tomando conta de mim. Medo do futuro incerto que me aguardava, mas também esperança de que finalmente eu teria a chance de construir uma vida livre dos padrões sufocantes que me cercavam. A jornada seria difícil, mas eu estava disposta a enfrentar qualquer obstáculo para alcançar a liberdade que tanto almejava.

Informei apenas ao Joaquín sobre minha mudança repentina para o apartamento do meu pai. A despedida do meu quarto, um refúgio que durante tanto tempo me acolheu, foi dolorosa, mas sabia que era necessária naquele momento. A dominação que minha mãe exercia sobre minha vida me aterrorizava, e eu reconhecia que aquilo não era saudável para mim.

Apesar de ter ganhado um carro de presente de aniversário aos 18 anos, decidi não levá-lo. Precisava de ajuda para transportar minha mala e bolsa até o apartamento do meu pai, que ficava próximo à Avenida Paulista, no centro da cidade. Um lugar que eu visitei poucas vezes e que agora estaria vazio por um bom tempo, até que ele retornasse de suas viagens de negócios pelo exterior.

Com a mala no porta-malas do Uber e a bolsa no banco de trás, dirigi pelas ruas movimentadas da cidade ao som de Coldplay, que coincidentemente tocava na rádio. Era início de tarde, o sol já começava a se intensificar e as ruas estavam tomadas por pessoas apressadas.

Pensei em mandar mensagens para o Joaquín, mas sabia que seria em vão. Ele ainda estava em voo, e sua última mensagem sugerindo que eu fosse para sua casa ecoava em minha mente. Mas, por enquanto, a ideia de estar sob o mesmo teto que ele me deixava tão confortável.

Precisava de um tempo para me reestruturar, para me livrar da nuvem de tristeza e insegurança que pairava sobre mim. O apartamento do meu pai seria meu refúgio temporário, um lugar onde eu poderia me sentir livre e segura para refletir sobre o que realmente queria para minha vida.

Enquanto o carro passeava pelas ruas, observei as pessoas ao meu redor, cada uma com suas histórias e seus desafios. Me senti pequena diante da vastidão da cidade, mas ao mesmo tempo, uma chama de esperança se acendeu dentro de mim. Eu sabia que era forte, que tinha a capacidade de superar qualquer obstáculo que a vida colocasse em meu caminho.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora