5

10.7K 766 132
                                    

São Paulo| Brasil
4 de Abril.

— Poderia ao menos disfarçar essa cara de sono, Clara? — minha mãe pediu, com a voz cortante como uma lâmina de barbear, assim que me viu saindo do carro, ainda cambaleando sob o efeito do sono. — Parece que você está de ressaca.

Suspiro fundo e coço os olhos ainda pesados pelo sono enquanto o sol da manhã insiste em cutucar meu rosto. O convite da Bruna para o evento beneficente do Palmeiras parecia uma ótima ideia ontem à noite, mas o da minha mãe de hoje, às 7 da manhã, tudo que eu quero é voltar para a cama e hibernar até a próxima semana.

— Eu só odeio acordar cedo. — resmunguei, tentando manter um tom de voz neutro. — Mas prometo que não vou parecer sonolenta ou tediosa durante o tempo que ficarmos aí.

— Eu agradeço. — ela disse secamente, enquanto ajustava os óculos escuros no rosto e ajeitava o cabelo.

Caminhamos lado a lado em direção aos portões do CT, sob o sol leve da manhã. Minha mãe, como sempre, era um furacão de simpatia e sociabilidade, cumprimentando cada pessoa que cruzava nosso caminho com um sorriso radiante e um aperto de mão firme. Eu, por outro lado, me sentia como um patinho feio em meio a um bando de cisnes majestosos.

Não conhecia ninguém ali, e a timidez me impedia de iniciar qualquer tipo de conversa. Me limitava a murmurar "oi" ou "bom dia" timidamente, enquanto observava com desinteresse os stands de produtos licenciados do time.

O campo de treinamento, que se estendia diante de nós, era bem menor do que eu imaginava. Parecia mais um campo de futebol amador do que o local onde os jogadores profissionais treinavam. Minha mãe, no entanto, insistia em dizer que era a mesma coisa, só que sem as arquibancadas e a multidão barulhenta.

Enquanto ela conversava animadamente com um grupo de homens sobre as últimas contratações do time, me senti como uma mera figura decorativa, um acessório que ela carregava para demonstrar seu status social e sua influência no clube. O tédio me consumia, e eu só queria que o dia terminasse logo para que eu pudesse voltar para o meu quarto e afundar em um sono profundo e reparador.

O vento frio soprava forte em meu rosto enquanto eu caminhava pelo CT, me arrependendo amargamente de ter esquecido o casaco em casa. O clima em São Paulo não era dos melhores naquela manhã, e a temperatura gelada me invadiu completamente, me fazendo abraçar os próprios braços na tentativa inútil de me aquecer.

Observei os bancos vazios ao meu redor, com inveja das poucas pessoas que, ao contrário de mim, estavam agasalhadas com casacos quentes. Me sentei em um deles, sentindo o frio penetrar cada vez mais em meus ossos.

— Eu vou ficar aqui nesse banco, tá?— avisei para minha mãe, que assentiu com a cabeça enquanto se entretida em conversar com outras pessoas.

Desesperada para me distrair do frio, peguei meu celular e enviei mensagem para Bruna, reclamando da minha situação. Como sempre, ela riu da minha aflição, me fazendo sentir um pouco menos miserável. Fiz uma careta engraçada para a câmera e a enviei para ela, sem perceber que estava sendo observada.

Ergui a cabeça e meus olhos se depararam com ele: Piquerez, entrando no campo com seu uniforme impecável. Mas ao invés da camisa de manga curta que ele usara no dia anterior, ele vestia uma de manga longa branca, junto do uniforme de frio.

Um frio diferente me percorreu agora, mas não era de frio. Era um frio na barriga, uma mistura de nervosismo e excitação. Ele estava ali, perto, e eu não sabia o que fazer.

Continuei observando enquanto ele se alongava e se preparava para o treino, hipnotizada por seus movimentos graciosos e pela sua aura de profissionalismo.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora