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Em dois dias eu embarcaria para o Rio de Janeiro, dois dias inteiros em que eu e Joaquín não trocamos sequer uma palavra. Era como se, de repente, um abismo tivesse surgido entre nós, um silêncio denso e incômodo, preenchendo cada espaço onde antes havia conversa, risadas e aquela cumplicidade que só nós dois tínhamos. Eu sentia o peso desse silêncio como se fosse uma pedra no peito, algo que não me deixava respirar direito. Tudo parecia congelado entre nós, e cada minuto que passava tornava a reconciliação mais difícil.

A verdade é que eu queria resolver essa situação antes de ir para o festival, mas parecia impossível. Eu estava atolada de coisas para fazer, cada detalhe da viagem demandava atenção, além de outros compromissos que surgiam como uma avalanche. Por outro lado, Joaquín também parecia ocupado, talvez até mais que eu, mergulhado no próprio mundo, sem abrir espaço para qualquer conversa. E isso me frustrava.

Minha mãe, ao descobrir nosso desentendimento através do meu pai, que tem uma língua afiada quando o assunto é fofoca familiar, tentou me distrair de todas as formas possíveis. Ela sugeriu que eu fosse a um jogo ou, no mínimo, a um treino do Palmeiras. Era óbvio o que ela estava tentando fazer. Mas eu sabia que não era isso que resolveria as coisas com Joaquín.

E, além disso, eu também entendia que ele queria e precisava de espaço.

— Clara? — a voz do meu pai veio acompanhada de batidas suaves na porta do quarto. — Tá acordada? — perguntou, como se não tivesse certeza, e eu respondi com um resmungo que ele prontamente entendeu como um "sim". — Sua mãe pediu pra eu te convencer a ir no jogo de hoje. O que eu digo pra ela?

Suspirei, sabendo que ele estava sendo o mensageiro de algo que eu já tinha ouvido. Sem me virar para ele, continuei olhando para a tela do computador, as palavras se embaralhando na minha cabeça, mas sem foco.

— Que eu não quis. — falei simplesmente, tentando encerrar o assunto, mas ele entrou no quarto de qualquer jeito.

— Eu sei que você não quer ir por causa do Joaco e tudo mais, mas... Pensa na sua mãe também, você sabe o quanto aquele time horrível e feio é importante pra ela. — ele fez uma pausa, provavelmente tentando encontrar as palavras certas para me convencer. — E você é filha dela, família, sabe?

Revirei os olhos, já imaginando onde essa conversa ia parar. Mas a verdade é que, apesar de tudo, meu pai tinha um ponto. Minha mãe amava aquele time de um jeito que eu nunca entendi completamente, e o futebol, de alguma forma, era a linguagem dela para conectar a família, para manter um fio de união entre nós.

— Eu vou, mas se você for comigo. — apontei para ele com um sorriso travesso, sabendo que isso o colocaria numa posição desconfortável.

Ele fez uma careta imediata, arregalando os olhos em incredulidade.

— Você sabe que eu não gosto daquele time, e nem é o meu timão que vai jogar contra, e...

— "Família, sabe?" — repeti suas palavras com um tom provocativo, e ele me lançou um olhar de rendição sutil. — Ainda sou sua filha, e ela é minha mãe, papai.

Ele balançou a cabeça, tentando não sorrir, mas claramente se divertindo com a situação.

— E você acabou de deixar claro isso. Foi tão ardilosa quanto ela. — disse, e não consegui evitar de rir alto.

Era exatamente o tipo de comentário que ele faria.

— Você tem algumas horas pra se arrumar, não demora, pelo amor de Deus. — completou, quase suplicando, e sua voz carregava um tom brincalhão, mas genuíno.

Eu sorri sozinha depois que ele saiu do quarto, sentindo um pouco do peso da situação se dissipar.

Depois de finalmente concluir o trabalho que parecia interminável, corri para tomar um banho rápido, mas o suficiente para relaxar. Entrei no chuveiro e comecei o meu ritual de sempre: lavei o cabelo com aquele shampoo que deixava os fios macios e cheirosos, ensaboei o corpo com calma, sentindo a água quente aliviar a tensão acumulada, e, ao sair, fiz minha rotina completa de skincare, passando cada produto com dedicação.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora