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Abri os olhos com um sobressalto, o coração batendo descompassadamente no peito. A tela do celular anunciava uma hora cruel: 9h30 da manhã.

Droga! Eu estava atrasada!

O treino já deveria ter iniciado há pelo menos uma hora, e o pânico tomou conta de mim. Levantei da cama às pressas, tropeçando nos próprios pés e derrubando livros e roupas pelo caminho. A mente girava em círculos, tentando entender como eu pude dormir por tanto tempo.

Joaquín!

Ele deveria ter me acordado, não? Senti uma onda de raiva subir pelo meu corpo, misturada com a frustração por minha própria irresponsabilidade. Naquele momento, eu era capaz de atropelar o mundo, inclusive o próprio Piquerez, se o encontrasse pela frente.

Corri para o banheiro, me jogando no chuveiro com a intenção de lavar a culpa e o sono dos meus olhos. A água quente escorria pelo meu corpo, mas nada parecia acalmar a tempestade de emoções dentro de mim.

Vesti em tempo recorde, enfiando as primeiras roupas que encontrei pelo caminho. Peguei meu carro e arranquei em alta velocidade pelas ruas da cidade, ignorando os sinais vermelhos e as buzinas dos outros motoristas.

Multa? Que se dane!

Eu tinha um medo maior: a fúria da minha mãe. A ideia de enfrentar sua ira me deixava gelada por dentro, mesmo com o calor do sol da manhã de batendo no meu rosto.

Cheguei ao CT da Academia em tempo recorde, mas o campo estava vazio. Os meninos não estavam ali, como eu imaginava que estariam como sempre. Um funcionário, com cara de poucos amigos, me informou que o treino havia sido transferido para a academia da zona leste, a pedido da minha mãe e do Abel.

Revirei os olhos com frustração.

Era óbvio que minha mãe estava por trás dessa mudança. Ela não queria que eu estivesse no treino, e agora eu teria que atravessar a cidade inteira para chegar até a academia.

O trânsito estava infernal, e cada minuto que passava aumentava a minha irritação. Eu queria gritar, chorar, fazer qualquer coisa para aliviar a tensão que me consumia. Meus dedos tamborilavam no volante, impacientes, enquanto os carros se arrastavam como lesmas pelas ruas congestionadas.

Finalmente, depois de o que pareceu uma eternidade, cheguei à academia. Entrei com passos pesados, o rosto vermelho de raiva e cansaço. Eu sabia que uma bronca épica me aguardava, mas naquele momento, eu só queria me jogar em um canto e desaparecer.

Quase não liberaram o meu acesso, minha mãe não queria e eu então pedi permissão para o Abel e ele concedeu. Com toda certeza minha mãe depois implicaria com ele por causa disso mas eu não achava justo ela misturar os dois lados de nossas vidas assim, pessoal e profissional.

— Você me fez cruzar a cidade pra...

— Você está atrasada e nem deveria estar aqui.— fez sinal pra eu me calar.— Aqui é apenas para pessoas autorizadas e você não faz mais parte disso. Então por favor, vá embora.

— Eu não vou. Se quiser vai ter que me expulsar.— cruzei os braços, ali na porta de entrada.— Você ontem pareceu compreender o que está acontecendo, mãe! Agora mudou?

— Eu compreendi o seu lado como minha filha. Mas como funcionária eu não te quero mais aqui.— avisou apontando.

— Por que é tão dura comigo, cara? Pelo amor de Deus!— suspirei.— Eu vou ficar aqui.

Empurrei a porta de vidro da academia com força, ignorando a possível repreensão da minha mãe. O lugar era enorme, um verdadeiro labirinto de aparelhos, pesos e equipamentos. Meus olhos percorriam freneticamente a cena em busca dele, mas ele não estava em lugar nenhum.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora