No voo de volta para o Brasil, o tempo parecia voar. Aconchegada no ombro de Joaquín, eu me deixava levar pela história do desenho animado que assistíamos juntos.
Em meio à descontração, Joaquín apontou para a personagem Ravena na tela.
— Quando você tá de TPM, você é igual a essa roxinha aí. — ele disse com um sorriso brincalhão. — E quando está fora da TPM, vira a de cabelo rosa.
Olhei para ele, surpresa com sua comparação.
— Você é bobão feito o Robin. — retruquei, fingindo indignação. — E apaixonado fica igualzinho o Mutano.
— Eu fico verde? — ele perguntou, com espanto.
Não pude conter uma risada antes de me inclinar e beijá-lo nos lábios.
— Se verde é assim, imagina maduro.— Veiga disse brincando enquanto pelo corredor do avião. — Foi mal, é que eu tava passando e ouvi.
— Zé povinho, fofoqueiro. — Joaquín disse rindo, sua voz carregada de uma mistura de desprezo e diversão.
— Pausa aí, vou no banheiro. — avisei, me levantando do meu lugar. Ele concordou com um aceno de cabeça, mas em seguida me olhou com um sorrisinho malicioso. — Sozinha. — enfatizei, e ele imediatamente murchou, uma expressão de fingida decepção tomando conta de seu rosto.
Deixei o meu assento e caminhei pelo corredor estreito do avião. Ao chegar à cabine do banheiro, vi que estava marcada como livre. Toquei na maçaneta de metal frio, pressionando-a levemente para baixo e abrindo a porta.
Assim que entrei, verifiquei o estado do pequeno cubículo. Era um avião cheio de homens e eu não sabia se todos realmente eram higiênicos. Para minha sorte, constatei que o local estava devidamente limpo. Suspirei aliviada e esvaziei minha bexiga, em seguida dei descarga. Lavei as mãos na pia e fiquei tentando arrumar algumas mechas rebeldes do meu cabelo em frente ao espelho.
De repente, alguém bateu na porta com insistência.
— Está ocupado! — falei alto, esperando que a pessoa entendesse, mas a batida veio novamente, ainda mais insistente.
Revirei os olhos, já irritada, mas ciente de que provavelmente era Joaquín, decidido a me provocar. Abri a porta com um gesto brusco, preparada para lhe dar uma bronca, mas meus olhos deram de cara com Richard. Ele não me deu tempo de reagir, simplesmente entrou e fechou a porta atrás de si, deixando-nos em um espaço ainda mais apertado e carregado de tensão.
— Então era isso que você ia me contar quando pediu pra conversarmos depois? — ele perguntou direto, e eu suspirei, sentindo o peso de sua decepção e raiva. — Você estava esse tempo todo com ele e não teve a coragem de me contar, Clara? Mas que...
— Eu não tenho que te dar satisfações da minha vida, Richard. Nunca tive nada com você, nunca te devi nada. Se por um acaso você achou que eu devia, sinto muito, mas você se enganou. — falei enquanto apontava para ele, minha voz cortante, minha língua trabalhando mais que um fuzil automático, disparando verdades que eu mantive guardadas por tempo demais.
Richard permaneceu imóvel, os olhos fixos nos meus, enquanto sua expressão mudava de confusão para um entendimento doloroso. O silêncio entre nós era ensurdecedor, carregado de tudo o que não fora dito antes.
— E quando falei que precisava falar com você, era pra dizer que você estava passando dos limites. Eu te dei espaço pra sermos amigos, mas você nunca ligou pra isso, sempre procurou brechas pra tentar outra coisa, mesmo sabendo que eu tenho um namorado.
Acrescentei, minhas palavras saindo rápidas e afiadas, enquanto ele absorvia cada uma, seus olhos refletindo um turbilhão de emoções conflitantes. Era óbvio que seu cérebro estava reformulando todas aquelas informações, tentando encontrar um ponto de ancoragem na nova realidade que eu acabara de expor.
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Amor em Jogo - Piquerez
FanfictionO que fazer quando o seu coração entra em uma partida sem avisar? Clara sempre preferiu viver longe dos holofotes que envolvem a fama de sua mãe, Leila Pereira, presidente do Palmeiras. Enquanto se dedica aos estudos de publicidade e tenta encontra...