Passar por ele e ignorá-lo naquele dia foi uma das coisas mais duras que já tive de fazer. Senti cada músculo do meu corpo resistindo, como se parte de mim insistisse em se voltar para ele, em ceder à vontade desesperadora de olhar em seus olhos só mais uma vez, talvez encontrar ali algum sinal de que ele também estava sofrendo, de que sentia minha falta. Mas me mantive firme, segurando cada pedaço do meu coração que se estilhaçava silenciosamente. No final daquele mesmo dia, quando encontrei uma roupa para o Rock in Rio, tentei me distrair, me enchi de expectativas e planos, mas a ansiedade que explodia dentro de mim era mais sobre o passado do que sobre o futuro.
A verdade era que Joaquín não me saía da cabeça. Por mais que eu tentasse afastar seus traços do meu pensamento, lá estava ele, a cada esquina do meu coração, me lembrando de como rimos juntos, de como ele sabia me acalmar com um simples toque. Sabia que precisava tirá-lo de dentro de mim da mesma forma que ele me tirou da vida dele, com frieza, com aquela decisão firme que ele teve.
Mas será que ele sentiu também? Será que ele hesitou ao dizer adeus, que nem eu hesitava agora, antes de embarcar para o Rio? Por um momento, quis desistir, voltar atrás, fazer qualquer coisa para ficar mais perto de onde ele estava. Eu queria tanto que essa viagem não fosse necessária.
Foi então que Lucas, sempre observador, percebeu meus pensamentos vagando longe e disparou:
— Ele não vai vir correndo por esse aeroporto e pedir pra você não ir, Clara. Acorda.
Aquelas palavras caíram como um balde de água fria. Olhei para ele, e meu peito doeu como se estivesse sendo espremido. Ele tinha razão. Lucas quase sempre tinha. Balancei a cabeça, tentando apagar a imagem de Joaquín surgindo por aquelas portas, ofegante, implorando para que eu ficasse, para que não o deixasse.
— Foi ele quem te chutou, lembra? — Lucas completou, com uma dureza que só amigos muito próximos podem ter.
Ou primos, que era caso.
— Não fala assim. — murmurei, quase como uma súplica, tentando proteger a última lembrança que tinha dele.
Lucas riu, mas logo assentiu.
— Na verdade, não vamos falar sobre isso, ok? Não durante essa viagem.
— Como quiser.— ele disse, dando de ombros. — O check-in é por ali.
Enquanto eu o seguia, arrastando a mala, meus olhos se prenderam ao telão dos voos. E foi aí que algo quebrou de novo dentro de mim. No meio de destinos tão variados e lugares que nunca conheci, vi a palavra "Uruguai" brilhar em letras grandes. Aquilo foi um soco no estômago, uma corrente elétrica que correu por meu corpo e abriu um turbilhão de lembranças, todas vindo ao mesmo tempo.
Respirei fundo, mas o ar parecia pesado. As imagens dos dias que passei com ele surgiram com força, a forma como ele me levou para conhecer a casa da sua infância, o modo como falava da sua família com carinho, suas mãos me conduzindo por aquelas ruas estreitas como se tivesse medo de me perder. Ali, eu conheci o Joaquín real, a parte dele que poucas pessoas enxergavam. Fechei os olhos por um segundo, tentando manter essas lembranças vivas, e ao mesmo tempo, querendo apagá-las.
— Tá tudo bem? — Lucas perguntou, notando minha hesitação.
Concordei, sem conseguir formar palavras, e ele assentiu, puxando-me de volta para o presente.
Dei uma última olhada para o telão, e dessa vez um sorriso suave surgiu em meu rosto. Mesmo que o peso da saudade fosse grande, percebi que esses momentos foram únicos e nada poderia apagá-los.
— Escuta, você é única. Ele sabe disso e você não precisa ter medo dele encontrar outra pessoa.— Lucas disse enquanto aguardávamos na fila.— Ele pode até conhecer outra mulher, mas ela não vai ser a Clara Maria.
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Amor em Jogo - Piquerez
FanfictionO que fazer quando o seu coração entra em uma partida sem avisar? Clara sempre preferiu viver longe dos holofotes que envolvem a fama de sua mãe, Leila Pereira, presidente do Palmeiras. Enquanto se dedica aos estudos de publicidade e tenta encontra...