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— Onde vocês estavam? — minha mãe perguntou, apontando para nós com uma expressão inquisitiva.

— Ele foi perguntar pro Carlos se podia pegar alguma vaga e como não conhece nada aqui, eu só ajudei. — expliquei, tentando soar o mais convincente possível, enquanto observava suas reações em busca de sinais de suspeita. — Eu não tô mentindo.

— E quem disse que está? — meu pai questionou, lançando um olhar desconfiado entre nós.

Revirei os olhos, sentindo uma pontada de frustração, antes de me dirigir ao meu quarto. Aquela desconfiança constante era exasperante, e eu odiava aquele tipo de interrogatório.

— Clara, você precisa prestar mais atenção nas coisas. — meu pai apareceu à porta do meu quarto, sua expressão séria refletindo uma mistura de preocupação e advertência. — Você sabe que a sua mãe é do jeito que é, e se der motivos pra ela ficar desconfiada, será pior ainda.

— Mas eu não fiz nada, pai! — explodi, sentindo a irritação crescer dentro de mim. — Eu só fui ajudar ele, que saco. Por que diabos ela tem que ser assim o tempo todo? Será que ela não percebe que me sufoca?

— Só não faça nada que dê motivos para ela ficar brava ou fazer sei lá o que. — suspirou, sua expressão carregada de preocupação. — Se você der uma brecha, ela vai fazer com que se torne uma cratera entre vocês dois.

— E acha que eu não sei? — respirei fundo, sentindo o peso das palavras de advertência. — Ela simplesmente age como se eu fosse criança.

— O que tá rolando aqui? — ficamos em silêncio ao ouvir a voz dela, e meu coração deu um salto. — Já pegou as coisas pro garoto dormir na sala?

— Garoto? — perguntei, tentando disfarçar a surpresa em minha voz. — Ele não tem quinze anos, mãe.

— Muito menos 30. Então pra mim é garoto. — ela deu língua, revelando um traço de humor em sua expressão. — Tem edredom novo no meu quarto, vou pegar pra ele.

— Mãe. — a chamei, buscando entender sua lógica. — Por que esse trabalho todo? Sendo que ele podia estar dormindo aqui? — apontei para minha cama, enquanto uma sensação de desconforto se instalava em meu peito. — Nós não iremos fazer nada. E do que adianta dormir sob o mesmo teto que ele sem poder estar com ele?

— Ela tem um ponto. — meu pai ficou do meu lado, apoiando meu argumento. — E ela já é adulta, Leila. Sabe o que está fazendo.

— Fica quieto, Rodrigo. — mandou minha mãe, e meu pai se calou, mas não pôde resistir a uma última observação.

— A filha também é minha, tá? — brincou, e seu comentário arrancou um sorriso de mim. — E do que adianta proibir os dois de dormirem juntos aqui se eles podem dormir juntos em vários lugares por aí?

— Eu não quero ter que ouvir a minha filha...— minha mãe respondeu, e meu pai não conseguiu conter uma risada.

— Eu não faço barulho. — intervim, tentando manter a situação leve, e eles me olharam ao mesmo tempo. — Dormindo, não tem barulho nenhum, e Piquerez também é quieto. — rapidamente reformulei a frase antes que fosse tarde demais.

— Sala. — ela determinou, antes de sair andando, indicando que a conversa estava encerrada.

— Ela é uma chata. — revirei os olhos, e meu pai riu, balançando a cabeça em concordância. — E obrigada por ter tentado.

Peguei alguns travesseiros fofos do meu quarto e os levei para a sala. Joaquín havia ido tomar banho, então aproveitei para arrumar o sofá para que ele pudesse dormir confortavelmente. Puxei a parte de baixo do sofá, transformando-o em uma espécie de cama. Ajeitei os travesseiros com cuidado e coloquei por cima o edredom acolhedor que minha mãe havia trazido do quarto dela.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora