59

5K 426 36
                                    

São Paulo | Brasil
29 de Abril.

A culpa me consumia como um fogo lento. As palavras duras que eu havia jogado na cara de Joaquín ecoavam em minha mente, me fazendo sentir cada vez mais miserável. Eu sabia que a culpa era toda minha, do meu estresse e da pressão que eu mesma colocava sobre mim, mas isso não significava que ele merecesse sofrer com as minhas explosões.

Acordei antes do sol nascer, a escuridão do quarto ainda envolvendo a minha forma. Não sabia se Joaquín teria treino pela manhã, então preferi não arriscar acordá-lo com o barulho. O frio da madrugada me arrepiou, e me levantei devagar, tentando fazer o mínimo de barulho possível.

Troquei meu pijama por uma calça jeans e um moletom aconchegante de Joaquín, buscando um pouco do seu calor em meio àquela manhã fria. Me dirigi ao banheiro, escovei os dentes com cuidado e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo prático.

Com carteira e celular em mãos, saí do apartamento em direção ao mercadinho do prédio. A missão: encontrar chantilly. Caminhei pelo corredor silencioso, meus passos ecoando nas paredes vazias. O elevador desceu lentamente, cada andar me aproximando do meu objetivo.

Chegando ao mercadinho, meus olhos vasculharam as prateleiras em busca do ingrediente mágico. Chantilly encontrado, peguei mais alguns itens para o bolo que eu planejava fazer. Paguei as compras e voltei para o elevador, a mente já traçando os próximos passos da minha missão.

De volta ao apartamento, abri a porta com o máximo de cuidado, tentando não perturbar o sono de Joaquín. As sacolas foram depositadas na mesa da cozinha, e me dirigi ao quarto com o coração batendo forte. Para minha sorte, ele ainda dormia profundamente, alheio à surpresa que o aguardava.

Observei ele por alguns instantes, admirando a serenidade de seu rosto adormecido. Sentia uma mistura de culpa e ternura, e sabia que precisava me redimir por minhas palavras duras.

Com as mãos na massa, embarquei na missão de preparar o bolo. Apesar de não ser uma expert na cozinha, os bolos eram minha especialidade, graças aos ensinamentos de Vera. As lembranças dela me invadiam enquanto eu quebrava os ovos, um a um, e os misturava com o açúcar até formar uma espuma cremosa.

Em seguida, adicionei a massa pronta de chocolate, seguindo a receita com atenção. Cada ingrediente era cuidadosamente dosado, como se estivesse realizando um ritual secreto. Mexia tudo com delicadeza, utilizando uma espátula em vez da batedeira, para não despertar Joaquín.

Com a massa no forno, parti para o recheio. A mente em branco, sem inspiração para um sabor que combinasse perfeitamente com o chocolate. Abri a geladeira, buscando por um toque mágico, e meus olhos encontraram o doce de leite de Joaquín. Bingo! Era a resposta que eu procurava.

Enquanto o bolo assava, me entreguei ao sofá e fechei os olhos por alguns instantes. A fadiga do dia me dominou, e logo adormeci embalada pelo aroma doce que emanava da cozinha. Um sobressalto me despertou: o cheiro de algo prestes a queimar invadia o ar! Corri para o forno, desvendei a porta com pressa e retirei o bolo com cuidado.

Era lindo de se ver, com sua superfície dourada e textura macia. Mas a dúvida me corroía: será que o sabor seria tão bom quanto a aparência?

Chegou a hora de preparar o recheio. O doce de leite caseiro de Joaquín era tão cremoso que espalhá-lo no bolo seria um desafio. Uma ideia surgiu: misturá-lo com chantilly para criar um creme suave e homogêneo. Mas havia um problema: ligar a batedeira certamente acordaria Joaquín.

A área de serviço!

O vidro isolaria o barulho da batedeira. Em segundos, eu estava lá, munida da minha ferramenta mágica, do chantilly e do doce de leite cremoso. A mistura inicial era um tanto caótica, mas aos poucos, com paciência e persistência, o creme perfeito foi tomando forma. Um toque final de leite foi necessário para alcançar a textura ideal.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora