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Devo ter ficado presa naquela droga de elevador por mais ou menos duas horas, um tempo que pareceu uma eternidade. A cada minuto que passava, a angústia aumentava e a esperança de ser resgatada diminuía. A falta de ar se tornava cada vez mais sufocante, e o calor dentro do elevador era insuportável.

Meu corpo estava suando frio, e a minha franja, úmida e grudada na testa, só me deixava com mais agonia. A cada movimento, sentia os cabelos tocando em meu rosto, o que aumentava ainda mais a minha irritação.

— Mais que merda! — xinguei, batendo com força nas paredes do elevador. A cada segundo que passava, a frustração tomava conta de mim. Era como se eu estivesse em uma caixa de metal sem saída, completamente à mercê do destino.

Assim que o elevador chegou no estacionamento, as portas se abriram e eu finalmente pude respirar ar fresco. Mas a sensação de alívio logo foi substituída por uma onda de fraqueza. Minhas mãos suavam cada vez mais e minhas pernas amoleceram, me fazendo cambalear e quase cair no chão.

Ao me levantar, dei de cara com minha mãe, que me olhava com uma expressão de surpresa e desaprovação. Ela segurava o celular na mão, provavelmente checando as mensagens que eu havia enviado desesperadamente.

— Eu estava... — comecei a dizer, mas ela me interrompeu com um gesto brusco.

Levantando o dedo, ela me fez um sinal claro de que queria que eu me calasse. Sem saber o que fazer, me calei, sentindo uma mistura de raiva e frustração. Eu queria me explicar, contar o que havia acontecido, mas ela não me deu a chance.

Naquele momento, me senti humilhada e impotente. Minha mãe sempre foi controladora e nunca me dava a oportunidade de me defender ou explicar minhas ações. Eu sabia que ela estava brava, mas também sabia que não faria nada para mudar sua opinião.

— Você perdeu o horário porque estava passeando com a Bruna? — perguntou ela, tirando os óculos da testa com um gesto brusco. Sua voz era áspera e carregada de reprovação.

— Eu estava no elevador e a luz acabou! — respondi, tentando manter a calma. — Eu cheguei em casa correndo e peguei as minhas coisas, daí peguei o elevador e tudo escureceu.

— Veio pra casa correndo? Por que você veio correndo? — perguntou ela com tom de ironia, seus olhos me encarando com desconfiança. — Por que hein, Clara Maria? Te fiz uma pergunta.

— O tempo passou rápido demais e eu não percebi. — baixei a cabeça, me sentindo cada vez mais culpada e frustrada. — Não queria me atrasar mãe, eu juro, muito menos faltar! Eu tinha trabalho pra apresentar e...

— Você tinha o que?! — interrompeu ela, sua voz subindo de tom. Seu rosto ficou pálido e seus olhos se estreitaram em fúria.

Senti uma pontada de culpa enorme me atingir em cheio. Eu sabia que minha mãe estava decepcionada comigo, e não conseguia suportar a ideia de ter a decepcionado.

Um silêncio constrangedor tomou conta da cozinha. Eu não sabia o que dizer, e minha mãe me olhava com uma expressão de desgosto que me deixava ainda mais triste.

Em meu interior, sentia um desejo de me defender, de explicar que não havia feito nada de errado. Mas, ao mesmo tempo, sabia que isso só pioraria a situação.

— Desculpe, mãe. — finalmente consegui falar, com a voz embargada pela emoção.

— É isso o que você ganha quando é irresponsável. — ela disse, pegando o celular e voltando a atenção para a tela. Sua voz era fria e indiferente, como se o meu sofrimento não importasse.

Minha visão começou a ficar embaçada e meus olhos se inundaram de lágrimas. Senti uma vontade enorme de chorar, de desabafar toda a mágoa e frustração que acumulava dentro de mim. Mas, com um esforço sobre-humano, segurei as lágrimas. Eu não queria parecer fraca na frente dela, não na frente da mulher que me considerava irresponsável.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora