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São Paulo | Brasil
24 de Abril.

A tarde se arrastava como um rio lento, e eu tentava manter minha mente ocupada a todo instante. Evitava pensar em Joaquín, em sua viagem ao Equador e até a minha mãe, e em como o apartamento enorme parecia vazio sem sua presença.

Era como se uma tempestade em copo d'água se formasse dentro de mim. Uma parte me dizia que era bobagem, drama desnecessário, mas a outra se recusava a ser silenciada. A saudade batia forte, e a cada minuto que passava parecia uma eternidade.

Sozinha em casa, cercada por móveis imponentes e silêncio ensurdecedor, eu me sentia como uma náufraga em um mar de solidão. Meu pai viajava a trabalho para Nova York, minha mãe partira com Joaquín para o Equador para assistir ao jogo do Palmeiras, e eu, restava em meio à vastidão do apartamento.

Tentei me concentrar nos estudos, mergulhando nos livros como quem busca refúgio em uma ilha deserta. As provas do final do mês se aproximavam, e eu precisava me dedicar com afinco. Mas, a cada página virada, a cada palavra lida, a imagem de Joaquín me vinha à mente.

Finalmente, a noite chegou, e eu fui pra aula com o coração apertado. A saudade pesava como um fardo, e o tempo parecia se arrastar. Quando a aula finalmente terminou, corri para a sala, ansiosa por assistir ao jogo do Palmeiras na televisão.

Mas, o que era para ser um momento de distração se tornou um tormento. Ao ver Joaquín na tela, a saudade se intensificou, se tornando uma dor aguda no peito. Cada chute, cada passe, cada sorriso dele me faziam sentir ainda mais sua falta.

Desliguei a televisão frustrada, buscando refúgio no meu celular. Navegando pelas redes sociais, me deparei com uma foto postada por minha mãe em seus status do WhatsApp. A princípio, nada de mais: ela sorria radiante, ostentando a camisa do Palmeiras.

Mas, ao analisar a foto com mais atenção, algo me chamou a atenção. Ao lado dela, de costas, observando o campo, estava alguém. O número 22 na camisa, o cabelo cor de chocolate... Não havia dúvidas: era Bruna.

Mandei mensagem pra minha mãe e ela não respondia, então eu liguei.

Raiva e frustração dominavam meu peito enquanto eu discava o número da minha mãe. A notícia de que Bruna, minha irmã, havia acompanhado a mãe ao Equador para o jogo do Palmeiras me pegou de surpresa, e da pior maneira possível.

Oi Clara, pode falar. — a voz da minha mãe soou do outro lado da linha.— Mas fala logo que o intervalo tá pra acabar.

— Você levou a Bruna pro Equador? Tá de brincadeira com a droga da minha cara, só pode. — eu disparei, as palavras saindo em um jorro implacável.

Com quem você pensa que está falando?— a mãe retrucou, a voz agora carregada de raiva. — Por acaso perdeu a noção?

A troca de farpas continuou, ambas elevando o tom de voz. Eu me sentia ignorada, deixada de lado, como se não fosse importante o suficiente para minha própria mãe.

— Mãe, você levou a Bruna pro Equador e nem sequer pensou em me chamar?! — eu questionei, a voz embargada pela raiva. — Por acaso esqueceu que a sua filha sou eu?

A minha mãe se defendeu, alegando que a passagem aérea era minha e que ela havia perguntado ao meu namorado se eu iria. Mas eu não me convenci. Ela poderia ter feito mais, ter ao menos me perguntado.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora