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São Paulo | Brasil
11 de Junho.

A névoa do sono se dissipou lentamente, deixando meus olhos pesados se abrirem. A voz do meu pai, ecoando à distância como um som abafado, me tirou completamente do sono.

— Clara? — ele chamou, com um tom de urgência que me fez sentar abruptamente no sofá.

— Oi, pai. — respondi, a voz rouca e áspera pelo sono. — Eu... cochilei no sofá? — questionei, coçando os olhos e olhando ao redor para confirmar a situação.

De fato, as almofadas estavam amassadas e a manta que eu usava para me cobrir estava no chão.

— Sim, cochilou. — ele confirmou, se aproximando com passos largos. — E você tá suando muito... e eu acho que está com febre. — disse, colocando a mão carinhosamente na minha testa.

A sua expressão era de pura preocupação, algo que me fez sentir um aperto no peito.

— Febre? Não, pai, eu não tô com febre. — protestei, tentando me levantar. — Na verdade, eu tô com frio. As janelas estão abertas? — perguntei, olhando para as cortinas que balançavam com a brisa fresca do vento da noite.

Ele assentiu com a cabeça.

— Tá 22 graus lá fora, Clara. São oito da noite. Você não deveria estar com frio, muito menos suando. Claramente você tá com febre. Você andou tomando alguma coisa diferente ultimamente? Remédios para emagrecer? Pílulas do dia seguinte com frequência?

— Não. Eu só tomo anticoncepcional e só.

Meu pai, impassível, cruzou os braços, me encarando com seriedade.

— Então acho que teremos que ir no hospital. — disse ele, com um tom de voz que não admitia contestação.— Porque diante do que vem acontecendo, claramente tem algo errado.

— Não, pai, não precisa disso. Eu tô bem, eu juro. Posso estar com um pouco de febre, isso passa.

Mas ele não se convenceu.

— Isso não é bom, Clara. — disse ele, com a voz firme. — E se estiver acontecendo alguma coisa séria com você? Não posso ignorar isso.

Em um último ato de rebeldia, me levantei bruscamente do sofá, ignorando a tontura que tomou conta de mim.

— Não tá acontecendo nada comigo, pai. — repeti com firmeza, forçando a convicção na minha voz. — Não tem porque se preocupar.

Mas meus pés falharam. A tontura me dominou completamente, e meu corpo cedeu, me fazendo cair de volta no sofá com força. O mundo ao meu redor girava, as cores se misturavam em um turbilhão nauseante.

Meu pai se agachou ao meu lado, seus olhos expressando cada vez mais preocupação.

— Não tem porque me preocupar, tem certeza? — ele perguntou, sua voz agora carregada de ironia. — Anda, vai trocar de roupa porque eu vou te levar ao hospital.

Eu me agarrei à última faísca de teimosia.

— Eu não quero. — protestei, mesmo sabendo que era inútil.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora