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O burburinho da sala de imprensa se intensificava a cada minuto. A vitória do Palmeiras era o tema principal, e os jornalistas cercavam o técnico em busca de declarações. Entre eles, uma jornalista esportiva de postura imponente se aproximou, lançando sua pergunta com um sorriso irônico:

— E como você declara essa vitória, Abel? — questionou ela, cruzando os braços e encarando o técnico com um olhar penetrante.

Abel, sempre calmo e confiante, esboçou um sorriso antes de responder:

— Merecida. — disse ele, sem rodeios. — O time deu duro, jogou com garra e fez por merecer.

A jornalista não se contentou com a resposta simples.

— Então você quer dizer que o Santos não merecia? — rebateu ela, erguendo uma sobrancelha. — Eles não se esforçaram?

Abel pensou por alguns segundos antes de responder:

— Acredito que merecem aqueles que fazem o seu melhor. — disse ele, com um tom firme e convicto.

Sua resposta ecoou pela sala, causando alguns olhares intrigados entre os presentes.

Enquanto isso, eu observava tudo de longe, encostada na parede e tentando me manter discreta. A água que minha mãe havia levado para a sala de imprensa já havia acabado, e ela me fez um sinal discreto para que alguém buscasse mais.

Hesitei por um instante, nervosa com a atenção que a sala de imprensa despertava. Mas, pensando na ideia de sempre ser prestativa, peguei uma garrafinha vazia e me dirigi à mesa.

No caminho, alguns jornalistas me olharam com curiosidade, provavelmente questionando entre si quem eu era e o que fazia ali. Minha mãe, ao perceber minha presença, sorriu para mim com gratidão, um gesto simples mas que eu amava sentir e ver.

Mas, antes que eu pudesse voltar ao meu lugar, um tom de voz alto vindo do fundo da sala interrompeu o silêncio:

— Clara Maria, é verdade sobre o seu envolvimento com o Piquerez? Sua mãe aprova? — indagou uma voz masculina com tom inquisitivo e malicioso.

Meu coração disparou. A pergunta era direta e cortante, e eu me senti como se estivesse sendo exposta a um holofote. O foco da sala de imprensa agora estava em mim, e eu não sabia como reagir.

Os olhos da minha mãe se estreitaram, encarando o jornalista fofoqueiro com uma intensidade que me fez arrepiar. Ela me lançou um olhar rápido, um código silencioso que traduzia a mensagem: "Está tudo bem. Eu cuido disso."

E, naquele momento, mesmo com o meu coração batendo descompassado e a mente em turbilhão, eu deixei sob o controle dela.

Com um tom cortante como lâmina, minha mãe cortou o ar:

— Sinto muito, mas a Clara não faz parte dessa conferência de imprensa. — sua voz ecoava pela sala, firme e inabalável, protegendo a mim da tempestade que se armava. — Detalhes da vida pessoal da minha filha não estão em aberto nesse evento. Aqui, o foco é o Palmeiras.

O jornalista, ávido por sensacionalismo, lançou a sua isca:

— Mas o Piquerez é do Palmeiras! — ele provocou, buscando arrancar uma confissão. Mas minha mãe não se intimidou.— Então você confirma?

— Não confirmo absolutamente nada! —  rebateu com a mesma firmeza de um escudo protegendo o seu castelo. — Peço que volte para as perguntas sobre o time, por favor.

Enquanto a batalha verbal se desenrolava, eu me senti como um passarinho em meio a um furacão, buscando abrigo na sombra da minha mãe. Meus pés me levaram para a lateral da sala, longe dos olhares curiosos e especulações sussurradas.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora