18 de setembro
São Paulo | Brasil— Pai, vai querer café? — perguntei ao entrar na cozinha, ainda sentindo o calor do meu corpo recente contrastar com o ar frio da manhã.
Ao olhar para a mesa, vi um bilhete dobrado ao meio. Peguei-o, e a caligrafia reconhecível de meu pai me informou que ele havia saído para resolver algo com o celular.
A casa estava estranhamente silenciosa, e a solidão, que em outros momentos me parecia uma bênção, agora pesava. Preparei uma vitamina de frutas vermelhas, sentindo o frescor ácido explodir na boca, enquanto pegava as minhas coisas do trabalho. Depois de deixar tudo pronto na sala para mais um dia, decidi tomar um banho, esperando que a água quente ajudasse a limpar a tensão que eu sentia sem nem saber o motivo.
Enquanto a água escorria pelo meu corpo, o vapor preenchia o banheiro, criando uma bolha de conforto, quase uma fuga do mundo exterior. Porém, ao sair do banho, envolta na toalha, ouvi passos pelo corredor. Meu corpo congelou por um segundo. O som era firme, deliberado. Não era imaginação. Quem estaria em casa?
Pensei na hipótese de ser meu pai, mas ele teria me chamado ao chegar.
Meu coração começou a bater mais rápido. Olhei ao redor, a mente tentando raciocinar rapidamente. A única coisa ao meu alcance era a escova de cabelo que eu tinha trazido do banheiro.
Patético.
Minha respiração ficou curta, o peito subindo e descendo rápido. Estava sozinha, ou pelo menos pensava que estava.
A porta do quarto se abriu devagar, rangendo. Quem quer que fosse, estava tentando não ser percebido. Me preparei para o pior.
— Joaquín? — soltei um suspiro de alívio misturado com irritação ao ver seu rosto surgir por trás da porta. — Por acaso você não sabe bater?
Ele deu um sorriso sem jeito, os olhos castanhos reluzindo sob a luz do quarto.
— Eu bati. Chamei várias vezes, mas ninguém respondeu. — ele explicou, entrando no quarto com passos leves. — Quando vi o notebook na sala, pensei que você estivesse aqui.
Sua voz carregada de uma sinceridade que sempre me desarmava.
Ele estava calmo, enquanto meu corpo ainda estava tomado pelo susto. Cruzei os braços, a toalha se ajustando ao meu peito.
— E o que você veio fazer aqui? — perguntei, tentando entender o motivo da sua presença ali.
— Eu esqueceu umas coisas. — ele apontou para o tênis no canto do quarto. — Meu tablet, algumas roupas e meu tênis.
Havia algo quase cômico em vê-lo tropeçar nas palavras, misturando português com espanhol sem perceber. Era algo tão autêntico nele, tão dele, que me fez quase sorrir. Mas logo a confusão tomou conta de mim.
— E por que está levando isso agora, sabendo que vai acabar trazendo de volta? — perguntei, erguendo uma sobrancelha. — Espera... você está fazendo o que eu acho que está?
Ele hesitou, parando por um segundo. O quarto parecia encolher, e o ar, de repente, ficou mais denso. O silêncio era ensurdecedor, e então percebi o que estava acontecendo. Ele estava terminando comigo? De uma maneira tão indireta, quase covarde?
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Amor em Jogo - Piquerez
FanfictionO que fazer quando o seu coração entra em uma partida sem avisar? Clara sempre preferiu viver longe dos holofotes que envolvem a fama de sua mãe, Leila Pereira, presidente do Palmeiras. Enquanto se dedica aos estudos de publicidade e tenta encontra...