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— Ele vai dormir aqui tá? — perguntei pro meu pai, tentando soar o mais calma possível, mas meu coração batia descompassado no peito.

Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso com a pergunta.

— É sério?— indagou, com um tom de voz que pairava descrença.

Assenti com a cabeça, firme em minha decisão.

— Sim, sério.

Um silêncio desconfortável se instalou entre nós, enquanto ele me observava com uma expressão indecifrável no rosto. Finalmente, após alguns segundos que pareceram durar uma eternidade, ele suspirou e murmurou: "Ok. Na sala."

— Pai? — protestei, incrédula com a sua sugestão. — Eu não tenho mais quinze anos.

Ele me lançou um olhar severo.

— E daí? — perguntou, cruzando os braços. — Isso significa que ele pode dormir na sua cama? Da noite para o dia?

— Não. — respondi com convicção. — Mas também significa que você não pode dormir na cama da minha mãe.

Ele riu, um som curto e sem humor.

— Você esquece que já fomos casados e somos adultos, né? — rebateu, como se minha lógica fosse completamente absurda.

Permaneci em silêncio, encarando-o com determinação.

— Mas eu estou na minha casa, você não. — afirmei, cruzando os braços em desafio. — Direitos iguais ou nada feito.

Ele me encarou por um longo momento, seus olhos estreitos em avaliação.

— Sua mãe sabe dessa sua ideia? — perguntou finalmente, sua voz carregada de ceticismo.

Balancei a cabeça com firmeza.

— Sim, ela sabe.

Ele bufou, claramente surpreso com a minha resposta.

— Eu duvido que ela aceitou.

— Você poderia convencer ela né? — implorei, me aproximando do meu pai com um olhar suplicante.

Ele me encarou com seu típico ar inquisitivo, as sobrancelhas erguidas em um questionamento silencioso.

— Por que eu faria isso? — ele perguntou, cruzando os braços em frente ao peito.

— Você gostou dele, não gostou? — apontei para Joaquín, que observava a conversa à distância, com um sorriso tímido nos lábios. Meu pai apenas suspirou, balançando a cabeça em afirmação.

— Até que é um bom rapaz, mas não pense que isso vai facilitar o acesso dele ao seu quarto. — ele justificou, sua voz firme e inegociável. — Ou ele fica na sala, ou nada feito.

— Nossa, pai! — exclamei, revirando os olhos com frustração. Era sempre a mesma história, ele controlando cada passo meu como se eu fosse uma criança indefesa.

— Eu tô fazendo isso pro seu bem, se sua mãe pega vocês dois... — ele começou a dizer, mas parei-o no meio da frase.

— Eu sei muito bem o que ela é capaz de fazer — completei, meu tom carregado de sarcasmo.

Minha mãe, com seu temperamento explosivo e suas regras rígidas, era como um dragão que cuspia fogo, sempre pronta para proteger seu precioso tesouro: eu mesma.

Revirei os olhos novamente, meu olhar direcionado para Joaquín na sala. Ele estava sozinho sentado no sofá, assistindo algo na TV, com uma expressão indecifrável no rosto.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora