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A quietude da sala é subitamente quebrada pela voz grave do meu pai:

— Vocês querem que eu faça o jantar? — a pergunta pairou no ar, carregada de uma expectativa.

Cozinhar sempre foi o forte dele, e a ideia de eu ter que encarar panelas e frigideiras me deixava com preguiça só de pensar.

Mas eu queria comer comida japonesa.

— Não precisa, pai. Acho que vou pedir algo. — respondo com um sorriso, já imaginando as delícias do cardápio japonês.

— Ah, bom! Que tal japa? — sugeriu ele, com um brilho nos olhos, ele parecia ser capaz de ler os meus próprios pensamentos.

— Sabe que eu tava pensando nisso?! — exclamei, animada.— Pode ser, Joaquín?

Ele apenas acena com a cabeça em concordância. Sua paixão por Peaky Blinders o faz se desligar do mundo exterior, mas ele nunca recusaria um bom temaki.

Com entusiasmo, peguei meu celular e abri o aplicativo de delivery durante meu trajeto até a cozinha. Meus dedos deslizaram pela tela enquanto navegava pelo menu, explorando as opções tentadoras de rolos, sashimis e pratos quentes. A fome cresce a cada imagem, aguçando meus sentidos.

Enquanto me concentro em escolher meus pratos favoritos, meu pai e Joaquín conversam baixinho na sala. Provavelmente, estão discutindo as últimas notícias do futebol ou algum outro assunto banal que não desperta meu interesse. Ignoro-os e me dedico de corpo e alma à missão de montar o pedido perfeito.

De repente, a voz do meu pai ecoa novamente:

— Eu pago. — a frase me tira do meu transe culinário e me faz levantar as sobrancelhas em surpresa.

— Tem certeza? — perguntei, hesitante.— Eu posso pagar.

— Já falei que eu pago! — ele respondeu com um sorriso convincente e eu aceitei. — Coloca pra pagar na entrega.

Com o pedido feito e a fome aguçada, deixei meu celular de lado e me dirigi ao sofá da sala. Me aconchegando no colo de Joaquín, buscando o conforto e calor de seu abraço. Meus pés encontram abrigo sob o colo do meu pai, que prontamente iniciou uma massagem relaxante em meus tornozelos.

A sensação de bem-estar me invade enquanto me entrego ao momento, deixando de lado as preocupações e me permitindo aproveitar a companhia deles.

— Pensando bem, parando pra pensar... Não é ruim ter dois homens. — a frase ecoa na sala, atraindo a atenção de ambos, que me olharam um tanto surpresos e chocados. — Desde de que um seja o meu pai.

Meu pai solta uma gargalhada nasalada, enquanto Joaquín tenta entender a lógica por trás do meu pensamento. Sua mente, ainda presa no mundo dos gângsters, lutava para desvendar o enigma.

Percebendo a confusão em seu rosto, meu pai interveio:

— Ela não quer ter dois homens, Joaco. Ela quis dizer que estar com dois homens desde que um seja o pai dela, não é ruim.

A luz da compreensão finalmente acende nos olhos de Joaquín. A confusão se dissipa e um sorriso tímido surge em seus lábios.

Enquanto a massagem do meu pai relaxa meus músculos e a mão de Joaquín se movimentava em meus cabelos, seus dedos macios acariciando meus fios em um cafuné tranquilizante. Me entreguei ao sono, deixando-me levar pela paz do momento. meus olhos se fecham e a sonolência me toma conta.

Um tempo depois, sou despertada por vozes ecoando pela casa. A princípio, meu sono atordoado me faz pensar em uma briga, mas logo percebo que se trata apenas de uma conversa alta e animada entre meu pai e Joaquín na cozinha.

Amor em Jogo - PiquerezOnde histórias criam vida. Descubra agora