Capítulo 4

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É você, amor
E eu sou uma idiota pelo jeito que você se move, amor
E eu poderia tentar fugir, mas seria inútil
A culpa é sua
Apenas uma dose de você e eu soube que eu nunca seria a mesma

Segunda-feira, 15 de abril.

Hoje eu finalmente voltaria para a escola. Nada novo, era a mesma, velha e cansada história.

Desde que eu botei os meus pés aqui, eu virei a estranha. Daysha Cupper, a esquisita. Eu não entendo porque eles me apelidaram com esse apelido idiota que só eles acham graça.

Talvez seja porque eu fico o dia inteiro sozinha, ou porque não gosto das mesmas coisas fúteis que eles. Eles deveriam entender que todos neste mundo somos diferentes, e na verdade essa é a parte divertida. Ser diferente é o que nos torna únicos.

Talvez eles devessem parar de julgar através de mim e tentassem me conhecer por quem eu sou, e não por aquela que eu pareço.

Treves Campbell. O nome que vem me assombrando desde que eu me lembro por gente.

Ele é o rei do colégio, alto, talvez um 1,90 com olhos escuros como a noite e cabelos que caem perfeitamente sobre sua pele pálida. Seus lábios, quase rosados, contrastam com a tatuagem que serpenteia pelo seus braços e o seu peito.

As garotas suspiram por ele, sonhando em ser a escolhida que mudará o bad boy. Elas anseiam pelo perigo, pela ilusão de serem especiais aos olhos de Treves.

Elas desejam o cara mau, com o coração quebrado que só elas poderiam consertar. Era um jogo sem sentido, bem, nada faz sentido aqui.

Por que elas desejam tanto a atenção de alguém que as humilha e as descarta no dia seguinte?

Todos idolatram o chão que ele pisa, e a única atenção que eu recebia era a dele, o que era irônico, para dizer o mínimo.

Elas dariam tudo por ele: sua inocência, seu orgulho, até mesmo suas vidas. E eu? Eu preferiria vê-lo longe de mim.

Mas parecia que ele sempre encontrava um caminho de volta para mim. Antes de refletir, isso parecia menos estranho.

Eu sei, a história clichê do valentão que se apaixona pela vítima. Mas não, Treves está longe de ter qualquer tipo de sentimento por mim além de nojo e repugnância.

E ele deixou claro isso atormentando minha vida e tirando a única chance de ter um pouco de sossego.

Ele é lindo, sim, talvez o mais belo que já vi, mas isso não muda o fato de ser um idiota.

Ainda era cedo, talvez seis da manhã, e eu estava sentada na biblioteca com um livro entre as mãos. A biblioteca se tornou um refúgio e, desde a morte do meu pai, parece que os livros são os únicos que me compreendem.

De uma forma triste ou feliz, não sei... esse lugar se tornou mais um lar do que minha própria casa.

As semanas passaram rápido demais e, por mais estranho que pareça, é a primeira vez que estou feliz em voltar para a escola. Henry já estava, de certa forma, me enlouquecendo, e minha mãe...

Minha mãe estava se perdendo, transformando-se em uma versão distorcida de Henry, e por mais que eu tentasse despertá-la, ela se afundava em um sonho do qual não queria acordar.

- Matando aula, pastorinha? - escuto a voz dele perto do meu ouvido. Nem precisava me virar para saber que aquele tom irônico e rouco era de Treves Campbell.

E mais uma vez, eu estava olhando para ele. Parecia ser anos desde a última vez que fiquei frente a frente com ele. É até estranho como meu corpo se acostumou com essa proximidade.

Ele me olhou de volta, seus olhos escuros deslizando pelo meu rosto com uma intensidade fria, como se quisesse gravar cada detalhe minha em sua memória. Ele sorriu, um sorriso sem humor e vazio, que não chegava aos olhos.

Levantou as mãos, quase tocando minha pele, mas parou. Seus dedos tremiam no ar, hesitantes. Então, com uma gargalhada rouca e desprovida de alegria, ele recuou.

Perfeito, ele estava ficando mais louco do que já era.

Os meninos ao seu redor nos olharam, ergueram as sobrancelhas, trocando olhares entre si que misturavam surpresa e uma pitada de preocupação. Eles olhavam para Treves como se ele estivesse ficando louco.

E pela primeira vez eu estava concordando com eles.

- Que foi? Sentiu tanta saudade assim de mim? - ele zombou, com aquele sorriso arrogante de sempre.

Não perdi tempo e me levantei, me afastando completamente do seu toque. Detestava cada coisa nele. Seu cheiro insuportável de cigarro e todos os tipos de bebidas alcoólicas, e esse seu joguinho idiota.

Ele também se levantou, agarrando meu antebraço.

- Sai da frente - respondi, tentando ser firme, e me afastei, mantendo uma distância segura.

- Estressadinha - provocou um dos seus lacaios, e eu lancei um olhar fulminante em sua direção. Ah, os três amiguinhos idiotas de Treves, como poderia esquecê-los?

Lond Donovan, um rosto conhecido desde a infância, que se perdeu em algum desvio do caminho. Ele tinha tudo para ser um cara incrível. Eu sei que ele tem potencial.

Talvez ele devesse explorar mais esse potencial que há nele.

Eles sempre andavam juntos, como um bando de hienas e acho todos eles idiotas, especialmente por seguirem alguém como Treves. Eu os desprezava, todos, exceto um.

Nicolas LeBlanc. Alto, com olhos azuis e um sorriso fofo. Há algo nele que me atrai, apesar de tudo.

Ele conseguiu me deixar hipnotizada só com um sorriso e isso é estranhamente bom.

Ele é diferente, nunca se juntou às piadas ou comentários maldosos. Ele anda com eles por algum motivo que foge à minha compreensão.

- Eu também senti saudades de você, pastorinha - ele piscou e eu revirei os olhos, desviando o olhar. - E...

Antes que ele terminasse, Nicolas o interrompeu com um tapinha nas costas e um sorriso que não chegava aos olhos.

- Qual é, Treves, essa piada já deu - disse Nicolas, tentando desviar o foco. - Vamos encontrar outro para encher.

Treves me encarou, depois olhou para Nicolas, que sorriu, mas seus olhos traíam uma irritação crescente. Talvez estivesse cansado das brincadeiras idiotas de seus amigos.

- Está com pena da pastorinha? - Treves me desafiou, aproximando-se mais do que o necessário.

Mesmo sabendo que era inútil, o empurrei com toda a força que tinha.

Ele baixou o olhar e sorriu, apertando minha bochecha com força.

- Cuidado, ela não está acostumada com caridade. Ela pode se apaixonar - ele piscou para Nicolas e depois me empurrou em sua direção - de qualquer forma, se for usar, não esqueça de deixá-la limpa. Ainda preciso do meu brinquedo.

Sem hesitar, Nicolas me segurou, me colocando de pé.

- Nós vemos mais tarde. - os outros dois riram, se afastando.

Me encostei na parede, observando as costas deles se afastarem. Eu os odeio tanto que às vezes tenho a sensação de que vou cometer uma loucura.

- Obrigada. - agradeci baixinho, segurando os livros contra o peito.

- Fique longe dele. As coisas nunca acabam bem com Treves - ele deu um meio sorriso e começou a se afastar.

Eu não preciso que me digam para me afastar de Treves. E pode acreditar, estou há anos tentando me afastar dele.

Treves é um louco, idiota que parece estar obcecado em me atormentar.

Intenções Perversas Onde histórias criam vida. Descubra agora