Capítulo 6

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— Está muito distraído. Pensando em quê? — Jack provocou, deslizando uma bandeja em minha direção com um movimento descuidado.

Passei as mãos pelos cabelos, um gesto de frustração, e soltei um suspiro frustrado.

— Em nada — respondi, com um tom de voz que deixava claro que aquele assunto estava encerrado.

— Eu não queria estar na pele de quem te deixou bravo — ele riu e se afastou de mim.

— Oi, Treves  — a voz de Samantha era um sussurro sedutor, mas eu não estava interessado em joguinhos. Ela se inclinou, seus olhos fixos nos meus, e seus seios saltando em direção à minha boca. — Maya vai dar uma festa hoje à noite e pensei... — ela mordeu o lábio inferior, um convite óbvio. — que poderíamos ir juntos.

Eu me afastei, um sorriso sarcástico brincando nos meus lábios. Ela era uma graça, mas todos sabiam que não iria rolar.

Eu não transo com uma pessoa duas vezes, a não  ser que eu esteja muito chapado. O que não era o caso.

— Estou ocupado hoje à noite. Talvez na próxima — murmuro, levantando-me abruptamente da mesa, afastando-me do perfume sufocante que deixava enjoado.

Não consigo compreender a obsessão dessas garotas. Elas se agarram como trepadeiras, exigentes e desesperadas por atenção. Não há um pingo de discrição nelas, nem um traço de dignidade própria.

E o perfume... por que tem que ser tão fortes e enjoativos?

Eu caminhei até o telhado e tirei um cigarro, acendendo-o e olha para baixo . Dy estava na janela da biblioteca, seus cabelos castanhos se rebelando contra o laço que tentava contê-los.

Dy era um enigma que eu conhecia há anos, mas nunca me dei ao trabalho de resolver. Ela era a garota que todos conheciam, mas ninguém realmente via.

A primeira vez que a vi, ela era uma garotinha animada na igreja. Eu era o garoto que observava tudo de longe sem falar muito, ainda mais silencioso por estar fora do meu lugar.

E eu comecei a chamar ela de pastorinha. Eu era uma criança e não conseguia pronunciar o nome dela corretamente e por algum motivo eu não queria chamar ela pelo mesmo nome que todos a chamavam.

Então pastorinha era o meu apelido perfeito pra ela. E o principal, esse apelido é só meu, como ela era.

Poderia dizer que nós meio que nos tornamos amigos, mas depois de um ano minha mãe se casou com um velho rico e nos mudamos. Ela chorou muito e me abraçou por horas sem querer me soltar, mas eu fui mesmo assim.

Agora, anos depois, aqui estou eu, com sentimentos que me confundem e me irritam. A proximidade dela me é insuportável, e ainda assim..

Pelo que notei mais cedo ela não havia ido no restaurante e nem comeu nada.

E por algum motivo que eu não conseguia entender, mas  assim que saí do refeitório, comprei uma variedade de pratos para ela, já que eu não sabia de suas preferências.

Ela olhou para a comida com desdém, e eu quase podia ouvir seus pensamentos revoltados. "Não preciso de nada de você", ela provavelmente pensava.

— Não quero que meu bichinho de estimação passe fome — eu disse, a provocação evidente em minha voz. Era um jogo que eu jogava, e eu sabia que isso a irritaria, que faria com que ela se voltasse contra mim.

É isso que eu quero, quero que ela me odeia.

Quando ela se virou para ir embora, eu a segurei pela cintura, puxando-a de volta. A surpresa em seu rosto era clara e ela fez uma careta.

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