Assim que consegui fugir do desgraçado, corri para o bebedouro. Tentando lavar meus lábios com pressa, eu sabia que isso não seria suficiente.
Eu beijei Treves Campbell e gostei, gostei e agora não sei como tirar esse maldito sentimento de culpa de dentro de mim. Não era para eu gostar... Eu não deveria gostar.
Peguei um pouco de água com a palma e comecei a lavar a boca, tentando de alguma forma arrancar o gosto dos seus lábios. Mas não adianta, não adianta porque o gosto dele estava em mim, o maldito cheiro estava em mim. Era um aroma amadeirado, tóxico que agora parecia estar cravado em minha pele.
Eu o odeio mais do que nunca agora, eu o odeio por ele ter me beijado sem a minha permissão. Eu o odeio por ter gostado desse maldito beijo e ter desejado prosseguir com ele.
Não, não. Isso não está acontecendo.
Olhei-me no espelho e me deparei com uma imagem de mim com as bochechas coradas e cabelo um pouco bagunçado. Eu posso sentir os dedos dele em mim ainda e não, isso não é normal. Meu reflexo mostrava uma garota confusa, mas eu não estou confusa.
Estou ficando louca, estou perdendo o juízo.
— Cupper? — escuto meu nome ser chamado e me viro, olhando para Nicolas com um meio sorriso nos lábios.
Ninguém mais estuda nessa escola?
Que ironia do destino, tinha todo o tempo do mundo para conversar com ele e ele apareceu justo no momento em que minha cabeça parece não estar funcionando.
— Ah, eu não te vi... — murmurei, ajeitando meu cabelo às pressas. Meus dedos tremiam levemente, traiçoeiros.
Ele olhou para mim e depois seus olhos vagaram para minhas roupas novas. Eu vou me lembrar de agradecer a Shana por isso.
Seria muito estranho se eu ainda estivesse vestindo a blusa do Treves.
— Trocou de roupa? — ele perguntou, hesitante e me avaliando.
— É que... eu... eu... preferi emprestar uma roupa — passei as mãos no rosto e suspirei fundo. — Desculpa, eu...
Eu tentava encontrar um jeito de dizer que eu troquei de roupa sem dizer que Treves literalmente me obrigou a tirá-la e agora sua camisa está no lixo do banheiro. Mas eu não conseguia encontrar as palavras certas.
Ele balançou a cabeça e sorriu.
— Tudo bem — ele deu um passo para frente. — Não precisa ficar nervosa. Eu nem usava aquela camisa.
Bom saber...
— Hum... Eu não sei o que dizer agora — disse, olhando ao redor para evitar o contato visual com ele.
Eu não sei como manter uma conversa equilibrada com ele, diferente de Treves eu não posso xingar ou brigar com ele e nessa escola eu só converso com Treves que, não importa o momento, sempre estamos discutindo. Eu deveria dizer algo para ele?
Ele me olhou por alguns segundos sério e depois sorriu.
— Podemos ir a algum lugar ou podemos só conversar aqui mesmo. Você já comeu? — ele perguntou de repente, me fazendo erguer as sobrancelhas.
O que havia de errado com esses meninos?
— Não estou com fome — minto e coço a cabeça. — Eu tenho aula agora.
Ele não respondeu e acenou com a cabeça. Dou uma última olhada e começo a caminhar, mas assim que passei por ele, ele segurou meu antebraço.
— Eu... — ele começou, parecendo confuso com suas próprias palavras. — Eu estava pensando, eu te conheço faz tempo...então...
Ele estava tentando me chamar para sair?
Isso era confuso e estranho de todas as formas possíveis. Mordo os lábios, esperando que ele continue.
— Eu queria te conhecer melhor... como amigos — ele murmurou a última parte e eu ri. Ele fica tão fofo quando está envergonhado.
— Não tem problema — digo e tento voltar a andar, mas antes que eu pudesse dar um passo, ele me segurou.
— E pode ser hoje à noite? — ele perguntou, seus olhos presos nos meus.
— Ah, tudo bem... Eu só vou avisar para minha mãe. Tchau. — eu digo e olho para suas mãos ainda presas em volta do meu antebraço. Levanto a cabeça, encarando-o.
— Você ainda está me segurando.
Ele olha para as próprias mãos e se afasta com pressa.
— Desculpa...
É a primeira vez que eu o vejo tão tímido. Isso era fofo e estranho.
— Não tem problema.
...
— Então você está me dizendo que tem um encontro com Nicolas.
Eu estava na biblioteca, absorta em um livro, quando Beth entrou, arrancando o livro das minhas mãos. Beth era bem insistente quando queria algo, e eu sabia que teria que contar sobre o 'encontro' com Nicolas.
— Não é um encontro... é apenas algo normal.
Nada estava normal ultimamente; parecia que minha vida, de uma forma estranha, ganhou uma dose radical de adrenalina, e agora tudo que eu queria era estar sozinha, sem companhia e, principalmente, sem Treves atormentando meus pensamentos.
— Claro, esqueci — ela disse, sarcástica, e eu revirei os olhos. — Mas será que o Treves não vai surtar? — ela perguntou.
Olhei para ela, arqueando as sobrancelhas. Por que Treves surtaria? Bem, eu sei que ele não bate bem da cabeça, mas não acho que seja para tanto.
— E por que ele surtaria? — resolvi perguntar.
— Primeiramente, estamos falando do Treves Campbell. Ele surta por tudo que tem a ver com você e, segundo, talvez ele não queira ver seu amigo com você — ela deu de ombros, como se isso explicasse tudo.
Jogando a cabeça para trás, eu solto um suspiro alto, sentindo o peso do mundo em meus ombros. Viro-me para Beth.
— Acha que eu deveria cancelar as coisas com Nicolas? — minha voz sai mais fraca do que eu gostaria, revelando a incerteza que me consome.
Ela me encara, seu olhar sério e ponderado. Ela cruza os braços, inclinando a cabeça de lado como sempre faz quando está analisando algo importante.
— Depende, você gosta do Nicolas? — ela devolve a pergunta, e me olhou sério.
Eu hesito, mordendo o lábio inferior. A verdade é que eu não sei. Nicolas é incrível, gentil e fofo, mas...eu não gosto de ninguém, talvez eu goste, mas não tenho certeza de nada.
— Eu não sei — admito finalmente, sentindo uma honestidade dolorosa nas palavras.
— Talvez você não precise cancelar... Sei lá , aproveite com ele. — sugeriu Beth suavemente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Intenções Perversas
RomanceDaysha Cupper, uma jovem evangélica de 17 anos, que enfrenta a mais dolorosa das dores: a perda de seu pai. Envolta em luto e lutando contra a depressão, ela se isola, buscando refúgio em sua própria solidão. Mas o silêncio de sua alma é perturbado...