— Por que você está chorando? — perguntei, agachando-me para sentar perto dela. Seus olhos marejados e lábios trêmulos denunciavam seu estado.
Eu não sabia o que pensar direito quando a vi sentada no chão do banheiro, com as mãos na cabeça e chorando baixinho. Por que ela não esquece logo do Treves?
Não fazia sentido, droga... Era para ela esquecer disso e seguir em frente, não ficar presa a esse sofrimento.
— Eu gosto dele — ela murmurou, olhando para mim com os olhos vermelhos e quase inchados. — Eu nunca pensei que gostaria de algum menino como gosto do Treves. Eu sei que ele sempre deixou claro o que queria, mas... — ela parou, incapaz de pronunciar a palavra.
Sim, ela realmente tem sentimentos pelo Treves. Está chorando por ele? Eu deveria estar triste, e estou... mas essa tristeza não é a que eu gostaria de sentir.
— Eu... sei... — ela me olhou. — Se não gostasse, não estaria chorando por ele, Shana.
— Você sabe o que é gostar de alguém que é impossível? — ela perguntou. — É como se eu quisesse parar de gostar dele, mas toda vez que entro naquela maldita sala, fico olhando para ver se ele está lá. Quando ele sorri, parece que eu daria tudo para que ele olhasse para mim e não me usasse como se eu fosse um objeto.
Ela desabafou e desviou o olhar, incapaz de continuar falando ou até mesmo de me encarar. Ver uma garota, sua ex-amiga, chorando pelo seu namorado é algo... estranho e muito desconfortável.
— Não, você não sabe — ela suspirou. — O Treves te segue como um cachorrinho sem você precisar fazer nada para chamar a atenção dele. Eu tenho que agir como você, Dy? Tenho que ser a garota que perdeu o pai? A garotinha triste que tenta ficar longe de todos? Tenho que ser a porra de uma garotinha solitária para chamar a atenção dele?
Uau, isso magoou.
Principalmente por ela ter mencionado a morte do meu pai, sabendo o quanto eu lutei e estou lutando para superar não tê-lo mais na minha vida.
— Se um cara não consegue gostar de você do jeito que você é, então ele não é o cara certo para você, Shana — murmurei tão baixo que pensei que ela não fosse ouvir. — Esqueça-o... você é melhor do que isso.
— Uma vez, quando cheguei aqui pela primeira vez, alguém me disse que ele era inesquecível, que ele nunca se apaixonou, nunca quis estar em um relacionamento, e mesmo assim eu quis seguir em frente. Sabe por quê? — perguntou, respondendo a si mesma. — Porque eu queria ser aquela que iria consertá-lo, e isso é engraçado pra caramba porque foi ele que me quebrou...
Quando vi as lágrimas rolando pelo seu rosto, me aproximei e a envolvi lentamente em meus braços, tentando confortá-la.
— O que você tem que eu não tenho, Dy? — ela chorava ainda mais, e eu suspirei, começando a fazer carinho em seus cabelos. — O que há de errado comigo?
— Não há nada de errado com você, Shana — segurei seu queixo, fazendo-a olhar para mim. — Você é linda, é maravilhosa demais... o Treves apenas não é aquele que deveria ser seu.
Ela desviou o olhar como uma criança procurando consolo e me abraçou com mais força.
Ficamos ali em silêncio por muitos segundos, até que ela ergueu os olhos e forçou um sorriso quebrado.
— Foi estranho eu ter chorado pelo seu namorado no seu colo, né? — sorri para ela, e ela se levantou do chão, me ajudando a levantar também. — Obrigada... e desculpa por ter feito tudo o que fiz.
— Está tudo bem, Shana — eu a tranquilizei.
— Não, não está nada bem. Eu dopei o seu namorado e ainda dormi com ele — passou as mãos na cabeça. — Eu passei tanto tempo te julgando que, no fim das contas, eu fui a vadia má... me desculpa.
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Intenções Perversas
RomanceDaysha Cupper, uma jovem evangélica de 17 anos, que enfrenta a mais dolorosa das dores: a perda de seu pai. Envolta em luto e lutando contra a depressão, ela se isola, buscando refúgio em sua própria solidão. Mas o silêncio de sua alma é perturbado...