Capítulo 22

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— Onde passou a noite?

Depois que Treves me deixou a três quarteirões de minha casa, por sorte consegui entrar sem chamar a atenção de Henry, mas assim que entrei no quarto, encontrei minha mãe sentada na cama com um dos meus livros entre os dedos.

O fato de eu estar usando as mesmas roupas e a cama estar quase arrumada denunciava que eu não passei a noite ali. E como explicar para minha mãe que eu saí quase de madrugada para ajudar uma pessoa que me odeia e que eu odeio ainda mais?

— Eu... — comecei, sem saber o que dizer. Eu nunca fui de mentir, independentemente do que fazia, eu sempre contava para minha mãe.

Ultimamente, estou sendo uma filha horrível, eu não sou assim e não deveria estar me comportando dessa forma. Não foi assim que meu pai me criou, acredito que estou fazendo o contrário do que prometi.

— Eu não te criei assim — ela começou — olhe para você, desde quando dorme fora e chega de manhã desarrumada?

— Eu sei, mãe... foi...

— Eu sei que não estou muito presente ultimamente, mas você deveria ser um pouco mais compreensiva...

Mais compreensiva?

— Não é nada do que você está pensando, eu dormi fora porque um amigo precisou de ajuda e...

— É a última vez que isso acontece — ela disse severamente e eu abaixei a cabeça — e percebi que você não está indo direito aos cultos da igreja, falei com o senhor Ronny e agora você fará parte da limpeza todos os dias da semana, começando amanhã.

— Tudo bem, mãe. Eu peço desculpas. Não vai acontecer novamente — disse eu, com a voz baixa e um nó na garganta. A sensação de ter decepcionado minha mãe pesava mais do que qualquer outra coisa naquele momento.

Minha mãe me observou por um instante, seus olhos analisando cada expressão do meu rosto, como se tentasse ler os pensamentos por trás deles. Então, com um suspiro que parecia carregar tanto desapontamento quanto preocupação, ela se levantou da cama.

— Vai se arrumar para a aula — ordenou ela, com uma voz severa que não admitia réplica.

...

Cada passo que dou pelos corredores da escola é como andar sobre cacos de vidro. Sinto os olhares em mim, queimando minha pele como marcas de ferro em brasa. As meninas riem, seus olhares carregados de deboche, como se eu fosse uma piada ambulante. Os meninos... eles me olham com algo pior, um desejo sujo que me faz querer arrancar minha própria pele.

Eu tento ignorar, manter minha cabeça baixa, mas é como se eu estivesse nua sob holofotes. E então, aquele assobio, nojento e invasivo, corta o silêncio.

— Quanto é a noite? — a pergunta me atinge como um soco no estômago. Paro, me viro, e lá estão eles, os caras do basquete, sorrindo com arrogância.

— Do que você está falando? — minha voz sai mais fraca do que eu gostaria, trêmula com uma raiva que eu não sabia que tinha.

Eles riem, e as meninas se aproximam, suas mãos em meu cabelo como se eu fosse um animal de estimação.

— Sempre soube que não era essa santinha que sempre fingiu ser. E só precisou de uma oportunidade para levantar as saias — elas zombam, e eu me sinto pequena, envergonhada, suja.

Não sabia por que eu estava envergonhada, eu não estava entendendo nada. Talvez fosse uma das brincadeiras deles, mas qual o motivo disso tudo?

E então ele se aproxima, o cara alto com um sorriso maior do que seu rosto.

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