Capítulo 49

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A primeira coisa que eu fiz ao acordar foi olhar para o outro lado da cama. Eu deveria saber que aquele sonho onde Treves e eu tivéssemos algo não duraria muito.

Eu sabia que isso iria acontecer, eu quis apostar e eu pedi. Tudo bem, não é a primeira vez que Treves foi um idiota, eu estava acostumada.

Ele só queria uma noite.

Droga... como eu pude deixar isso acontecer? Como pude me entregar tão facilmente a alguém como ele?

O pior é que eu gostei, não vou dizer que não me arrependi, porque estou arrependida de ser mais uma da sua lista. Mas algo me diz que mesmo que eu tivesse o poder de voltar no tempo, eu não mudaria nada.

Me levantei sentindo minhas pernas um pouco doloridas e me esforçando para caminhar até sua penteadeira, sentei olhando uma imagem acabada de mim.

Estou bem. Posso superar isso. Foi apenas uma noite.

Eu repetia as mesmas coisas, tentando me convencer de que as coisas estavam bem.

Como eu iria encarar as pessoas se mal conseguia me olhar no espelho?

Talvez ele não vá falar com ninguém sobre o que aconteceu. O que era patético e ingênuo da minha parte pensar, já que ele já havia acabado com a minha "reputação" dizendo que eu havia ficado com ele, sendo que naquela época não tinha rolado nada entre nós dois.

Suspiro fundo e envolvo a cabeça entre as mãos.

Eu preciso sair daqui.

Me levantei, pegando as minhas roupas que havia dobrado na noite passada, coloquei às pressas a calça e logo em seguida a camisa branca, esquecendo completamente do sutiã ou até mesmo da calcinha.

Eu só sei que preciso sair daqui. Não quero mais ter que relembrar o que aconteceu ontem à noite.

Todo isso estava me fazendo me sentir errada de todas as formas.

O quão ruim eu fui?

Terminei de calçar o tênis e peguei a bolsa, saindo do quarto. Olhei mais uma vez a casa vazia.

Por fim, saí dali, pegando um táxi. Eu não estava pronta para aguentar todos aqueles olhares julgadores sobre mim.

Não demorou muito para chegar em casa. A primeira coisa que fiz foi correr até o quarto e me jogar na cama.

Ele acha que é digno das minhas lágrimas?

Por que ele tinha que fazer isso? Eu só precisava que ele ficasse longe.

— Querida — escuto a minha mãe entrando no quarto. — Onde dormiu ontem à noite? — eu ignorei, talvez eu temesse que a minha voz saísse chorosa. — Eu sei que eu fui um pouco... Desculpa, eu apenas fiquei preocupada com Henry...

— Está bem — murmurei, com a voz baixa.

— Filha..

Ela começou, mas a interrompi, sem olhar para ela. Eu já estava esgotada demais para lidar com isso.

Não seria a primeira vez que ela fica contra mim, nem a última. Ela diz e faz as mesmas coisas.

— Estou bem. Esqueça, já passou.

— Que tal passarmos o dia de mãe e filha? Lembra quando....bom, acho que seria divertido.

— O papai morreu, mãe. Não aja como se ele nunca tivesse existido.

— Eu não...

Me levantei, olhando para ela parada na porta com as mãos ainda na fechadura. Ela parecia distante e como sempre algumas machucados no rosto que ela tentava cobrir com maquiagem.

Ela deveria ao menos tentar fazer uma maquiagem melhor.

— Você age como se eu e ele fôssemos passados. Agora esqueceu completamente do homem que se dizia ser o grande amor da sua vida? — desabafei sentindo os meus olhos começarem a ficar úmidos.

Talvez fossem os acontecimentos recentes. Mas eu simplesmente não estou aguentando mais, a minha vida, a minha rotina, tudo.

Por que tudo tem que acontecer comigo? Por que... Cada vez que eu fico feliz o destino se volta contra mim?

O que há de errado comigo?

— É claro que não. Do que está falando? — ela perguntou — Eu amei o seu pai e ele sempre será o meu grande e primeiro amor, eu não o esqueci — ela murmurou com dificuldade — Mas você tem que entender que o amor da minha vida agora é o Henry.

— Ah, que amor é esse que te faz de pancada? — pergunto num tom um pouco mais alterado — Eu não sou cego, estou vendo esses machucados no seu rosto, mãe. É isso que você quer? Um maldito homem bêbado que não faz nada? Um homem que agride e quase abusa da....— parei de falar imediatamente, percebendo as minhas palavras.

— O que? — ela se aproximou na minha direção e sentou na cama, pegando meu rosto com as mãos — me diz o que aconteceu, Daysha.

Nas primeiras semanas que chegamos, tudo era perfeito e até achei que tivéssemos a chance de ter uma vida feliz. Eu sei que o Henry nunca substituiria o meu pai, mas achei que ele pudesse ser uma figura que eu pudesse admirar.

Talvez naquele tempo eu fosse um pouco ingênua, mas eu estava me agarrando tão firmemente na ideia de ter uma família e ser feliz que me deixei cegar.

Naquela noite foi a primeira vez que vi o verdadeiro face de Henry, quando ele chegou bêbado e minha mãe não havia chegado ainda. Eu pensei que era algo normal, uma bebedeira na sexta feira, então fui ajudar, fazendo um chá, mas foi tudo tão rápido.

Ele me agarrou e começou a tirar as minhas roupas, e, por sorte, minha mãe chegou e ele se afastou. Não sei se foi a vergonha ou o medo de ser julgada, eu simplesmente fugi para o meu quarto e me tranquei lá, esperando que tudo aquilo não tivesse acontecido. Eu pensei que podia esquecer, fingir que nada havia acontecido, mas não consigue.

Estou sendo dramática, eu sei, mas ainda me pergunto o que teria acontecido se ela não tivesse chegado.

— Não foi nada — afastei suas mãos e me levantei da cama, sentindo o peso da confusão em meu peito. — Eu apenas... Sei lá o que deu em mim, desculpa. — disse, saindo do quarto antes que ela pudesse responder, deixando para trás um silêncio desconfortável.

— Ultimamente, as coisas não estão indo bem... Estou sendo uma péssima filha — suspirei, olhando para o túmulo do meu pai. O vento frio acariciava meu rosto, trazendo consigo o cheiro de terra molhada e flores frescas.

Dean Cupper. Morreu em 2022. Bom pai e marido.

— Onde devo começar? — perguntei, sorrindo melancolicamente. — Faz tempo que não venho aqui, quase estava esquecendo como é bom ter solidão e alguém para conversar. As coisas com minha mãe parecem piorar a cada dia que passa, talvez eu não esteja cumprindo bem meu papel de boa filha. O que posso dizer? A escola está quase a mesma coisa, exceto por ter perdido a virgindade com um idiota que me abandonou no dia seguinte como se eu fosse uma vadia... bom, só faltou ele deixar o dinheiro. — ri sem graça, sentindo uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto. — Sinto sua falta, talvez as coisas fossem diferentes se você estivesse aqui.

Intenções Perversas Onde histórias criam vida. Descubra agora