Capítulo 77

3.4K 234 94
                                    

— Me solta, Treves! — gritei, e ele me empurrou para o sofá, me fazendo cair sentada.

— Onde você foi com ele? — ele rosnou, parecendo ter perdido a cabeça.

Levantei-me do sofá e tentei passar por ele para ir até a porta e sair daqui. Eu não iria me submeter a discutir com Treves nesse estado.

Mas assim que passei por ele, suas mãos agarraram meu antebraço com força.

— Eu te fiz uma pergunta, Dayha — seu aperto ficou mais forte em volta dos meus braços, tanta força que eu sabia que ficaria roxo amanhã.

— Você está me machucando, Treves — ignorei sua pergunta e tentei empurrá-lo com força para me livrar do seu aperto.

Ele me empurrou para longe e passou os dedos pelos cabelos com força, evitando que alguns fios caíssem no rosto.

Suspirei fundo e olhei ao redor do apartamento, tentando me acalmar também.

— Por que diabos você foi se encontrar com ele, Dy? Por que continua indo atrás dele?

— Eu não fui atrás de ninguém! — gritei de volta.

— Então por que, toda vez que eu sumo por alguns segundos, eu te encontro nos braços dele? — ele tentou se aproximar, mas recuei, dando passos para trás até ficar encurralada contra a parede.

— Por segundos? — ironizei, e Treves finalmente parou de se aproximar e desviou o olhar do meu, culpado. — E sabe que eu estou me perguntando onde você esteve ontem à noite? Estava ocupado com quem?

— Dy...

— Com quem você estava, hein? — voltei a perguntar, agora com mais raiva.

— Eu não estava com ninguém — ele murmurou rouco, sem conseguir olhar nos meus olhos.

Eu poderia fazer milhares de coisas, poderia dizer bilhões de palavras, mas nada seria suficiente para explicar esse sentimento que estou sentindo.

Eu podia ver a culpa em seu rosto de longe.

Uma vez alguém disse que ele parecia ser inesquecível, e ele de certa forma é. Ele te deixa vulnerável de um jeito que você sente raiva de si mesma por ainda querer estar com ele. As coisas que ele está fazendo eu nunca vou conseguir esquecer, mas algo dentro de mim ainda quer estar em seus braços, e isso é doloroso...

É doloroso querer estar com alguém que você sabe que não é o certo.

— Samantha, Shana... com quem foi dessa vez? — perguntei, sem saber por que queria saber disso.

Ele permaneceu em silêncio.

Por que dói tanto?

Olhei para ele uma última vez e me virei para ir embora. Eu não precisava de uma resposta para saber que ele havia dormido com alguém.

Shana.

Samantha.

Qual a diferença?

Estou com muita raiva e muito magoada, de uma forma que queima e machuca, porque toda vez que decido confiar nele, ele faz alguma merda e isso me destrói.

Inferno, eu me sinto perdida.

Não paro de me perguntar o que há de errado comigo por gostar de alguém como Treves, que só sabe me machucar.

Ele não é a pessoa certa para mim.
Eu não sou a pessoa certa para ele.

Então, por que continuamos tentando dar certo?

— Ela me drogou, Dy. Olha para mim — ele foi rápido em me alcançar e segurou meu rosto nas mãos, limpando lágrimas que eu nem sabia que estavam sendo derramadas.

Eu não queria chorar e me sentir mais patética na frente dele, mas não pude evitar.

Não pude evitar porque, mesmo não admitindo, eu amo Treves e apenas o único pensamento dele transando com outra pessoa me faz querer chorar.

— Não chore, por favor — ele pediu, limpando cada lágrima que caía no meu rosto. — Eu juro por Deus que eu não quis fazer...

— Você é um idiota, Treves — eu o empurrei com força e limpei minhas próprias lágrimas. — Desaparece da minha vida, me deixa em paz.

— Eu não posso... eu não posso te deixar ir, Dy.

...

Eu estava andando sem saber para onde ir. Tudo que eu sabia era que queria estar sozinha, em um lugar muito distante, sem ninguém por perto, sem nada me atormentando, sem os pensamentos de Treves dormindo com outra pessoa.

Por que eu sempre coloco na minha cabeça que as coisas com Treves vão acabar bem?

Eu poderia colocar a culpa totalmente nele, mas, sendo sincera, sei que tudo isso está acontecendo por minha culpa.

Eu poderia estar fazendo milhares de coisas em vez de estar aqui, numa estrada, chorando por um cara para quem eu não significo nada além de prazer, algo casual.

Paro de andar abruptamente e olho a estrada à minha frente. Pego o celular no bolso e chamo um Uber. Fico sentada por alguns segundos antes que o motorista chegue e entro no carro.

— Endereço? — ele pergunta, dando o habitual sorriso educado.

— A clínica mais próxima.

Murmurei e olhei pela janela, sentindo mais uma vez lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Eu estive pensando ultimamente e não quero manter essa criança. Não sou uma pessoa má, mas não aguento mais. Sei que não vou ser capaz de oferecer uma vida estável para essa criança. Tentei fingir que estava tudo bem, tentei manter essa farsa, mas só Deus sabe o quanto estou me esforçando para que as coisas dessem certo. Sei que ele é apenas um bebê e não tem culpa de nada. Eu sou a culpada... Eu sinto muito, sinto muito mesmo, não foi o que eu planejei.

O quão horrível eu sou?

Eu não quero abortar essa criança, eu realmente não quero, mas parece ser o certo e isso é uma merda porque, neste momento, eu não sei o que está ou não certo... Mas não posso me dar o luxo de ter um filho de Treves.

Não quero ter essa vida, não quero ser apenas algo passageiro. Eu sei que muitos querem apenas curtir o momento, mas eu não quero isso. Eu não quero ter que ter medo de com quem Treves vai transar assim que eu lhe der as costas.

Eu queria fugir da minha realidade por alguns segundos e Treves, de certa forma, me ajudou a superar a morte do meu pai, mas cada dia eu estou me afundando mais e mais com esses sentimentos e esse relacionamento tóxico que temos.

Meu olhar fixou na janela enquanto a cidade passa em um borrão de luzes e sombras. As ruas estão movimentadas, mas tudo parece tão distante, como se eu estivesse em um mundo à parte.

Minhas mãos, quase por instinto, vão até a minha barriga.

As lágrimas mais uma vez começam a escorrer silenciosamente pelo meu rosto. Tento não fazer barulho, não quero que o motorista perceba meu desespero.

— Desculpa... — murmurei baixo.

É uma desculpa para o bebê que nunca vai conheçer o mundo, uma desculpa para mim mesma por estar tão perdida.

— A senhorita está bem? — o motorista pergunta, me observando pelo retrovisor. Forço um sorriso, limpando as lágrimas do meu rosto.

— Estou bem — respondo, e ele acena com a cabeça, seguindo o caminho.

Meu coração está dividido entre o que sinto e o que sei que mereço.

~~~


Esses são os capítulos finais. Eu estou adiantando algumas coisas porque não quero que o livro fique muito grande e tedioso... Acho que faltam poucos capítulos para ser o último.

E se despencam do bebê porque ele foi para o ralo KKKKKKKKK.

Intenções Perversas Onde histórias criam vida. Descubra agora