Capítulo 32

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Eu caminho pelo corredor, o silêncio amplificando o eco dos meus passos e o tumulto dos meus pensamentos. O beijo de Treves... ainda posso sentir cada detalhe dele, como se tivesse sido gravado na minha pele. Ao entrar no banheiro, me vejo no espelho e, sem pensar, meus dedos seguem o caminho que os lábios dele fizeram nos meus. Suspiro enquanto lavo o rosto, tentando lavar as lembranças junto com a água fria.

Meus cabelos caem soltos sobre os ombros, e eu os encaro no espelho. Treves disse que eu ficava mais bonita assim, mas cada mecha solta é uma lembrança daquele momento idiota. Com uma careta de desgosto, eu os amarro de novo.

Quando saio, encontro Beth, que levanta as sobrancelhas.

- Por que demorou tanto para pegar o livro? - ela pergunta.

Passo as mãos pelo rosto, buscando uma calma que não consigo encontrar.

- Eu encontrei a senhora White na biblioteca e fiquei para conversar com ela - respondo, e a mentira me deixa nauseada.

- E por que seu rosto está vermelho? - Beth insiste.

- Eu... estou vermelha? - murmuro, sentindo meu coração acelerar.

- Já está na hora de irmos embora, e eu estou nervosa. Hoje é meu primeiro dia de trabalho, e não sei se vai dar tudo certo - digo, revelando apenas a parte da verdade.

Beth me olha, ainda incerta, mas sorri.

- No primeiro dia não vai ser tão difícil - ela diz. - Você só vai servir algumas mesas e anotar pedidos. É só isso.

...

- O que o senhor vai querer? - pergunto, com um bloquinho de anotações em uma das mãos e uma caneta na outra.

Assim que eu e Beth saímos, eu peguei um ônibus que me deixou na frente da lanchonete. Não era uma coisa muito grande, mas parecia ser confortável e aconchegante. Depois que entrei, a gerente, uma garota chamada Lorita que parecia ser gentil, me deu um uniforme e, sinceramente, eu não gostei; era muito curto e apertado.

Mas mesmo assim me vesti como todos e comecei a servir as mesas. Eu saí às 5 da escola e agora eram quase 7. Eu vou sair às 8. Não falta muito.

- Uma porção de batata frita com bacon e bastante queijo pra mesa oito.- digo assim que volto ao balcão e Lorita pega o pedido, mas parece distraída demais para sequer me ouvir.

- Você está ouvindo? - resolvo perguntar.

- Uhum - ela murmura sem desviar os olhos de sei lá o quê.

Dou de ombros e pego a entrega da mesa vinte e seis, mas antes que eu tenha chance de sair, ela puxa meus braços e ri alegremente.

- Me faz um favor? - ela pergunta, juntando as mãos e piscando os olhos. Reviro os olhos, mas concordo. - Poderia atender aquela mesa?

- Por que você não atende? - pergunto, curiosa, e ela para de rir e suspira dramaticamente.

- Dá uma olhada por si mesma - ela diz e aponta o dedo discretamente para um lugar no fundo.

Quando me viro, me deparo com Treves sentado e com um celular nas mãos. Ele está usando uma simples camisa preta e seus cabelos estão bagunçados de um jeito fofo, mas muito atraente. Ele não parece ter notado a minha presença.

- E..? - pergunto, fazendo a minha melhor cara de desentendida, e ela revira os olhos.

- Eu tenho medo de chegar perto dele e travar. Você sabe como é... - ela diz, e eu suspiro mais uma vez, olhando para Treves.

Por que todos que eu conheço gostam tanto dele? Me viro mais uma vez e o olho discretamente. Ok, ele é muito bonito, mas...

Meus olhos vagam lentamente pelo seu rosto, tudo nele parece tão lindo e perfeito. Seus olhos escuros parecem vazios e sem cor, sua mandíbula firme e definida o deixa tão atraente. Rolo os olhos pelo seu corpo, avaliando as tatuagens nos seus braços e peito; não sei o significado delas, se é que têm algum.

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