Nicolas LeBlanc

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Eu sempre pensei que o amor fosse um sentimento inútil, uma coisinha sem sentido, e por muito tempo eu fiquei feliz por não gostar de ninguém. Era só eu, para ser sincero, é tudo que eu sempre quis.

Eu e Treves nos conhecemos desde muito cedo. Eu conheço ele como conheço a palma da minha mão e ele também me conhece como ninguém. Mesmo tendo personalidades muito diferentes, alguma coisa nos fez amigos. Quando eu o conheci, ele era apenas um garoto quebrado que não ligava pra nada. Pensando agora, eu acho que era a única coisa que tínhamos em comum.

Nenhum de nós realmente tinha alguém que se importasse com a gente.

Brincadeiras idiotas começaram a ser conversas sobre com quem foi o seu primeiro beijo e depois sua primeira foda e depois sua primeira experiência com drogas e seus envolvimentos com corridas ilegais.

Cada dia que passava, mais quebrado ele se tornava, se envolvendo ainda mais com drogas e coisas que ele sabia que não deveria.

Eu entendo ele. A vida do cara é uma merda.

A mãe vivia no trabalho e sem dar importância pro filho, que era apenas um garotinho procurando por atenção, e o pai... bom, ele simplesmente esqueceu da existência do próprio filho.

O Treves literalmente vivia em casa de amigos e festas, tirando notas baixas, tendo overdoses e se afundando ainda mais.

E quando finalmente entramos pro ensino médio, ele parecia mais animado e feliz, e tudo por culpa de uma garotinha ingênua com grandes olhos castanhos e um sorriso doce.

E o meu pior erro foi desejar a garota do meu irmão, mesmo sabendo que eu deveria me manter longe.

Mas seria muito fácil se a gente pudesse deixar de querer alguém só porque sabe que é a coisa errada.

Segurar Cupper me destrói, mas deixá-la ir me mata.

No começo, Treves parecia apenas querer provocá-la e era insano como ele ficava louco quando alguém mexia com aquela garota. Ele parecia ter uma obsessão doentia que nem ele entendia e na verdade ninguém entendia.

Cada vez que a via, sentia a culpa de desejar o que não posso ter, sabendo que meu amigo também a queria... por mais que Dy apenas significasse um passatempo idiota pra ele.

Eu tentei evitá-la, eu tentei ficar na minha, e porra, nada adiantava. Toda vez que eu a olhava parecia que mais eu a queria. Era loucura porque não sabia que eu poderia sentir algo assim por alguém.

Por fim, eu tomei coragem e a chamei pra sair. Não esperava que Treves surtasse da forma como ele fez. Eu perguntei, mas ele negou, porra, ele negou, dizendo que não tinha sentimentos pela garota... então apenas segui em frente.

Eu me vi completamente preso em Dy, esquecendo completamente do meu melhor amigo. Mas droga, eu também a queria.

Eu deveria abrir mão dela?

Mas ela é a única coisa que realmente me fazia me sentir em paz. Quando estava com ela, algo dentro de mim parecia reviver.

As brigas começaram. Ele não queria abrir mão e finalmente percebi que Treves realmente amava Dayha cupper.

Porque em quase oito anos Treves nunca negou nada pra mim. Mesmo que sempre fingisse não ligar pra ninguém, ele sempre fazia tudo pra que eu ficasse bem. Mas ele não pode esquecer uma garota qualquer?

Essa droga é muito engraçada porque eu também nunca negaria nada pra ele, mas eu simplesmente não deixava ela ir.

Nós nos afastamos. Não sei se isso foi o melhor a se fazer, mas estou um pouco aliviado por Dy ter o escolhido... porque eu finalmente consegui que ele fosse feliz.

Eu passei tanto tempo correndo atrás da felicidade dele, eu tentei de tudo para o ver sorrir e no fim a sua única felicidade também era a minha felicidade.

Ver Treves sorrir ao lado dela deveria me trazer paz, mas só aumenta a dor de não poder tê-la.

Quando Treves está com Dayha, ele volta a ser aquela criança fofa sem traumas e eu estou feliz de certa forma por ele.

Mas agora que ela se foi, ele voltou a ser o mesmo cara quebrado; mesmo tentando disfarçar que está seguindo em frente, eu vejo em seus olhos o pedido de ajuda.

Ele tenta guardar tudo para si mesmo, mas eu o conheço o suficiente para saber que a mente dele está fodida de uma forma que não tem mais conserto.

Ver meu melhor amigo se perder nas sombras da própria dor é uma tristeza que não consigo descrever, e parte de mim se sente culpado por não poder ajudá-lo.

Não consigo fazer nada para ajudá-lo porque eu também estou tentando lidar com essa merda toda...

Estou tentando me acostumar com a dor de ter a garota que eu amo enterrada a sete palmos debaixo da terra, e eu nunca vou ter a chance de abraçá-la e ao menos ter me despedido dela.

Estou tentando me acostumar com a ideia de que daqui a algumas horas eu vou estar em um lugar bem longe. Não longe o bastante para esquecer de Cupper, mas longe o suficiente para tentar colocar minha vida na trilha certa.

Eu nunca parei de gostar de Dy e acho que, da mesma forma que Treves nunca esquecerá dela, eu também não vou conseguir.

Como posso esquecer alguém se até o cheiro dessa pessoa está preso nas minhas memórias?

Acho que um final feliz nunca foi para nós três.

Passei quase minha vida inteira tentando salvar Treves Campbell a cada queda, mas no fim eu também precisava ser salvo.

Não posso salvar alguém quando eu estou implorando para ser salvo.

"A saudade de você é uma dor que nunca vai embora."

Com amor,

Nicolas LeBlanc.

Termino de escrever no diário e o coloco cuidadosamente sobre o túmulo, junto com algumas pétalas de flor.

É, chegou a hora de dizer adeus. Eu não quero dizer adeus, mas sei que preciso.

Abro um sorriso triste, olhando uma última vez para o nome gravado na lápide e me viro, começando a caminhar para longe dali.

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