Capítulo 39

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— Qual é, Day? — Beth, que estava deitada ao meu lado, mexendo no celular, berra de repente, levantando-se da cama.

Os dias passaram rápido desde o último acontecimento. Shana não voltou mais a falar do Treves, mas ela estava um pouco mais distante de nós e, de vez em quando, eu a via sentada ao lado de Treves durante o almoço.

Eu gostaria que ela voltasse a si e pelo menos fizesse um esforço para esquecer o que ela diz sentir por aquele idiota, mas parece que a cada dia que passa, ela está cada vez mais envolvida.

E agora eu estava mais uma vez passando a noite na casa da Beth. As coisas entre a minha mãe e o Henry não estavam indo nada bem. Era a terceira vez na semana que minha mãe aparecia com algum machucado.

Eu tentei ignorar, me fazer de cega, mas não estava mais aguentando essa situação. Puxei minha mãe para termos uma conversa séria, falei que ela não precisava se preocupar com nada, que eu estava ali para tudo. Mas mais uma vez meu esforço foi ignorado.

Então pedi permissão dela para dormir na casa da Beth naquela noite. Estava ficando cansada dos barulhos e gritarias, das brigas em casa.

Parece que desde que papai se foi, não tenho mais um lugar de paz.

— E agora? O que eu fiz? — perguntei, afastando o livro dos meus olhos.

Ela suspirou dramaticamente e me puxou para sentar ao seu lado, colocando o celular na minha frente. Olhei para a tela, vendo um vídeo de vários carros numa estrada qualquer, correndo e pessoas gritando animadamente.

— Uau — fingi animação — Parece ser... legal.

— Nem vem com esse tom de ironia. É legal. Todos estão lá hoje à noite, inclusive a Shana.

— São quase 10 horas da noite, Beth — apontei e ela revirou os olhos, fazendo uma careta de desgosto.

Ela levantou e começou a procurar roupas no seu closet e eu me levantei também, apoiando-me na sua penteadeira.

— O que está fazendo? - questionei.

Ela parou com um vestido em suas mãos e se virou para mim com um sorriso enorme no rosto, mostrando todos os seus dentes brancos.

— Eu vou para a racha - ela deu de ombros — você conhece a casa, pode ficar à vontade.

— O que? Você não pode ir a um lugar desses. E se ficar bêbada? E se alguém te embriagar como fizeram comigo? E se...

Ela riu e veio correndo em minha direção, me puxando para o closet.

— O que achou deste vestido? É novo, eu nunca usei - ela segurou um vestidinho preto com um grande decote V, e tentando ver como ficava em mim.

— Eu não disse que iria, Beth — falei, afastando o vestido perto de mim.

Mesmo que eu fosse louca, jamais iria usar algo daquele tipo.

— Day... por favorzinho, por favor — ela juntou as mãos, fazendo um biquinho que acho que era para ser fofo.

— Beth...

— Olha, eu vou ficar a noite inteira com você. Só estou empolgada para ver a corrida... eu nunca fui em um lugar desses.

Suspirei fundo e acenei com a cabeça, concordando.

...

Chegamos na racha e me sinto um pouco enjoada com o cheiro forte de fumaça e as garotas quase nuas.
É um lugar afastado da cidade, um terreno baldio cercado por muros. Há vários carros estacionados, alguns tunados, outros não. Há também muita gente, de todos os tipos e estilos. Há música alta tocando, luzes piscando, fumaça saindo dos escapamentos.

Eu me viro para Beth, que está olhando animada para tudo ao nosso redor, e acabo gritando um pouco alto, já que o lugar está movimentado demais, quase impossível de ouvir algo além dos barulhos dos motores dos carros ou o pessoal gritando.

— Aqui está me dando dor de cabeça - reclamo, e Beth, se aproxima um pouco e grita de volta pra que eu podesse ouvir:

— Fique aqui, vou pegar algo para você beber.

Ela não espera por uma resposta e sai correndo, não sei para onde. Suspiro e tiro uma mecha de cabelo que estava na frente dos meus olhos, olhando mais atentamente o local. Era a minha primeira vez em um lugar desses, e nunca que eu iria por escolha própria. Meus olhos descem para o vestido que estou usando, curto e apertado, destacando mais do que deveria as minhas curvas. Por que diabos eu dei ouvidos a Beth?

— Tenho quase certeza que não foi uma escolha sua estar aqui - escuto uma voz masculina perto do meu pescoço e me afasto rapidamente. Era Nico.

— Você me assustou - falo, desviando o olhar para os carros prestes a correrem. — Você tem razão. Aqui é o último lugar que eu gostaria de estar. Aliás, eu não te vi na escola.

Nico sorri e passa as mãos na cabeça.

— Estava doente - dá de ombros sem muita importância.

— E você está aqui, em um lugar desses? Você deveria estar descansando - minha voz sai mais preocupada do que eu gostaria, e Nico dá alguns passos em minha direção.

— Já estou melhor - ele garante. - Obrigado por se preocupar.

Fico em silêncio, sem saber o que dizer. A aproximação de Nico está me deixando um pouco nervosa, e não sei como lidar com isso. Estou até prendendo a minha respiração, rezando mentalmente para que Beth volte logo com a bebida.

— Está nervosa? - ele pergunta, parecendo mais uma afirmação, e rapidamente nego com a cabeça, mordendo os lábios.

— O lugar está me deixando um pouco desconfortável - minto, e ele ri.

— Hum. - olho discretamente para ele ,  percebendo o quanto ele está bonito.

— Eu estava pensando, já que você perdeu muitas coisas... então eu pensei... - gaguejo, sem saber como dizer o que queria. O que exatamente eu tô tentando dizer?

— Aceito - ele concorda, e eu faço uma careta.

— Você nem sabe o que eu iria dizer - murmuro.

— Estou aberto a todas as suas sugestões - ele brinca, piscando, e eu rio.

— Tá, eu posso te passar as minhas anotações? - pergunto, e Nico concorda sem muita importância. Eu esqueço que nenhum dos amigos de Treves não gostam de estudar.

— Na sua casa ou na minha? - ele pergunta depois de alguns segundos em silêncio.

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