Capítulo 9

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Hoje, depois da aula, fui direto para casa. Não que eu quisesse, mas todos no colégio estavam mais estranhos do que o normal. E por todos, refiro-me a Treves e Nicolas. Ainda estava tentando entender por que Nicolas quis me beijar. Seria mais uma de suas brincadeiras idiotas?

— Está aqui — digo, colocando uma latinha de cerveja e um prato de espaguete para Henry.

— Aonde está indo? — ele pergunta, olhando para o meu vestido.

Hoje era terça-feira, e como todas as terças, eu tinha culto na igreja. Era algo simples, para crianças, e você deve estar se perguntando por que eu iria. Desde os treze anos, sou responsável pelo culto das crianças. Eu leio a Bíblia, conto histórias animadas e faço mais algumas coisas.

— Vou para a igreja — respondo, baixando a cabeça. Espero que ele esteja de bom humor.

— E quem te deu permissão?

Eu precisava da permissão dele?

— Minha mãe me deixou ir — respondo simplesmente.

Ele me olha seriamente e depois volta sua atenção para a comida à sua frente.

...
— Irmã Dy, o que vamos fazer hoje? - Nil pergunta assim que me sentei.

Olhei para as crianças e pedi que fizessem uma roda. Eles concordam e formam o círculo perfeito.

A sala de leitura estava tranquila, as crianças formavam uma roda perfeita, seus olhinhos fixos em mim. Eu me acomodei no centro, cruzando as pernas e abrindo o livro de contos com um sorriso.

— Então crianças, vamos ler a história do lobo mau e da chapeuzinho vermelha - digo, e eles gritam animados.

— E quem seria o lobo mau? - escuto a voz rouca e provocante dele, e sem precisar olhar, sei que é Treves.

— Você não faz parte deste culto - digo, tentando manter a calma.

— O quê? - ele finge surpresa com um tom zombeteiro - Pelo que sei, as portas da Santa Paz estão sempre abertas.

— O nome da igreja não assim - o garotinho diz confuso.

Reviro os olhos e me levanto, indo em sua direção com passos firmes.

— Cai fora. Você está arruinando o nosso culto - sussurro, a raiva borbulhando dentro de mim.

Ele me puxa de repente, suas mãos fortes em volta da minha cintura. Empurro-o com toda a força, mas ele não se move, apenas sorri aquele sorriso maldito.

— Você não pode me expulsar, pastorinha — ele diz, e sinto suas mãos deslizarem, entrelaçando nossos dedos de uma forma íntima.

— Tire suas mãos de mim — murmuro entre os dentes, tentando tirar suas patas nojentas de cima dos meus.

— Que exemplo você está dando para essas crianças  — ele se abaixa na minha altura e sussurra no meu ouvido, sua voz  ardendo de ironia.

Olho para ele, incapaz de desviar o olhar. Por que ele tem que ser tão perigosamente lindo? Mesmo usando uma roupa simples, ele exala uma beleza que é quase injusta, enquanto eu me sinto diminuída, quase uma mendiga em comparação. Seus olhos escuros fixam nos meus por um momento, e então ele ri, balançando a cabeça.

— Você não tem nada pra fazer? — pergunto, minha voz tremendo com uma mistura de raiva e vergonha por ele ter me pego admirando ele.

— Eu prefiro estar com o meu brinquedinho — ele responde, soltando-me subitamente, seus olhos escuros fixos nos meus com uma intensidade que me faz engolir em seco.

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